Notícias

Esquistossomose ainda é problema de saúde pública nas cidades Schistosomiasis is still a public health problem in cities <

13/02/2013

esquistossomose-e-sintomas-8

As altas prevalências da esquistossomose coincidem com os baixos níveis socioeconômicos e de saneamento da nossa população

A esquistossomose é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a segunda doença de maior importância entre as parasitárias e infecciosas, logo abaixo da malária. No Brasil, os estados mais endêmicos são Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. No entanto, nas outras Unidades da Federação, a exemplo do Pará, Maranhão, São Paulo, Paraná, entre outras, há focos importantes em vários municípios que, segundo Dr. Naftale Katz, pesquisador emérito da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e perito da OMS merecem a preocupação das autoridades brasileiras. “As altas prevalências da esquistossomose coincidem com os baixos níveis socioeconômicos e de saneamento da nossa população”, reconhece o especialista.

O pesquisador da Fiocruz alerta que a esquistossomose merece atenção, seja pelo número de casos no mundo – mais de 200 milhões – seja pela morbidade que causa. Entretanto, Dr. Katz salienta que no Brasil, felizmente, temos apenas a esquistossomose mansoni, que acomete mais de 70 milhões de pessoas no mundo. Ele destaca que hoje em dia, com o uso do praziquantel, medicamento administrado em dose única por via oral, com poucos efeitos tóxicos e colaterais e de baixo custo, é possível de maneira eficiente controlar a morbidade da esquistossomose mansoni.

“A doença pode ser facilmente tratada após o diagnóstico”, pondera. O perito explica que nas áreas onde a prevalência é maior que 20%, admite-se o tratamento em massa, isto é, sem diagnóstico prévio das pessoas. “Já foram tratados mais de 60 milhões de pessoas com o prazinquantel no mundo, sem relato de nenhum caso fatal imputado ao medicamento”, aponta Dr. Katz.

Em sua opinião, o programa de controle da esquistossomose, iniciado no fim da década de 70 no Brasil, realizado no início pelo Ministério da Saúde (MS) e nos últimos anos pelos estados e municípios, tem favorecido queda acentuada do número de casos da forma hépato-esplênica. Todavia, para que seja possível o controle da transmissão, Dr. Katz defende que são necessárias medidas adicionais como saneamento básico – água potável nas casas e esgotos adequadamente instalados –, educação para a saúde, mudanças no meio ambiente e controle dos caramujos. “Experiências realizadas no nosso País demonstraram com clareza que a associação do tratamento com a instalação de água e eliminação de dejetos reduziram a prevalência significativamente”, constata.

A prevenção passa pelo saneamento

Embora o Governo Federal tenha ampliado o investimento em saneamento – cerca de R$ 10 bilhões – é necessário que um montante maior seja aplicado. Dr. Katz comenta que para assegurar saneamento a todos os municípios brasileiros seriam necessários em torno de R$ 300 bilhões de reais. “Com investimentos entre R$ 15 e R$ 20 bilhões por ano, em duas décadas, teríamos o País em condições boas de saneamento”, calcula.

A doença tem cura

A esquistossomose tem tratamento: o prazinquante. “No Brasil, a cura para os adultos encontra-se em torno de 75% a 85% e de 65% a 75% para crianças, quando se utilizam doses única oral de 50 mg/kg e 65 mg/kg respectivamente”, relata o especialista ao destacar que na África eles utilizam doses menores. Entretanto, uma vez contraída a doença a pessoa não fica imunizada e caso alguém já tratado e curado tenha novo contato com águas contaminadas pode se infectar novamente. “O adulto, ao contrário da criança, desenvolve certa imunidade dificultando re-infecção”, observou Dr. Katz ao completar que a imunidade absoluta ainda não foi demonstrada.

Vacina: futuro distante

O pesquisador emérito da Fiocruz adianta que já existem duas vacinas sendo testadas no ser humano: uma produzida no Senegal (África) e outra no Brasil. “Embora na África os experimentos clínicos com vacinação já tenham mais de cinco anos e os do Brasil mais de um ano, os dados publicados em revistas científicas são inexistentes, o que torna difícil uma avaliação clínica do estágio atual e futuro destes candidatos à vacina”, pondera Dr. Katz ao afirmar que o fato causou espanto aos pesquisadores brasileiros e estrangeiros presentes no Simpósio Internacional de Esquistossomose.

O especialista questiona não haver nenhuma apresentação científica sobre estas vacinas, especialmente porque, segundo ele, o Simpósio foi patrocinado e organizado por pesquisadores da Fiocruz e uma destas vacinas foi descoberta na Fundação e vem sendo ensaiada também por pesquisadora da mesma instituição. “Todavia, ainda estamos longe de poder fazer qualquer previsão de quando uma vacina para esquistossomose poderá ser colocada no calendário de vacinação da rede pública. Seguramente, não nos próximos 10 anos”, reflete.

Doença da pobreza

A esquistossomose é nitidamente uma doença causada por condições socioeconômicas adversas, associadas à falta adequada de instalações de água e eliminação de dejetos, permitindo às populações residentes em zonas endêmicas o contato direto com águas contaminadas por caramujos – hospedeiros intermediários desta verminose. “Portanto, no ciclo biológico da esquistossomose é o homem que contamina os caramujos, por meio dos ovos do Schistosoma mansoni que são eliminados pelas fezes, que vão posteriormente contaminar os homens via cercarias, que são eliminadas pelos caramujos infectados, quando em contato com as águas, seja para uso diário, lazer etc”, realça Dr. Katz.

Diagnóstico fácil e barato

A esquistossomose pode e vem sendo diagnosticada por meio do exame parasitológico das fezes, pelo método de Kato-Katz – que completou 40 anos de publicação no ano passado. “Ele é rápido, fácil de ser feito, barato e permite exame imediato após meia hora ou até após vários meses e anos. O Kato-Katz é qualitativo e quantitativo, o que permite ter uma ideia da intensidade da infecção”, explica o especialista ao antecipar que este método é o recomendado pela OMS.

O teste, que está disponível na rede do SUS, é produzido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) e distribuído pelo Ministério da Saúde a todos os estados da Federação. “Recentemente, com a queda significativa da prevalência, vem sendo procurado novos métodos diagnósticos mais sensíveis, seja por intermédio de antígenos circulantes ou do DNA do parasito nas fezes e urina do homem”, detalha Dr. Katz.

Esquistossomose

The high prevalence of schistosomiasis coincides with the low socioeconomic status and sanitation of our population

The high prevalence of schistosomiasis coincides with the low socioeconomic status and sanitation of our population

The World Health Organization (WHO) considers schistosomiasis the second most important disease among parasitic and infectious ones, after malaria. In Brazil, the most endemic states are Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia and Minas Gerais. However, in other Federal States, such as Pará, Maranhão, São Paulo, Paraná, among others, there are major outbreaks in several municipalities, according to Dr. Naftale Katz, emeritus researcher at the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) and WHO expert, which deserve the attention of the Brazilian authorities. “The high prevalence of schistosomiasis is associated with the low socioeconomic status and sanitation of our population”, recognizes the specialist.

The Fiocruz researcher warns that schistosomiasis deserves attention, both for the number of cases in the world – over 200 million – and for the morbidity it causes. However, Dr. Katz notes that in Brazil, fortunately, we only have mansoni schistosomiasis, which affects over 70 million people worldwide. He points out that currently, with the use of praziquantel, a drug administered in a single dose orally and with few side effects and low cost, it is possible to efficiently control the morbidity of schistosomiasis.

“The disease can be easily treated once diagnosed”, he adds. The expert explains that in areas where the prevalence is greater than 20%, mass treatment is allowed, i.e., without a previous diagnosis of people. “More than 60 million people in the world have been treated with praziquantel, without any reported fatal case attributed to the drug”, says Dr. Katz.

In his opinion, the schistosomiasis control program, which began in the late 1970s in Brazil, initially carried out by the Ministry of Health (MOH) and, in recent years, by states and municipalities, has sharply reduced the number of cases of the hepatosplenic-splenic form. However, in order to control the transmission, Dr. Katz argues that additional measures are needed such as basic sanitation – clean water in houses and properly installed sewers – health education, environmental changes and control of snails. “Experiments in our country have clearly shown that the association of treatment with the installation of water and waste disposal significantly reduces prevalence”, he notes.

Prevention through sanitation

Although the Federal Government has expanded investment in sanitation – about R$ 10 billion – a greater amount must be applied. Dr. Katz says that to ensure sanitation for all Brazilian municipalities would require around R$ 300 billion. “With investments between R$ 15 and R$ 20 billion per year, in two decades, the country would have good sanitation”, he calculates.

The disease is curable

Treatment for schistosomiasis exists: praziquantel. “In Brazil, the cure rate in adults is about 75% to 85% and it is 65% to 75% for children, with a single oral dose of 50 mg/kg and 65 mg/kg, respectively”, reports the expert while highlighting that in Africa they use lower doses. However, immunization is not permanent, i.e., if someone who has already been treated and cured comes into contact with contaminated water they can become infected again. “An adult, unlike a child, develops a certain immunity which hampers re-infection”, Dr. Katz notes while adding that absolute immunity has not yet been demonstrated.

Vaccine: the distant future

The emeritus researcher of Fiocruz says that there already are two vaccines being tested in humans: one produced in Senegal (Africa) and another in Brazil. “Although the clinical trials in Africa for a vaccination have been going on for more than five years and in Brazil for more than one year, data published in scientific journals are nonexistent, which means it is difficult to make a clinical evaluation of the current and future status of these potential vaccines”, ponders Dr. Katz stating that the fact astonished Brazilian and foreign researchers who attended the International Symposium on Schistosomiasis.

The specialist questions why there is no scientific presentation about these vaccines, especially because, according to him, the Symposium was sponsored and organized by researchers at Fiocruz and one of the vaccines was developed at and is being tested by a researcher from Fiocruz. “However, we are still far from being able to make any estimation of when a vaccine for schistosomiasis may be placed on the public vaccination schedule. Certainly not in the next 10 years”, he reflects.

Disease of poverty

Schistosomiasis is clearly a disease caused by adverse socioeconomic conditions, combined with a lack of adequate water facilities and waste disposal. Thus, the populations living in endemic areas are in direct contact with water contaminated by snails – intermediate hosts of the nematode parasites. “Therefore, in the life cycle of schistosomiasis, humans infect the snails with Schistosoma mansoni eggs that are excreted through feces. Subsequently, cercariae will be eliminated in the water by infected snails to contaminate humans”, notes Dr. Katz.

Easy and cheap diagnosis

Schistosomiasis can and has been diagnosed by parasitological examination of feces, using the Kato-Katz method. “It is quick, easy to carry out, inexpensive and allows immediate examination after half an hour or even after several months and years. The Kato-Katz is qualitative and quantitative, and gives an idea of ??the intensity of infection”, explains the expert who says that this method is recommended by WHO.

The test, which is available on the SUS network, is produced by the Institute of Technology in Immunobiologicals (Bio-Manguinhos) and distributed by the Health Ministry to all States. “Recently, with the significant decline in prevalence, more sensitive diagnostic methods are being sought, either through circulating antigens or DNA of the parasite in the feces and urine of man”, explains Dr. Katz.