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Relatório da OMS: África lidera aumento global de casos de malária

Em 2022, foram registrados 249 milhões de casos de malária em todo o mundo

03/01/2024

Em 2019, antes da pandemia, o número de casos de malária a nível mundial foi de 233 milhões

O último relatório anual da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a malária “World malaria report 2023” revelou um panorama preocupante para a saúde global. Em 2022, foram registrados 249 milhões de casos de malária em todo o mundo, 5 milhões a mais do que em 2021. Destes, 3,2 milhões ocorreram em países africanos: Uganda (0,6 milhões), Nigéria (1,3 milhões) e Etiópia (1,3 milhões). Os demais aconteceram na Papua-Nova Guiné (0,4 milhões) e Paquistão (2,1 milhões). A incidência da doença e as taxas de mortalidade aumentaram em todo o mundo como consequência das perturbações nos serviços de combate à malária durante a pandemia. Em 2019, antes da Covid-19, o número de casos a nível mundial foi de 233 milhões, um excedente de 16 milhões de casos. Além dos impactos globais causados pela pandemia de Covid-19 e os desafios habitualmente enfrentados, como resistência a drogas e inseticidas, o documento  destacou ainda crises humanitárias, restrições de recursos, impactos das mudanças climáticas e atrasos na implementação do programa, particularmente em países com alta carga da doença.

Globalmente, o número de mortes por malária em 2022 (608 mil) foi mais alto do que em 2019 (576 mil), um aumento de 5 milhões em comparação ao ano de 2021. A região africana continua a carregar o fardo mais pesado da malária, sendo responsável por 94% de todos os casos (233 milhões) e de 95% de todas as mortes (580 mil mortes). Cerca de 78% de todas as mortes por malária nesta região atingiu crianças com menos de cinco anos.

Quatro países, Nigéria (26,8%), República Democrática do Congo (12,3%), Uganda (5,1%) e Moçambique (4,2%), representaram quase metade de todos os casos de malária a nível mundial. Outros quatro países também foram responsáveis por pouco mais de metade de todas as mortes por malária no mundo: Nigéria (31,1%), República Democrática do Congo (11,6%), Níger (5,6%) e Tanzânia (4,4%). A maioria dos casos (82%) e mortes (94%) evitados foram registradas na região africana, seguida da região do sudeste asiático.

Enquanto isso, nos 11 países com a maior carga da doença, as taxas de novas infecções e mortes se estabilizaram após um aumento inicial durante o primeiro ano da pandemia. Esses países, seguindo a estratégia “Alta Carga para Alto Impacto” da OMS, reportaram aproximadamente 167 milhões de casos de malária e 426 mil mortes em 2022. De acordo com as tendências atuais, o progresso em direção às metas críticas da estratégia global de malária da OMS para 2025 está consideravelmente comprometido. Em 2022, o investimento global na investigação e desenvolvimento de produtos contra a malária caiu para 603 milhões de dólares, o que representou a queda mais acentuada até agora: menos 73 milhões de dólares do que em 2021, o financiamento mais baixo nos últimos 15 anos.

O relatório também mencionou progresso em direção à eliminação da malária em muitos países com um baixo ônus da doença. Em 2022, 34 países relataram menos de mil casos em comparação com apenas 13 países em 2000. Em 2023, mais três países foram certificados pela OMS como livres da malária (Azerbaijão, Belize e Tajiquistão) e vários outros estão no caminho de eliminar a doença em 2024. O documento citou ainda realizações como a implementação gradual da primeira vacina contra a malária recomendada pela OMS (RTS,S/AS01) em três países africanos, o que levou a uma redução substancial na malária grave e uma queda de 13% nas mortes na primeira infância. Em outubro de 2023, a organização recomendou uma segunda vacina segura e eficaz contra a malária (R21/Matrix-M). A expectativa é aumentar a oferta e a distribuição em larga escala no continente africano, atualmente o mais atingido pela doença.

O sucesso dessas iniciativas, combinado com estratégias como o uso de redes antimosquito e pulverização com inseticidas, oferece uma perspectiva otimista no combate à doença. Além disso, a OMS reforça a necessidade de continuar investindo em pesquisa, prevenção e imunização para enfrentar esse desafio global. Um redirecionamento significativo nos esforços de combate à doença é fundamental. Maior financiamento, compromisso político, inovação e estratégias baseadas em dados são essenciais. A resposta às alterações climáticas exige abordagens sustentáveis e envolvimento social.

Brasil apresenta redução substancial de casos em 2022

No decorrer das últimas duas décadas, houve uma redução de 64% nos casos de malária na região das Américas, enquanto as mortes diminuíram em 60% durante o mesmo período. Apesar do progresso, os aumentos substanciais na incidência da doença na Venezuela afetaram a situação. Em conjunto, Venezuela, Brasil e Colômbia respondem por 73% das infecções regionais. Contudo, de acordo com o relatório da OMS, o Brasil demonstrou uma redução significativa nos casos, com uma queda de 28 mil infecções em comparação com 2019. Estima-se que tenham ocorrido cerca de 150 mil casos de malária no território brasileiro em 2022, conforme apontado no documento. Os dados revelam também uma diminuição no número de mortes no País em 2022, com registros de 50 óbitos pela doença, em comparação aos 58 ocorridos em 2021.

Em relação à região amazônica, que concentra a maioria dos casos, a taxa de letalidade por malária é baixa, cerca de 0,04%. No entanto, informações preliminares do Ministério indicam que, em outras regiões do País, essa letalidade foi cerca de 23,25 vezes maior em 2021. A Amazônia é considerada uma área endêmica para a malária, sendo responsável por 99% dos casos autóctones no Brasil. A meta da OMS é reduzir ao menos 90% dos casos de malária até 2030 em relação a 2015 e erradicar a doença em pelo menos 35 países endêmicos em sete anos.

O Ministério da Saúde visa  erradicação da malária até 2035; para atingir este objetivo, tem implementado diversas estratégias, entre elas, a incorporação, em julho de 2023, da tafenoquina no Sistema Único de saúde (SUS). O medicamento é usado em casos de infecção por Plasmodium vivax, espécie predominante no Brasil e que representa 80% dos casos. Além disso, foi criado o Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDS). Conduzido pela Saúde, o CIEDS vai desenvolver políticas públicas para eliminar oito doenças de determinação social até 2030. Malária faz parte da lista.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**