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Oropouche: estudo sugere transmissão intrauterina e acende alerta para os perigos da doença

Especialistas debatem o assunto durante o 59° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

30/09/2024

 

O vírus da Oropouche leva esse nome devido ao local onde foi identificado, em referência a um rio de Trinidad e Tobago. No Brasil, ele foi identificado em 1960, em Belém, no Pará, a partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça. De então, vários casos e surtos foram relatados, principalmente na região amazônica, considerada endêmica. O tema foi abordado no segundo dia do 59° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2024) durante uma mesa redonda composta por especialistas que estudam e trabalham com a doença.

A médica Socorro Azevedo, doutora em virologia pelo Programa de Pós-graduação em Virologia do Instituto Evandro Chagas, falou sobre um estudo que investiga o comprometimento do sistema nervoso central em pessoas acometidas pela doença. “Foram analisadas amostras de soro e líquor coletadas para investigação de arboviroses, com resultados negativos para dengue, chikungunya, zika e vírus do Nilo Ocidental. Foi detectada a presença de anticorpos contra o vírus da febre do Oropouche em quatro recém-nascidos com microcefalia. “Isso pode ser uma evidência de que ocorre transmissão vertical do vírus”, disse a médica.

No mês passado, a investigação laboratorial de um caso de óbito fetal com 30 semanas de gestação identificou material genético do vírus da febre do Oropouche em sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos fetais, incluindo tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço. “Acreditamos ser importante acompanhar mães com sintomas da doença, assim como fazemos com quem tem Zika”, afirmou Socorro.

Perigo iminente

O vírus Oropouche pode causar febre súbita, dor de cabeça, dores musculares e articulares, tonturas, náuseas e vômitos. Os casos aumentaram desde o final de 2022, e o Brasil tem sido o país mais atingido, com 7.044 casos confirmados em 2024, mais de oito vezes o número registrado em todo o ano de 2023. A maioria dos casos é leve, mas pode causar danos neurológicos em alguns pacientes. O virologista Felipe Naveca, da Fundação Oswaldo Cruz, que participou da mesa redonda durante o MEDTROP, disse que esperava ver complicações decorrentes do vírus à medida que os casos aumentassem e os testes se tornassem mais difundidos.

Transmissão

O vírus é transmitido principalmente por meio do vetor Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. No ciclo silvestre, bichos-preguiça e primatas não-humanos (e possivelmente aves silvestres e roedores) atuam como hospedeiros. Nas áreas urbanas, os humanos são os principais hospedeiros. Nesse cenário, o mosquito Culex quinquefasciatus, o pernilongo, pode ser o transmissor do vírus.

O fato de os sintomas do Oropouche serem bem parecidos com os da dengue dificulta o diagnóstico. Por isso, dizem os especialistas, é importante realizar exames e acompanhar a evolução dos pacientes. Vale  lembrar que não há tratamento específico para a febre do Oropouche, tampouco vacina. Portanto, é fundamental prevenir-se, evitando o contato com áreas de ocorrência, usando repelentes, limpando terrenos de criação de animais e instalando telas nas janelas, quando possível.

 

 

 

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**