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Sucesso de público, primeiro simpósio em vírus Zika no mundo deve ser desdobrado no MEDTROP 2016

Resultados preliminares da investigação que mostrou a presença do vírus na saliva de pernilongos esteve entre os destaques do workshop

10/03/2015
Workshop

Um dos temas com grande repercussão foi a apresentação de resultados preliminares que confirmaram a facilidade de disseminação do vírus Zika no mosquito Culex

A expectativa pela chegada do MEDTROP 2016 aumentou a partir das discussões do workshop A, B, C, D, E do vírus Zika, que ocorreu no início de março, em Recife (PE). Isso porque os temas debatidos no evento em Pernambuco, reconhecido como o primeiro simpósio científico sobre o vírus no mundo, devem ser replicados durante o 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP).

O workshop A, B, C, D, E do vírus Zika reuniu, nos dias 1º e 2 de março, pesquisadores de diversas instituições do Brasil e do exterior, que trocaram informações sobre aspectos clínicos, epidemiológicos, diagnóstico e biologia do vírus zika, além de vetores e outras arboviroses.

O coordenador do workshop, diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, e vice-presidente da SBMT, doutor Sinval Brandão Filho , classificou o evento como “histórico”. Além da grande presença de público, com mais de 600 participações presenciais nos dois do evento e 4.424 acessos via transmissão pela web em 26 países, o Dr. Sinval destacou o alto nível das apresentações no evento, tanto de brasileiros quanto de estrangeiros.

“O nível elevado das apresentações gerou um debate super importante sobre as perspectivas dos avanços nos conhecimentos em torno do Zika vírus em diversas frentes de estudos, explicou.

Ele destacou que recomendará que boa parte da programação do simpósio seja replicada no MEDTROP 2016, onde deve haver um foco especial sobre o debate do vírus Zika. Os desdobramentos podem ocorrer tanto durante a grade de programação do Congresso como por meio de um simpósio satélite.

O MEDTROP 2016 ocorre entre os dias 21 e 24 de agosto em Maceió (AL).

Zika na saliva de pernilongos

Um dos temas discutidos no workshop e que teve grande repercussão, especialmente na imprensa, foi a apresentação de resultados preliminares que confirmaram a facilidade de disseminação do vírus Zika no mosquito Culex quinquefaciatus, popularmente conhecido como muriçoca ou pernilongo, infectados em laboratório. A pesquisa foi conduzida pela pesquisadora Constância Ayres, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco.

As investigações preliminares mostraram a dispersão do vírus para a glândula salivar do mosquito, por onde aconteceria a transmissão da doença para humanos. O experimento contou com 200 exemplares do C. quinquefaciatus e 200 de Aedes aegypti. O resultado mostrou uma grande capacidade do Zika de sobreviver no organismo da popular muriçoca.

A pesquisadora acredita que a transmissão do Zika pode envolver outras espécies de mosquito, tendo em vista da capacidade de adaptação desse vírus. Ainda de acordo com ela, o tema merece atenção urgente e as estratégias de controle devem ser dirigidas a todos os vetores potenciais. Em artigo publicado na The Lancet Infectious Deseases, Constância afirma que é ingênuo acreditar que o A. aegypti é o principal vetor em áreas onde coexistem outras espécies de mosquito.

Os resultados da pesquisa, no entanto, ainda são parciais e só devem ser conclusivos dentro de 6 a 8 meses

Segundo o doutor Sinval, ainda são necessários mais experimentos de infecção experimental em mamíferos e os achados da infecção natural de pernilongos no campo. “No entanto, isso é uma evidência muito consistente de que outros vetores também podem estar participando da transmissão do vírus”, ressalta.

Além dessa pesquisa, o doutor Sinval fez questão de destacar a importância de todos os demais trabalhos apresentados no workshop. Entre eles, os relatos de como foi a história natural da doença em Pernambuco, na Paraíba, e em outros localidades das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil e na Colômbia, além de estudos epidemiológicos em andamento e sobre o isolamento e diagnóstico do vírus, perspectivas de vacinas, controle de vetores e cooperação internacional.