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Só uma solução para epidemia de acidentes de moto: obediência rigorosa às leis de trânsito

Neurocirurgião Daniel França alerta que fiscalização constante é a única maneira de amenizar as mais de 12 mil mortes por ano causadas por esse tipo de acidente

14/06/2016
Dr.

Dos motociclistas internados no Hospital de Urgências de Teresina, 80% deles não são habilitados, 80% não usavam capacete no momento do trauma e 50% admitem ter consumido álcool imediatamente antes de conduzir a moto

Assim como as doenças infecciosas, a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) tem entre as suas preocupações outros fatores que afetam os países pobres, como os acidentes de moto. No Brasil, por exemplo, esse problema é considerado uma epidemia que mata cerca de 12 mil pessoas por ano. A solução para amenizar esse quadro, de acordo com o neurocirurgião Daniel França, é apenas uma: levar à risca as leis de trânsito.

Um exemplo claro dessa afirmativa foi obtido nas duas primeiras semanas de 2014, em Teresina (PI), quando o governo local intensificou a fiscalização aos motociclistas por meio de blitz na cidade. O resultado foi a redução de 25% no movimento global do Hospital de Urgências de Teresina, no período. O Piauí lidera o ranking brasileiro de mortes devido a acidentes de motocicletas. “Daí, concluo que não há substituto para a obediência rigorosa às leis de trânsito, o que só ocorrerá caso os condutores tenham a certeza da fiscalização e da punição permanentes”, aponta o doutor França, que é professor de Semiologia Neurológica na Universidade Estadual do Piauí (UESPI).

Para ele, o foco das ações contra os acidentes de moto deve ser a prevenção e não apenas o tratamento na rede de saúde. O fato de não focar na prevenção, aliás, é o fator apontado pelo neurocirurgião para a baixa eficácia das medidas adotadas pelo poder público contra essa epidemia.

O doutor França destaca que as campanhas educativas têm pouco efeito imediato. Ele acredita que elas alteram a formação dos futuros condutores, mas não provocam mudanças significativas e permanentes na atual geração de motoristas e motociclistas. Ou seja: os condutores sensíveis às campanhas já têm consciência de que devem obedecer as normas, enquanto os que precisam desse tipo de informação são inertes aos avisos de cuidados no trânsito.

“A fiscalização em nosso meio é muito ineficiente, cultivando a impunidade”, destaca o neurocirurgião ao acrescentar que esse quadro explica a situação dos motociclistas internados no Hospital de Urgências de Teresina: 80% deles não são habilitados, 80% não usavam capacete no momento do trauma e 50% admitem ter consumido álcool imediatamente antes de conduzir a moto.

Bloqueio da moto

Outras ações que podem ter bons resultados, além da fiscalização, é obrigar os condutores de moto a usarem o capacete. Uma iniciativa nesse sentido foi desenvolvida no Piauí. Trata-se do ‘Anjo da Guarda’, um dispositivo que impede o funcionamento da moto se o condutor estiver sem o equipamento de segurança e a cinta jugular – neste caso, o veículo dispara um alarme e, segundos depois, desliga automaticamente, impedindo a condução. A moto só funcionará novamente depois de cumpridos os requisitos.

O produto foi desenvolvido há cerca de dois anos e ainda está em fase de testes, criado pelo empresário piauiense Agamenon Santa Cruz. Segundo ele, o dispositivo tem como principal vantagem a “proteção da vida”. “As pessoas não usam adequadamente o capacete, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, onde há índices elevados de acidentes com trauma de crânio por queda de moto”, lembra ao ressaltar a relevância para a redução dos gastos públicos com acidentados.

Outra vantagem do instrumento é evitar roubos. “Isso porque o capacete passa a ser também a chave da moto. Ele é configurado para aquele veículo e se torna uma barreira a mais para o furto”, esclarece. A boa ideia do empresário ainda precisa de mais investimentos para que possa ser aprimorada e chegue ao mercado. A SBMT torce e apoia que mais iniciativas como essa se multipliquem no País.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**