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Pandemic Response Box: Resposta a uma possível emergência médica global

Pesquisadores terão acesso gratuito a 400 moléculas similares a fármacos ativos contra doenças negligenciadas. Descoberta de novos tratamentos para pandemias deve ser acelerada

12/03/2019
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A Pandemic Response Box é uma coleção de compostos antibacterianos, antivirais e antifúngicos estruturalmente diversos, selecionados por especialistas para serem testados contra doenças infecciosas emergentes

A Medicines for Malaria Venture (MMV) e a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) lançaram a Pandemic Response Box (Caixa de Reação a Pandemias, em tradução livre), um entre vários projetos científicos de livre acesso, desenvolvidos que estimulam a colaboração e a transparência na pesquisa para o desenvolvimento de medicamentos. Na prática, isso significa que os pesquisadores do mundo inteiro poderão ter acesso aos compostos sem encargos e sem nenhum tipo de restrição de propriedade intelectual. “O objetivo é diminuir o tempo entre o surgimento de uma nova pandemia e a disponibilidade de novos medicamentos para tratá-la. Como contrapartida ao recebimento gratuito das moléculas farmacêuticas, pesquisadores ao redor do mundo se comprometem a tornar públicos os resultados dos testes e a publicá-los em revistas científicas de acesso livre em até dois anos contados da produção dos dados. No caso de resultados promissores, MMV e a DNDi podem dar orientação, apoio e uma quantidade adicional de compostos para ajudar à continuidade da pesquisa”, explica o Discovery Manager da DNDi, Jadel Müller Kratz.

A Pandemic Response Box é uma coleção de compostos antibacterianos, antivirais e antifúngicos estruturalmente diversos, selecionados por especialistas para serem testados contra agentes causadores de doenças infecciosas emergentes e pandemias. Os compostos se encontram em diversas fases de pesquisa e desenvolvimento farmacêutico. “A distribuição prevê uma seleção mínima para definir quais grupos de pesquisas terão acesso ao box, e deve levar em conta o número total de solicitações e a qualidade dos projetos submetidos”, assinala Kratz. Ainda segundo ele, a ideia é focar em novas doenças infecciosas ou doenças infecciosas emergentes. “Como esses compostos já possuem um perfil biológico mapeado, o interesse geral do projeto é que se teste contra doenças novas ou naquelas em que estes compostos não foram testados (por exemplo, zika, chikungunya, dengue, Ebola, doenças bacterianas com resistência identificada, micetoma, entre outras) para que possam ser gerados dados abertos de interesse à comunidade.

Além dos dados in vitro, alguns desses compostos também já possuem prova de conceito em modelos animais para algumas doenças, dados pré-clínicos gerados e/ou até mesmo de etapas clínicas. Ou seja, parte da cadeia necessária para o desenvolvimento de medicamentos, independente da indicação terapêutica, já foi realizada, o que acelera o processo. “Muitas das novas infecções ainda não têm modelos disponíveis para se testar novos compostos nas etapas inicias de descoberta, assim, ao passo que novas epidemias surjam e que grupos de pesquisas desenvolvam e validem modelos para triagem de compostos, essa etapa, que muitas vezes é um gargalo, já estará disponível através do Pandemic Response Box, contando com um acervo de compostos bastante completo, com diversidade química, com modo de ação e de alvos que podem servir como pontos iniciais de trabalho para um processo de otimização de compostos, tomada de decisão e progressão até um candidato”, destaca Kratz.

Desde o início do século XXI, o mundo tem enfrentado múltiplas epidemias, tanto antigas quanto novas, provocadas por vírus e bactérias. Algumas delas alcançaram proporções de pandemia. O surto do vírus do zika nas Américas em 2015-2016, por exemplo, demonstrou como uma doença relativamente obscura transmitida por mosquito pode se tornar uma emergência médica global. A Pandemic Response Box foi concebida como uma resposta à necessidade de nos preparamos para uma futura emergência médica global. O surgimento e a propagação de agentes patogênicos resistentes a medicamentos aumentaram a frequência e a gravidade de epidemias, constituindo uma ameaça significativa para a população mundial. Especialistas estimam, por exemplo, que o número de mortes ligadas a microrganismos resistentes a medicamentos chegará a 10 milhões por ano até 2050.

Ciência de acesso aberto

A ciência aberta é crucial para mobilizar o potencial de descoberta de novos medicamentos e aproveitar o conhecimento existente para lançar novas iniciativas de pesquisa. A Pandemic Response Box, por exemplo, vai permitir que pesquisadores tenham acesso gratuito a 400 compostos, o que deve acelerar a descoberta de novos tratamentos para pandemias letais. Entretanto, a produção da ciência e a obtenção do conhecimento implicam em um elevado custo. Para Kratz, a relação entre ciência aberta e a redução dos custos de desenvolvimento de medicamentos requer uma análise ampla, uma vez que esse é um dos componentes centrais de todo um sistema científico que hoje muito se baseia nas publicações e nas revisões por pares. “Uma vez que a pesquisa é financiada com investimentos públicos, em especial no caso das doenças negligenciadas, é fundamental que todo o conhecimento gerado por ela seja disponibilizado à comunidade, o mais rápido possível, aumentando as chances de que essa inovação chegue à sociedade, aos pacientes e que realmente tenha impacto na vida das pessoas”, enfatiza.

Kratz é enfático ao afirmar que em um cenário onde os recursos são restritos, como ocorre com as doenças tropicais negligenciadas, ou doenças infecciosas emergentes ou reemergentes, se faz necessário que a informação e o conhecimento gerado, como no caso do Pandemic Response Box, em que todos os dados vão estar disponíveis de forma aberta à comunidade científica, possam contribuir na busca de novas estratégias, na tomada de decisões, por exemplo, sobre qual composto realmente pode se tornar o medicamento. Além disso, essa abertura dos dados pode ajudar a evitar duplicação de resultados, e também evitar que resultados de pesquisas acabem em gavetas e a otimizar o tempo de publicação de estudos, que hoje demandam muito tempo (até dois anos) para serem publicados, mesmo nas revistas onde se paga para ter acesso. “Fatores como estes podem atrasar o desenvolvimento de um novo medicamento”, justifica.

“Em um cenário com redução de investimentos para tratar doenças tropicais negligenciadas é fundamental que a comunidade científica levante sua bandeira e cobre investimentos robustos para continuidade de pesquisas, bem como para novas iniciativas, a exemplo da Pandemic Response Box. Além disso, é preciso estimular que esses dados sejam efetivamente distribuídos, compartilhados e que guiem as tomadas de decisões e os novos projetos de pesquisas para que se chegue o mais rápido a um medicamento que seja realmente acessível, seguro, eficaz e que preencha as necessidades dos pacientes”, defende Kratz.

Por fim, o gerente de P&D lembra que a natureza aberta do Pandemic Response Box está alinhada com um movimento global forte que prevê a expansão do acesso livre a informação científica, evitando o pagamento pela informação, em especial quando há financiamento público aplicado, e muito relevante no caso das doenças infecciosas emergentes e das doenças tropicais negligenciadas. A inovação de livre acesso está transformando a descoberta de fármacos. O acesso aberto é o futuro para a ciência porque representa o modo como a ciência evolui, de forma rápida, acessível e com bom custo-benefício. O acesso aberto permite, ainda, que outros setores, como a indústria, o mercado e os próprios governos tenham acesso à informação científica que pode auxiliar em novas políticas públicas e tecnologias.

Para obter mais informações, visite a página da Pandemic Response Box.