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Programas de prevenção de acidentes no trânsito precisam ser revistos, diz especialista Traffic accident prevention programs need revision, says expert

Acidentes de trânsito geram custos de R$ 36 bilhões anuais e danos sociais e psicológicos muitas vezes irreparáveisTraffic accidents cost R$36 billion (USD 14.4 billion) annually and cause social and psychological damages, many times irreversibly

12/11/2014

Brasil

Brasil é o segundo país das Américas com a maior taxa de mortalidade envolvendo motociclistas: 2,9 mortos para cada 100 mil habitantes

O Brasil está entre os países com maior número de acidentes envolvendo motocicletas, especialmente nas regiões mais pobres – Norte e Nordeste. A questão é grave e pode ser descrita como uma epidemia: mais da metade das 169,8 mil internações no ano passado devido a acidentes de trânsito abrange motocicletas. As 88,8 mil pessoas internadas em 2013 por esse motivo geraram gastos de R$ 114,2 milhões aos cofres públicos. Um dos grandes desafios nos Trópicos, especialmente na América Latina, África, Sul e Sudoeste Asiáticos, é a falta de pesquisas sobre como ocorrem. Desconhecemos os acidentes e quais são as circunstâncias mais frequentes. É preciso entender esse fenômeno e, como eles são mais comuns nos Trópicos, o tema também está na pauta da Medicina Tropical.

Segundo o estudo “Tendências de Ferimentos Fatais nas Américas 1998-2010”, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o segundo país das Américas com a maior taxa de mortalidade envolvendo motociclistas (2,9 mortos para cada 100 mil habitantes), ficando atrás apenas da Colômbia (3,6 por 100 mil). Para o doutor em Saúde Pública, Paul Nobre , essas taxas altas sugerem que os programas brasileiros de redução de acidentes viários – que existem no País há quase 40 anos – não estão indo na direção correta. Para uma nação onde há mais de 20 milhões de motocicletas, sendo a maioria utilizada pela população mais pobre, é urgente ao País debater o tema para amenizar os prejuízos econômicos e sociais.

Os programas de Segurança de Trânsito existem no Brasil desde 1978, sendo reeditados periodicamente. Atualmente, vige o Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária para a década 2011-2020, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Paul – que é graduado em engenharia mecânica e mestre em transportes, esses programas baseiam-se no modelo homem-veículo-via, pressupondo que normas e regulamentos são suficientes, isto pode resultar em responsabilizar apenas a vítima pelo evento danoso, reduzem as ações a tarefas pontuais de caráter emergencial que não modificam a estrutura da teia de causalidade. Impedem o conhecimento das informações recebidas no seu contexto geográfico, cultural social e histórico ignorando os sentimentos da humanidade e da vida. O especialista alerta que o formato atual desses programas favorece aos acidentes de moto.

Na defesa da tese sobre acidentes de trânsito envolvendo motociclistas , o especialista recomenda ações para mudar o quadro atual de aumento constante de acidentes no trânsito. Entre eles, está rever o processo do uso do solo para o deslocamento urbano, favorecendo não apenas os que estão em automóveis. “É preciso transformar o ambiente de trânsito em espaço de cidadania, com calçadas, faixas de pedestres, semáforos, passarelas, informações, entre outros. Afinal, existem outros atores além dos carros”, diz. Outra sugestão é redefinir programas educacionais, não só em escolas de habilitação para o trânsito, que devem estar voltados para a cooperação em detrimento da competitividade. “Precisa-se de uma educação crítica que não se limite apenas a apregoar comportamentos, mas transforme o ambiente existente. Sem uma ampliação conceitual da análise dos acidentes, uma revisão dos paradigmas atuais e o emprego de novas ferramentas tais como a visão sistêmica e o pensamento complexo, talvez continuemos a contar o aumento dos nossos mortos”, alerta.

A revisão das normas de segurança viária mostra-se ainda mais urgente ao analisar os dados de acidentes. No Brasil, em 2011, dois terços das vítimas no trânsito foram pedestres, ciclistas e/ou motociclistas. Segundo estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) feitos em 2003 e 2006, atualizados para 2011, as perdas em acidentes de trânsito associadas às vítimas fatais, à interrupção das atividades do cidadão e aos cuidados médicos somam de cerca de R$ 36 bilhões por ano. Porém, quando se trata de seres humanos, não é possível mensurar concretamente os prejuízos.

Brasil

Brazil is second place in the Americas among those with greater motorcyclist mortality: 2.9 deaths for every 100 thousand inhabitants

Brazil is among the counties with greater number of accidents involving motorcycles, especially in the poorest regions – North and Northeast. The subject is extremely relevant and could be described as an epidemic: over half of the 169.8 thousand traffic accidents hospitalizations from last year involved motorcycles. The 88.8 thousand people hospitalized for this reason demanded R$ 114.2 million (USD 45 million) from the public coffers. One of the great challenges for the Tropics, especially for Latin America, Africa and South and Southwest Asia, is the lack of research on how they happen. The accidents and the most frequent circumstances they happen are unknown. Understanding this phenomenon is important and, since they are more common in the Tropics, the theme is also in the Tropical Medicine agenda.

According to the study “Trends in fatal motorcycle injuries in the Americas, 1998–2010”, by the Pan American Health Organization (PAHO), Brazil is second place in the Americas among those with greater motorcyclist mortality (2.9 deaths per 100 thousand inhabitants), only behind Colombia (3.6 per 100 thousand). For the Public Health PhD Paul Nobre, these high rates suggest the Brazilian programs for traffic accident reduction – which exist for almost 40 years – are not efficient. For a nation with over 20 million motorcycles, most of these being used by the poorest population, it is urgent for the country to debate the theme and ease the social and financial losses.

The Traffic Safety programs exist in Brazil since 1978, being periodically reedited. Currently, the National Plan for Traffic Accident Reduction and Road Safety is in use for the 2011-2020 decade, proposed by the United Nations (UN). According to Paulo – Mechanical Engineering graduate and Master in Transports – these programs are based in a man-vehicle-road model, supposing the rules and regulations are enough, and this could lead to charging only the victim for the accident, reducing the actions to punctual tasks of emergency nature which do not modify the structure of the causality web. They prevent the knowledge of the provided information in their geographic, cultural, social and historical contexts ignoring humanity and life’s feelings. The expert alerts these programs’ current format favors motorcycle accidents.

In his thesis defense, the expert recommends some actions to change the current picture of increasing traffic accidents. Among them, is to review the use of ground for urban displacement, favoring not only those inside vehicles. “The traffic environment must be transformed into citizenship environments, with sidewalks, crosswalks, traffic lights, footbridges, information and others. After all, there are other actors besides cars”, says. Another suggestion is to redefine educational programs, not only in driving schools, which must be directed to cooperation rather than competition. “We need a critical education that is not limited to repeat behaviors, but to transform the existing environment. Without a conceptual increase of the accidents analysis, a revision of the current paradigms and the use of new tools such as systemic vision or complex thinking, we might continue to count our dead”, alerts.

The revision of road safety rules is even more urgent when analyzing the accident data. In Brazil, in 2011, 2/3 of the traffic victims were pedestrians, cyclists or motorcyclists. According to a study by the Applied Economic Research Institute (IPEA) between 2003 and 2006, updated to 2011, the losses in traffic accidents associated to the fatal victims, the interruption of the citizen’s activities and the health care together sum to around R$ 36 billion (USD 14.4 billion) per year. However, when we are dealing with human lives, we cannot specifically measure the losses.