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Nova onda de Covid na China acende alerta para o mundo, diz presidente da SBMT

Como o vírus não circulou na China e as coberturas vacinais são baixas, a população tem pouca imunidade, principalmente os idosos acima de 80 anos

09/01/2023

Em 2023 ainda será preciso garantir o acesso dos antivirais a todos os países, principalmente os da África, onde existe dificuldade de acesso às vacinas e medicações que são extremamente importantes

Uma nova onda de Covid-19 se alastra pela China e tem causado uma sobrecarga nos serviços funerários e de saúde. Depois de relatos da explosão de casos positivos, a China parou de publicar atualização com números diários. Um comunicado da Comissão Nacional de Saúde da China (NHC, na sigla em inglês), citado pelo jornal The Guardian, ressaltou que as informações relevantes sobre a Covid serão publicadas pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças para referência e investigação. Os motivos para a alteração da atualização não foram detalhados. A projeção China’s COVID-19 wave forecast to have two peaks where cases could reach 4.2 million a day realizada pela empresa de dados de saúde Airfinity mostra que quase 5 mil pessoas estão morrendo por dia no país.

Um estudo, ainda não revisado por pares, conduzido por pesquisadores de Hong Kong, intitulado Modelling the adjustment of COVID-19 response and exit from dynamic zero-COVID in China e uma pesquisa sobre o fim do programa “Covid zero na China”, publicado na revista Nature, intitulado China COVID wave could kill one million people, models predict preveem que os óbitos podem chegar a 9 mil por dia em março e as mortes podem chegar a um milhão de pessoas.

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Dr. Julio Croda, explica que a China foi de Covid zero a uma nova onda de infecções porque ela tinha um modelo muito eficiente de rastreamento de casos de contatos, utilizava tecnologia principalmente de GPS através de aplicativos móveis, QR Code e instituiu lockdowns específicos em cidades ou regiões a depender do número de casos. “Assim eles conseguiram, com estratégia bem efetiva, reduzir a transmissão, mas com custo econômico muito elevado, o que gerou protestos e, por isso, nas últimas semanas o país anunciou o fim da política de Covid zero. Quando não há busca de contatos e medidas associadas à sua diminuição, a transmissão ocorre de forma natural. É isso que tem ocorrido na China, como acontece em todo o local do mundo”, complementa. A China era o único país que ainda adotava uma política mais rígida, principalmente para o controle da transmissão do vírus.

O Dr. Croda destaca que a nova onda na china serve de alerta de que a infecção vai ocorrer se não tivermos vacinas eficazes para reduzir a transmissão. “É o que vemos nesse momento, em que as vacinas perderam parte da efetividade para a doença sintomática, mas continuam protegendo para hospitalização e óbito”, atenta. Ainda de acordo, isso era esperado, pois, sem medidas não farmacológicas, a tendência é que se dê a transmissão e, consequentemente, aumentem os casos”, acrescenta. Especialistas chineses alertam que o pior ainda está por vir. Uma segunda onda deve durar do final de janeiro a meados de fevereiro, desencadeada pelas viagens em massa antes do feriado do Ano Novo Lunar, que cai em 21 de janeiro. Já a terceira onda deve ocorrer entre o final de fevereiro e meados de março, quando as pessoas voltarem ao trabalho após o feriado de uma semana.

Apesar da circulação de uma nova variante (BQ.1), a escalada da Covid-19 na China, de acordo com o Dr.Croda, é uma questão de imunização da população, seja através da infecção ou da vacinação. No caso da China, como o vírus não circulou e as coberturas vacinais, principalmente da terceira dose, essencial no contexto da ômicron e suas subvariante, são baixos, a população tem pouca imunidade, principalmente os idosos acima de 80 anos, que não receberam a dose de reforço, e isso pode impactar nos serviços de saúde, principalmente na demanda por hospitalização, por exemplo, por leitos de enfermaria e Unidades de Terapia Intensiva (UTI). “O impacto na China é maior do que em qualquer outro local, apesar de sua repercussão se dar em diferentes partes do mundo, e ela vai depender da cobertura vacinal da população de cada região e da infecção prévia”, assinala o infectologista.

No Brasil, mais pessoas têm testado positivo para a Covid-19 nas últimas semanas. A nova onda da doença, que veio junto a duas novas subvariantes da ômicron, a XBB e a BQ.1, já causa impacto pelo mundo e começa a crescer no Brasil. O Dr. Croda chama a atenção para a nossa média móvel, que passa de 100 casos/dia e, segundo ele, os óbitos podem ser reduzidos com cobertura vacinal adequada e antiviral específico para Covid, cuja compra já foi efetivada pelo governo Federal, apesar de se tratar de um lote muito pequeno. Mas, infelizmente, ele não está disponível para amplo acesso da população nas Unidades Básicas de Saúde. O presidente da SBMT frisa que o Brasil precisa reforçar a importância de completar o ciclo vacinal. Ele lembra que uma cobertura elevada, principalmente da segunda dose de reforço, juntamente ao acesso rápido e precoce ao antiviral (principalmente para idosos e imunossuprimidos), assim que a doença for diagnosticada, seja pelo PCR ou pelo teste de antígeno, pode reduzir a letalidade da doença cortando seu impacto.

Ministério da Saúde recebe vacinas bivalentes

O Ministério da Saúde recebeu no final de dezembro o primeiro lote da vacina bivalentes contra Covid-19 da Pfizer. Ela protege contra a cepa original e contra as subvariantes ômicron BA.4/BA.5. A pasta negocia, ainda, a compra de mais 50 milhões de doses. Os imunizantes bivalentes da Pfizer foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 22 de novembro e são considerados de “segunda geração”. Eles foram elaborados para oferecer proteção extra contra a ômicron e suas subvariantes. A bivalente BA.1, protege contra a cepa original e também contra a subvariante ômicron BA.1; e a bivalente BA.4/BA.5, protege contra a cepa original e também contra as subvariantes ômicron BA.4/BA.5. De acordo com o cálculo realizado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), com base no LocalizaSUS, o Brasil necessita de 370 milhões de doses de imunizantes, 276 milhões a mais que o disponível.

Indagado se as vacinas já aplicadas protegem contra a nova variante, o Dr. Croda é categórico ao afirmar que sim, principalmente, contra hospitalizações e óbitos. “É muito importante que a população não fique no aguardo de uma nova vacina bivalente, atualizada. É fundamental que todos tenham o esquema vacinal em dia nesse momento, principalmente com o aumento da transmissão”, frisa. Uma vacina ministrada nos últimos seis meses garante uma proteção extremamente elevada para hospitalização e óbito.

Justiça da Flórida autoriza investigação de vacinas da Covid

Enquanto isso, a Corte Suprema da Flórida, nos Estados Unidos, a pedido do governador do estado, Ron DeSantis, autorizou que um júri investigue eventuais irregularidades relacionadas às vacinas contra a Covid-19. O governador declarou no documento enviado ao Judiciário que a apuração teria como objetivo trazer à tona mais informações sobre as companhias farmacêuticas, vacinas e efeitos secundários. Segundo ele, existe um aumento nos casos de miocardites e pericardites em pessoas que receberam a vacina da Pfizer e da Moderna. Além disso, o governador aponta que o Departamento de Saúde da Flórida realizou uma análise que teria encontrado um aumento na incidência relativa de mortes relacionadas com o coração em homens de 18 a 39 anos, 28 dias depois da vacinação com imunizantes que utilizam tecnologia de mRNA.

O Dr. Croda esclarece que a Flórida vai contra o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e a maioria dos artigos. “Novamente vemos o uso político, de um governo específico, como vimos no Brasil, quando o governo apoiou tratamentos ditos precoces com Cloroquina e Ivermectina e ao duvidar da eficácia da vacina. Podemos assegurar que elas são extremamente eficazes, inclusive a de mRNA, para prevenir hospitalização e óbito. Obviamente que com o surgimento de novas variantes, há uma perda de eficácia para proteção de doença sintomática, pois o vírus passa pelo processo de evolução para gerar escape na resposta imune a fim de que possa perpetuar entre as pessoas. Por isso, neste momento trabalhamos com vacinas atualizadas para que possamos garantir proteção à doença assintomática”, detalha.

Fim da emergência da Covid-19

Em tom esperançoso, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse em meados de dezembro que espera decretar o fim da emergência da Covid-19 este ano. Contudo, ele está muito preocupado com a evolução da doença na China, com relatos crescentes de doenças graves e informou que a OMS tem ajudado o país para concentrar seus esforços na vacinação de pessoas com maior risco, e que o apoio para atendimento clínico e proteção de seu sistema de saúde será mantido.

O Dr. Croda também se diz esperançoso que em 2023 seja declarado o fim da emergência, já que ela foi gerada pela falta de preparação para lidar com a nova doença, no que dizia respeito a equipamentos de proteção individual, leitos hospitalares, opções de vacinas e terapêuticas. “Apesar da Covid ainda ter impacto enorme em nossa sociedade, de matar duas vezes mais do que o vírus da gripe (Influenza), hoje sabemos como nos prevenir, temos a capacidade de atender pacientes em leitos de enfermaria e de terapia intensiva, temos vacinas disponíveis que reduzem a letalidade e temos medicamentos antivirais específicos que podem ser utilizados para reduzir ainda mais o risco de óbito. Ou seja, a realidade atual é bastante diferente”, reconhece o infectologista. Por fim, ele reforça que em 2023 ainda será preciso garantir o acesso à vacina e antivirais a todos os países, principalmente os da África, onde existe dificuldade de acesso às vacinas e medicações que são extremamente importantes.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**