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Picadas de cobras é doença mortal

Estudo alerta para necessidade de mais atenção para o problema por parte dos governos e das autoridades internacionais

13/11/2015
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No caso de envenenamento por picadas de cobras, que tem índices mais alarmantes, não há evidências de qualquer montante previsto para o controle desse fator

A África Ocidental é comumente afetada por diversos vírus considerados letais, como o HIV e o Ebola. Outros males típicos de nações tropicais também são preocupantes, como a leishmaniose e a tripanossomíase. No entanto, uma epidemia local chama a atenção por ser tão ou mais perigosa: o envenenamento por picadas de cobra.

O problema afeta uma boa parte do continente africano e, na região subsaariana, mais de 7 mil pessoas morrem anualmente devido a esse fator. Além disso, as picadas de cobras venenosas levam a cerca de 5 mil amputações por ano e respondem por até 10% da ocupação dos leitos hospitalares de alguns países. Para efeito de comparação, o recente surto de Ebola na região matou cerca de 11 mil pessoas.

O prejuízo que tais dados representam foi demonstrado em um estudo conduzido pelo doutor Habib Abdulrazaq. Para isso, calculou-se o número de anos perdidos devido à incapacidade ou morte gerada pelas picadas de serpente. A pesquisa revelou que cerca de 320 mil anos são perdidos anualmente na África Ocidental por esse motivo. O resultado excede até mesmo estimativas de outros males comuns nos países tropicais, como a febre amarela.

Segundo os autores do trabalho, a importância do tema para a saúde pública no âmbito global é geralmente negligenciado e subestimado. “O envenenamento por picada de cobra não está entre as 17 principais doenças tropicais negligenciadas da Organização Mundial de Saúde (OMS), embora seja mencionado entre as ‘outras condições negligenciadas’. No entanto, não há nenhum programa oficial da OMS para a sua prevenção ou tratamento”, afirmam.

A disparidade também é perceptível em um levantamento que avaliou o financiamento dos 43 principais doadores (entre eles países industrializados e empresas farmacêuticas) para o desenvolvimento da saúde no mundo. Para cada ano de vida perdido devido a infecções intestinais por nematóides, por exemplo, são investidos cerca de US$ 3,30. Já no caso de envenenamento por picadas de cobras, que tem índices mais alarmantes, não há evidências de qualquer montante previsto para o controle desse fator.

“Apesar da elevada incidência de picadas de cobra nesta região, o financiamento dos governos para a prevenção ou tratamento desse fator é geralmente limitado”, dizem os autores da pesquisa. Para eles, é preciso que haja esforços e financiamentos compatíveis à realidade que o problema exige.

O trabalho teve como base uma análise da literatura médica produzida na África Ocidental, dividindo os casos das áreas rural (onde ocorre 95% dos casos) e urbana.