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RESS e RSBMT publicam conjuntamente diretrizes para infecções sexualmente transmissíveis

A repercussão das IST como problema de saúde pública ocorre não apenas pela sua elevada prevalência, mas também em decorrência de sua evolução tanto na fase aguda quanto nas possíveis sequelas causadas pela ausência de diagnóstico correto e tratamento adequado

07/05/2021
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A edição especial da RESS é uma publicação conjunta com a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT)

A edição especial da Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (RESS), vol.30, publicada em parceria com a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), traz 18 artigos que tratam sobre diagnóstico, tratamento e vigilância das infecções sexualmente transmissíveis (IST) que estão contempladas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Atenção Integral às Pessoas acometidas por essas infecções. Publicado pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, em 2020, o PCDT-IST foi elaborado com base em evidências científicas e validado em discussões com especialistas. O principal objetivo dos artigos é fornecer informações baseadas nas melhores evidências para profissionais envolvidos no cuidado às pessoas com IST.

A Coordenadora Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços (CGDEP) do Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde (DAEVS) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), e também, Editora Executiva da RESS, Dra. Fátima Sonally Sousa Gondim, reconhece que a importância do número Especial sobre IST. Para ela, os artigos deste número, que apresentam aspectos epidemiológicos e clínicos das IST, com ênfase em orientações sobre diagnóstico, tratamento, vigilância, prevenção e controle da doença, são fundamentais para os profissionais que atuam no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

A edição especial da RESS é uma publicação conjunta com a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (RSBMT), no âmbito da parceria firmada entre as duas revistas, com publicação simultânea em três idiomas (português, espanhol e inglês). Para a Dra. Isis Carvalho, editora da RESS, a publicação simultânea do Número Especial sobre IST na RESS e na RSBMT representa uma iniciativa de grande relevância para ampliar o alcance do conteúdo aos profissionais de saúde e gestores envolvidos no cuidado às pessoas com IST, sobre a melhor prática em saúde com base nas evidências científicas mais atualizadas.

Editor da RSBMT, Dr. Dalmo Correia Filho, enfatiza que o acordo de cooperação técnica entre a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e a Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde é um importante instrumento que permite a ampliação e divulgação Técnico-Científica de qualidade dando visibilidade desse conteúdo e auxiliando os profissionais envolvidos com essas doenças. Para ele, essa publicação conjunta, que é uma das metas do termo de cooperação, vai sem dúvida, nortear desde a abordagem do diagnóstico clínico e laboratorial até o tratamento e o seguimento com vigilância e profilaxia das IST nas populações mais afetadas em todo o Brasil. “Destaco ainda o desempenho das editoras da RESS, Dra. Isis Carvalho e a Dra. Fátima Sonally Sousa Gondim, bem como do editor convidado, o professor Dr. Carlos Henrique Costa, o qual teve uma atuação fundamental em todo o processo de avaliação e revisão pelos pares, além da revisão do inglês, em ambas as revistas. Sem essa participação proficiente e extremamente dedicada desses editores das duas revistas, seguramente esse trabalho não teria tido o êxito alcançado”, conclui.

Com relação ao plano de atividades a serem desenvolvidas a partir da cooperação técnica, o editor da RSBMT detalha que há metas a serem cumpridas, uma delas é a implementação de novas metodologias para aprimorar o processo editorial de ambas as revistas. Segundo ele, isso tem sido feito em conjunto com algumas padronizações de instrumentos e modalidades que podem ser incorporados no processo de avaliação pelos pares. A partir daí vem a segunda meta, a publicação conjunta de consenso e relatórios técnicos, que tem como público-alvo os profissionais do serviço na comunidade em três idiomas. Outra meta é o fortalecimento de estratégias de divulgação e promoção da redação científica, que tem sido realizados por meio de cursos pré-congressos dentro do Congresso Brasileiro de Medicina Tropical  (MEDTROP). “A divulgação on-line de conteúdos técnico-científicos no site de ambos os periódicos também merece total reconhecimento, além do curso para editores científicos no Brasil e no exterior e os cursos para revisores de periódicos científicos com apoio da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) e do Committee on Publication Ethics (COPE, na sigla em inglês). Esses dois periódicos fazem parte da coleção Scientific Electronic Library Online (SciELO) e obedecem às boas práticas da ciência e se movem em direção a assumir algumas práticas da ciência aberta”, aponta o Dr. Correia.

IST estão entre os problemas de saúde pública mais comuns em todo o mundo

Dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2020 , do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (DCCI/SVS/MS) apontam que, em 2019, foram 41.919 casos de HIV notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). No ano passado, foram notificados 13.677 casos de HIV (até 30/06/2020). Os dados do boletim também mostram que, em 2019, foram diagnosticados 37.308 casos de aids. De acordo com o Boletim, desde o ano de 2012, observa-se uma diminuição na taxa de detecção de aids no Brasil, que passou de 21,9/100 mil habitantes (2012) para 17,8/100 mil habitantes em 2019, configurando um decréscimo de 18,7%. Embora se observe uma diminuição dos casos de aids em quase todo o País, principalmente nos últimos anos, parte dessa redução pode estar relacionada à identificação de problemas de transferência de dados entre as esferas de gestão do SUS, o que pode acarretar diferença no total de casos entre as bases de dados municipal, estadual e federal de HIV/aids. O declínio no número de casos também pode decorrer de uma demora na notificação e alimentação das bases de dados do Sinan, devido à mobilização local dos profissionais de saúde ocasionada pela pandemia de COVID-19. No Brasil, no período de 2000 até junho de 2020, foram notificadas 134.328 gestantes infectadas com HIV, das quais 8.312 no ano de 2019, com uma taxa de detecção de 2,8/mil nascidos vivos. As IST entre jovens também preocupam. Dados do Boletim Epidemiológico revelaram aumento de 64,9% das IST entre a faixa etária de 15 a 19 anos e de 74,8% para a de 20 a 24 anos, entre 2009 e 2019.

O editorial “Atenção integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis” da edição especial destaca que o cuidado às pessoas com IST, e outras condições de saúde, deve refletir a melhor evidência científica disponível, aliada a fatores contextuais indissociáveis: a experiência do profissional, as características individuais e a potencialidade do sistema de saúde. Ainda de acordo com ele, a sistematização do diagnóstico e tratamento dessas pessoas requer, portanto, que as recomendações estejam organizadas e acessíveis aos profissionais de saúde e que estes recebam capacitação e possuam condições de trabalho apropriadas, permitindo que pessoas cuidem de outras pessoas. O artigo ressalta que o processo de elaboração de recomendações baseadas em evidências científicas depende também de profissionais capacitados para localizar e interpretar as evidências, e de pesquisas científicas bem conduzidas, livres de conflitos de interesses, que respondam apropriadamente às questões que se apresentam na prática clínica. Segundo o texto, desde a elaboração das recomendações baseadas em evidências científicas até a sua incorporação, existem barreiras que limitam a adesão integral. Sua adoção passa por mudança de cultura que valoriza a ciência e os profissionais para o cuidado. Por fim, o artigo assinala que situações que carecem de evidências podem ser priorizadas para pesquisas no âmbito do SUS. A prática de elaboração e implementação de recomendações baseadas em evidências possibilita que essa cultura seja estabelecida, com retroalimentação do processo em ciclo virtuoso de aprendizagem.

Já o artigo de opinião Políticas públicas em infecções sexualmente transmissíveis no Brasil apresenta breve histórico de políticas públicas de enfrentamento às IST no Brasil. Ele também aborda lacunas e desafios a serem considerados pelo país, na formulação e implementação de políticas vindouras. De acordo com a publicação, persistem desafios e lacunas a serem superados, na formulação e implementação de políticas públicas em IST no Brasil. Nesse contexto, há necessidade permanente de fortalecer o papel da atenção primária à saúde na atenção integral às pessoas com IST e suas parcerias sexuais; garantir cobertura vacinal adequada contra a infecção pelo HPV, hepatites virais A e B; promover informação, educação e comunicação em saúde; ampliar o acesso à testagem e tratamento das IST, com foco nas populações mais vulneráveis; notificar parcerias sexuais; e qualificar a abordagem de aspectos da saúde sexual pelos profissionais de saúde, para além do rastreamento de assintomáticos, prevenção, manejo clínico-laboratorial e vigilância dos casos de infecção sexualmente transmissível.

As IST persistem como problema de Saúde Pública mundial. Desde os anos 1990, gonorreia, sífilis e clamídia vem aumentando suas prevalências.  Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, mais de um milhão de novos casos de quatro infecções sexualmente transmissíveis são contraídos todos os dias. Isso equivale a mais de 376 milhões de novos casos anuais de quatro enfermidades: clamídia, gonorreia, tricomoníase e sífilis. Em média, uma em cada 25 pessoas no mundo tem, pelo menos, uma dessas IST. Entre os vários fatores que têm sido facilitadores desse incremento, a globalização tem sido preponderante. A resistência antimicrobiana tem estreitado o leque terapêutico, principalmente para gonorreia e Mycoplasma genitalium. Mas felizmente existe muita ciência envolvida na prevenção e no tratamento do HIV e de outras IST desde a década de 1980. Tudo aquilo que não se mostra eficaz deixa de ser usado, enquanto o que se mostra promissor é mais bem estudado.