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Detecção rápida e precisa do coronavírus é crucial no controle da epidemia

Estudo demonstrou que o Covid-19 foi detectado na saliva auto-coletada em 11 dos 12 pacientes pesquisados

11/03/2020
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A saliva é uma amostra não invasiva promissora para diagnóstico, monitoramento e controle de infecção em pacientes com Covid-19

Até o momento, o vírus conhecido como Covid-19, anteriormente chamado de novo coronavírus chinês, já levou ao óbito mais de 5.800 e infectou mais de 155 mil pessoas. Também cerca de 72 mil pacientes se recuperaram após contraírem a infecção, de acordo com o mapa interativo da Johns Hopkins University. A detecção rápida e precisa é crucial no controle do surto na população e nos hospitais. Um estudo publicado no Jornal da Oxford, intitulado Consistent Detection of 2019 Novel Coronavirus in Saliva, relata que o vírus vivo foi detectado na saliva por cultura viral em 11 dos 12 pacientes com a nova infecção por coronavírus. A saliva é uma amostra não invasiva promissora para diagnóstico, monitoramento e controle da infecção em pacientes com Covid-19.

O Professor Clínico Associado do Departamento de Microbiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong (HKU), Dr. Kelvin Kai-Wang To, um dos autores da pesquisa, explica que atualmente, o aspirado nasofaríngeo ou o cotonete nasofaríngeo são o tipo de amostra ideal para a detecção de vírus respiratórios. No entanto, a coleta de amostras nasofaríngeas é um procedimento desconfortável para o paciente e também é um risco para os profissionais de saúde. “Nos últimos anos, nós e outros descobrimos que existe alta correlação entre amostras de saliva e nasofaríngea na detecção de vírus respiratórios. Portanto, durante a atual nova epidemia de coronavírus, optamos por usar a saliva para monitoramento em série, a fim de reduzir o desconforto do paciente e o risco de infecção dos profissionais de saúde. Descobrimos que a saliva foi detectada em 11 dos 12 pacientes com a nova infecção por coronavírus. Também mostramos que a saliva pode ser usada para monitoramento em série de pacientes com a nova infecção por coronavírus”, destaca. No entanto, os dados sobre o uso da saliva para o diagnóstico do novo coronavírus são preliminares e devem ser interpretados com cautela.

A pesquisa testou a saliva de 12 pacientes em Hong Kong com confirmação de infecção pelo Covid-19 (via RT-qPCR e cultura viral), com base em critérios clínicos e epidemiológicos, conforme descrito pelo Centro de Proteção à Saúde de Hong Kong. O Covid-19 foi detectado na saliva auto-coletada de 91,7% (11/12) dos pacientes. O monitoramento da carga viral da saliva serial mostrou uma tendência decrescente. As culturas virais foram positivas em três pacientes e negativas em 2 pacientes. Como as amostras de saliva podem ser fornecidas facilmente e não são necessários procedimentos invasivos, a coleta de saliva pode minimizar bastante a chance de expor os profissionais de saúde ao Covid-19.

Novo exame com saliva revela presença do Covid-19 em 15 minutos

Um novo exame com tecnologia israelense desenvolvido pelo Dr. Amos Danielli, da Universidade Bar-Ilan, revela a presença do coronavirus em 15 minutos. O método, que utiliza o material genético da saliva dos pacientes, consiste em detectar sequências de RNA específicas do vírus e anexar o seu RNA a uma molécula fluorescente que emite luz quando iluminada por um raio laser. Entretanto, concentrações muito baixas de RNA no material genético do paciente podem emitir sinal tão baixo que os dispositivos existentes simplesmente não o captam, mesmo que a amostra esteja infectada. O diagnóstico atual leva cerca de uma hora. O novo método teve sua eficácia comprovada na identificação do Zika vírus e é utilizado no laboratório central de virologia do Ministério da Saúde de Israel.

Aplicativo usa saliva e smartphone para detectar Covid-19

Engenheiros da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, desenvolveram um mini laboratório portátil que pode ser conectado ao smartphone e diagnosticar doenças infecciosas, como o coronavírus. Uma gota de sangue ou saliva depositada no chip próprio do dispositivo já é o suficiente para que o diagnóstico seja realizado. O paciente deve colocar o chip em sua boca e depois conectá-lo no slot personalizado. O dispositivo, então, transmite automaticamente os resultados ao médico por meio de um aplicativo. O chip utiliza uma tecnologia que observa a tendência de um líquido aderir à superfície para extrair uma amostra de dois canais. Enquanto um canal mistura a amostra com anticorpos de detecção liofilizados, o outro contém um material luminescente liofilizado para ler os resultados quando as amostras divididas se combinarem novamente em três sensores. Além do coronavírus, é possível identificar HIV, malária e outras doenças.

Cedo para prever fim da epidemia

Para o Dr. Kelvin Kai-Wang To, uma vacina eficaz é muito importante para o novo coronavírus por alguns motivos. Primeiro, o novo coronavírus pode causar doenças graves, especialmente entre idosos e pessoas com doenças crônicas. Segundo, esse novo vírus se espalha muito rapidamente e pode ser difícil de erradicar. Existe a possibilidade de esse vírus continuar circulando por um longo tempo. Uma vacina eficaz reduzirá o ônus da infecção nos estabelecimentos de saúde. Terceiro, a eficácia do tratamento antiviral é incerta neste momento. A maioria dos tratamentos sendo estudados tem efeitos colaterais.

Entre as principais ameaças em relação ao Covid-19, o Dr. Kelvin Kai-Wang To ressalta que o vírus pode continuar a circular e se espalhar para outros lugares. “É particularmente preocupante caso ele se espalhe para locais onde o atendimento médico é subótimo. Além disso,, o surto levou a um aumento repentino na demanda de máscaras cirúrgicas e outros equipamentos de proteção individual, e atualmente existe uma escassez de máscaras em todo o mundo. Por fim, o novo vírus também é uma ameaça para as atividades econômicas e sociais. Como observado na China continental e em Hong Kong, ele já causou graves perturbações em muitas atividades econômicas e sociais”, complementa.

Ainda segundo o professor da Universidade de Hong Kong, o principal desafio do Covid-19 está em identificar tratamentos e vacinas eficazes. “Esta tarefa pode não ser fácil. Por exemplo, apesar de muitos anos de pesquisa, ainda existem muito poucos antivirais e vacinas para o tratamento de infecções por vírus respiratórios. Além disso, durante a epidemia, existem muitas incertezas. Há pânico e medo entre a população. É muito difícil de prever o que podemos esperar em relação ao Covid-19 nas próximas semanas e meses. “Esperamos que, com medidas rigorosas de controle, a epidemia possa ser controlada”, conclui.

Preparação do Brasil para Covid-19

O diretor de Imunização e Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Dr. Julio Croda, destaca que a doença pelo novo coronavirus (Covid-19) suscita um grande desafio em termos de saúde pública. “A preparação do Brasil para a chegada desse novo vírus tem sido exemplar e mostra a importante do Sistema Único de Saúde (SUS) em todas as suas esferas na respostas a emergências em saúde pública. O Brasil, em janeiro de 2020, ativou o Centro de Operação em Emergência que através de um comando único vem orientando serviços e profissionais de saúde através dos boletins epidemiológicos, pops, manual de tratamento para o novo coronavirus e coletivas de imprensas diariamente”, enfatiza. Ainda segundo o Dr. Croda, vale ressaltar a transparência que o Ministério da Saúde vem demonstrando junto aos órgãos de imprensa nas coletivas, entrevistas e plataforma de informação (www.plataformasaude.com.br), atualizada diariamente com o numero de suspeitos e confirmados do mundo e do Brasil.

Além disso, foi elaborado um plano de contingência e a pasta auxilia os 27 estados na organização da Rede de Atenção à saúde e na elaboração dos respectivos planos de contingências, bem como realiza o treinamento junto a Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) para os três laboratórios de referência para a realização do teste de RT-PCR para o SARS-CoV2. “Atualmente o tempo médio para diagnóstico especifico está em torno de três dias e os casos suspeitos estão sendo descartados ou confirmados rapidamente. Entramos na fase 3. Estados e municípios estão preparando os seus serviços de atenção primaria e especializada para reduzir a transmissão local e no futuro prestar uma assistência adequada aos quadros mais graves e mitigar o número de óbitos”, finaliza o diretor de Imunização e Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Riscos Covid-19 em viagens

A cidade de Wuhan é a maior cidade (11 milhões) da China central, reúne características que contribuíram para a importante transmissão local de Covid-19, dispõe importante centro de transporte e centro de indústria e comércio, abriga a maior estação ferroviária, o maior aeroporto e o maior porto do centro da China. Cerca de 30.000 passageiros voam diariamente de Wuhan para destinos em todo o mundo, em 2018, mais de 24,5 milhões de passageiros passaram pelo aeroporto de Wuhan.

A Médica Infectologista, Dra. Tânia Chaves, membro da da Comissão de Vacinas para Viajantes da Sociedad Latinoamericana de Medicina del Viajero (SLAMVI), lembra que os patógenos emergentes e reemergentes representam importante desafio para saúde pública mundial, a facilidade do deslocamento humano, o tamanho e o alcance da malha aérea internacional de viagens contribuem sobremaneira para a dispersão rápida de novos e antigos patógenos. Os viajantes são considerados população sentinela para a introdução e a reintrodução de patógenos emergentes e reemergentes com potencial capacidade de rápida disseminação em todo o mundo.

Diante da atual epidemia de Covid-19 na China, e já observada transmissão local em outros países, a SLAMVI considera a situação de elevado risco para aquisição da doença em viajantes que destinam para as áreas com transmissão local. Em recente publicação de expertises da SLAMVI, recomenda que as viagens que não sejam essenciais devam ser evitadas para China e para os países afetados (com transmissão local definida) que com a mudança anunciada de critério para casos suspeitos, inclui agora, também pessoas provenientes de países como; Japão, Coreia do Sul e Norte, Cingapura, Vietnã, Tailândia e Camboja, além da China que já estava no alerta, entre outras medidas como:

  • Evitar visitas a mercados públicos, especialmente aqueles em que os animais vivos e mortos são comercializados e consumidos. Evitar o consumo de produtos de origem animal cru ou mal cozido, como leite.
  • Evitar manusear órgãos de animais para evitar a contaminação cruzada com alimentos crus.
  • Estar atento às boas práticas de segurança alimentar.
  • Evitar grandes concentrações de pessoas em espaços públicos (transporte público, teatros, cinemas, shopping centers, escritórios, estabelecimentos de ensino, restaurantes).
  • Caso essas outras atividades sejam inevitáveis, evite tocar em objetos como corrimãos, maçanetas e levar as mãos ao nariz ou à boca.
  • Evitar contato próximo com qualquer pessoa que tenha febre e tosse.
  • Evitar contato com pessoas doentes.
  • Ao tossir e espirrar, cobrir a boca e o nariz com cotovelo ou com lenços descartáveis.
  • Lavar as mãos freqüentemente com água e sabão por pelo menos 20 segundos.
  • Usar um desinfetante para as mãos à base de álcool, se não houver água e sabão.
  • Procurar avaliação em serviços de saúde imediata em caso de febre e sintomas respiratórios durante ou após a viagem (até 14 dias) às áreas afetadas.

Em caso de sintomas como febre, tosse e dificuldades de respirar usar máscara facial (cirúrgica) e buscar atendimento nos serviços de saúde.

Acompanhe outros trabalhos publicados este ano com participação do Dr. Kelvin Kai-Wang To

Genomic characterization of the 2019 novel human-pathogenic coronavirus isolated from a patient with atypical pneumonia after visiting Wuhan

A familial cluster of pneumonia associated with the 2019 novel coronavirus indicating person-to-person transmission: a study of a family cluster