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Pernilongo pode ser um perigo para os brasileiros

Pesquisa feita pela Fiocruz detecta presença do vírus Zika em mosquitos do gênero Culex

15/08/2016
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Pernilongo possui a mesma capacidade de infectar que o Aedes aegypti e sua população é vinte vezes maior do que a do Aedes

O pernilongo ou a muriçoca, como é popularmente conhecido o mosquito Culex, pode trazer mais riscos à saúde dos brasileiros do que se imaginava. Isso porque uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-PE) concluiu que o inseto também pode ser vetor do vírus Zika e possui relevante capacidade vetorial, com a mesma capacidade de infectar que o Aedes aegypti.

Cerca de 500 pernilongos foram coletados em Recife e Arcoverde, cidades de Pernambuco, onde a Secretaria de Saúde do Estado (SES-PE) registrou casos de zika. Os testes, coordenados pela pesquisadora Constância Ayres, do Departamento de Entomologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz (PE), detectaram a presença do vírus em alguns dos insetos.

De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Pesquisador em Saúde Pública e Diretor do CPqAM/Fiocruz, Dr. Sinval Pinto Brandão Filho, as arboviroses, transmitidas por mosquitos, estão direta e indiretamente associadas às condições inadequadas ou precárias de saneamento básico. “Nosso grupo de Pesquisa em Entomologia médica, liderado pela colega Constância Ayres, comprovou que o Culex quinquefaciatus também transmite o vírus zika, tanto através de infecção experimental, como pelo encontro da infecção natural pelo vírus em espécimes coletadas no campo em áreas de Recife onde foram registrados casos comprovados de Zika”, explicou.

A epidemia do vírus no Brasil e a sua ligação com a microcefalia serviram de motivação para a pesquisa. Segundo os últimos dados divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registradas no País 66.180 ocorrências de febre causada pelo Zika de janeiro a junho deste ano. No mesmo período, uma morte foi confirmada no Rio de Janeiro e 5.925 grávidas foram infectadas. Além disso, entre 8 de novembro de 2015 e 23 de julho deste ano, exames laboratoriais detectaram a presença do vírus em 272 dos 1.749 casos de microcefalia apontados.

A pesquisa feita pela Fiocruz mostra que a população do pernilongo é vinte vezes maior do que a do Aedes aegypti. No entanto, o potencial de disseminação do zika pelo mosquito Culex ainda está sendo avaliado pela instituição em estudos em andamento sobre a capacidade vetorial.

Os estudos são inéditos e podem contribuir para outros mecanismos de controle da doença. Com os novos indícios, as medidas de precaução podem mudar, já que atualmente estão focadas no combate ao mosquito da dengue. Dr. Sinval lembra que essa confirmação de que o pernilongo também pode transmitir as doenças do Aedes significa que a dimensão do controle passa ser bem mais complexa, pois as medidas adotadas para o A. aegypti devem ser mantidas, mas também ampliadas e redirecionadas para o controle de Culex, que ao contrário do Aedes, prefere a água suja, ou seja, mais do que nunca se impõe a implementação imediata de ações de saneamento básico nas várias regiões do País.