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Sífilis: tratamento de gestantes previne transmissão em 71% dos bebês

Em 2023 houve uma redução de 1.511 casos de sífilis congênita em bebês com menos de um ano em comparação ao ano anterior

31/10/2024

Investimento em testagem rápida e no acompanhamento contínuo durante a gravidez é uma das principais ferramentas contra a sífilis congênita

O Ministério da Saúde divulgou recentemente o Boletim Epidemiológico de 2024 sobre a Sífilis, com dados atualizados sobre a prevalência de sífilis adquirida, em gestantes e congênita no Brasil. O documento aponta avanços, como o aumento de testes realizados e a expansão do tratamento, especialmente em gestantes, o que contribuiu para a redução da sífilis congênita. Também destaca o reforço das ações de vigilância e das estratégias educativas voltadas para a prevenção.

Em 2023, houve uma redução de 1.511 casos de sífilis congênita em bebês com menos de um ano em comparação ao ano anterior, com 71% dos casos prevenidos graças ao diagnóstico precoce em gestantes. Isso representa uma melhora em relação a anos anteriores, quando 64% dos casos foram evitados em 2021 e 69% em 2022. O tratamento adequado com penicilina é essencial para prevenir a transmissão vertical da doença, reforçando a importância de um pré-natal de qualidade.

De acordo com a Dra. Angélica Espinosa Barbosa Miranda, médica e professora na Universidade Federal do Espírito (UFES) e consultora no tema, a redução de 71% nos casos de sífilis congênita está diretamente ligada ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, que só são possíveis com um pré-natal de qualidade. “Testes simples e disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) possibilitam identificar a sífilis no início da gestação, o que permite o uso da penicilina para prevenir a transmissão vertical. O acompanhamento contínuo e o tratamento dos parceiros também são essenciais para evitar reinfecções. Um pré-natal bem estruturado melhora os cuidados materno-infantis e pode eliminar casos evitáveis de sífilis congênita”, assinala.

O boletim ressalta que o tratamento oportuno das gestantes pode reduzir significativamente a transmissão da sífilis para o bebê. No entanto, em regiões vulneráveis, como o Norte e o Nordeste, o acesso ao pré-natal e à penicilina ainda é limitado, impactando os índices de sífilis congênita. Segundo a Dra. Miranda, o Brasil tem avançado com a ampliação dos testes rápidos no pré-natal, incluindo o teste DUO, que detecta sífilis e HIV. “Campanhas educativas, capacitação de profissionais e distribuição de penicilina pelo SUS têm sido fundamentais, mas desigualdades regionais ainda precisam ser enfrentadas. Fortalecer a atenção primária será primordial para alcançar a meta de eliminação até 2030″, afirma.

A detecção precoce da sífilis e o tratamento com penicilina no primeiro trimestre da gestação são fundamentais para impedir a transmissão vertical. No entanto, o tratamento tardio ou incompleto reduz a eficácia, aumentando o risco de transmissão e complicações, como partos prematuros ou morte neonatal. Discutir estratégias eficazes para a eliminação da sífilis congênita, segundo a Dra. Miranda, é um desafio e requer mobilização conjunta da sociedade, com ênfase no diagnóstico precoce e no tratamento adequado. “Temos repetido ações há décadas, esperando resultados diferentes. Agora, precisamos inovar, mas com os recursos disponíveis. Até 2030, devemos focar no que já existe: é essencial garantir o pré-natal de qualidade com testes rápidos, como o teste DUO, assegurar a oferta de penicilina e tratar os parceiros para evitar reinfecções. Além disso, fortalecer a vigilância epidemiológica e priorizar áreas vulneráveis são fundamentais para combater as desigualdades sociais que perpetuam a doença”, destaca a médica.

Segundo o Boletim Epidemiológico, em 2023 foram registrados 242.826 casos de sífilis adquirida, 86.111 casos em gestantes e 25.002 casos de sífilis congênita, além de 196 óbitos. Mais de 14 milhões de testes rápidos foram distribuídos pelo Ministério da Saúde em 2023, e, até agosto de 2024, foram distribuídos 5.689.240 testes rápidos e 1.955.100 testes DUO HIV/Sífilis. Entre 2022 e 2023, 48 municípios e dois estados receberam certificações pelas boas práticas no controle da sífilis, com novas certificações previstas até o final do ano.

O Brasil segue comprometido com a eliminação da sífilis congênita até 2030, por meio do trabalho conjunto entre governo, profissionais de saúde e sociedade civil. Uma das estratégias reforçadas com o programa Brasil Saudável é a Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV, sífilis, hepatite B, HTLV e doença de Chagas. Essa certificação é voltada para municípios com mais de 100 mil habitantes e estados, reconhecendo e promovendo boas práticas na prevenção da transmissão vertical dessas infecções. O objetivo é incentivar o combate à transmissão de mãe para filho e disseminar essas práticas eficazes em todo o País.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**