_destaque, Notícias

Ebola: uma epidemia à espera de atenção internacionalEbola: an epidemic waiting for international attention

A história de uma lenta mobilização ao tema e os relatos de quem acompanha a tragédia que acomete o continente africanoThe story of a slow mobilization around the theme and the reports from those following the tragedy that strikes the African continent

07/10/2014

Jornalista

Jornalista do Daily Mirror acredita que o pouco interesse econômico na região despertou uma resposta lenta da comunidade internacional

O exemplo da negligência com as doenças tropicais tem seu maior expoente no atual surto de Ebola na África, especialmente na Libéria e em Serra Leoa. A demora no auxílio das nações ricas aos países afetados tem contribuído para o aumento constante das vítimas e dos infectados pela doença. A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) – o primeiro grupo internacional a alertar para a crise que se instalou no continente africano – é uma das que mais tem cobrado apoio. A presidente da entidade, Drª Joanne Liu, foi enfática em discurso recente na Organização das Nações Unidas (ONU), onde afirmou não entender como uma ONG privada como o MSF possa ser a maior fornecedora das unidades de isolamento e leitos até o momento.

A crise tem afetado a Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem tido cortes bilionários no orçamento desde 2008 devido ao repasse menor de verbas dos Estados membros, de acordo com reportagem do New York Times . Com as dificuldades, a entidade esperava que as nações pudessem responder às ameaças de saúde pública por conta própria. Em vão. Na África, menos de um terço dos países tem programas para detectar e conter doenças infecciosas nas suas fronteiras. Com uma vigilância fraca, não é de surpreender que o surto não tenha sido identificado até março deste ano. Foi quando o MSF declarou a situação calamitosa que estava prestes a surgir. Hospitais não tinham materiais básicos de controle de infecção, como água corrente e luvas de proteção, contaminando médicos e enfermeiros que trabalhavam no controle da doença.

De acordo com a OMS, o Ebola já causou mais de 3 mil mortes entre os 6 mil infectados identificados até o final de setembro. Ao todo, o Médicos Sem Fronteiras afirma que são 3.058 profissionais atuando em Serra Leoa, Libéria, Nigéria e Senegal. De acordo com a diretora da Unidade Médica Brasileira do MSF, Drª Maria Rado, todos os especialistas da entidade em febre hemorrágica e outros profissionais foram mobilizados. Entretanto, a organização não tem como responder a quantidade crescente de novos casos e em tantos lugares diferentes. “A OMS declarou a doença como uma emergência internacional de saúde pública, mostrando o quão seriamente está assumindo o surto atual, mas declarações não salvam vidas. Precisamos que esta declaração se traduza em ação imediata em campo”, coloca a infectologista.

Os intensos apelos, no entanto, só recentemente começaram a ser atendidos. Países como Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Cuba começaram a se comprometer a enviar pessoal e equipamentos para a região afetada – em setembro, o presidente estadunidense Barack Obama afirmou que 3 mil soldados seriam deslocados à África, anunciando também a construção de 17 centros de tratamento. No entanto, tudo precisa ser radicalmente ampliado na região afetada. Segundo a doutora Rado, mesmo com o auxílio internacional, ainda levarão meses até que haja um controle efetivo da enfermidade.

Até os enterros dos corpos precisam ser feitos de forma mais segura na região. Quem viu de perto o drama vivido por milhares de africanos foi o jornalista do Dally Mirror, Tom Perry, especializado em matérias humanitárias. De acordo com ele, a cena que mais o marcou foi quando o esquadrão de funeral retirou oito corpos de vítimas do Ebola de uma clínica em sacolas plásticas e os levou em um caminhão para serem incinerados. “Era clínico, sem emoção e uma ilustração gráfica de quão devastadora é essa doença”, lembra Perry.

O jornalista, que já cobriu temas como as crianças exiladas no conflito na Síria , passou uma semana na Libéria. Ele conta ter visto o impacto da epidemia em favelas e até mesmo no Ministério de Saúde local. “Eram vários sinais óbvios da mudança na vida das pessoas: as ruas estavam mais calmas que o normal, não havia contato físico, níveis elevados de suspeitas e ira nas favelas. Muitos rezavam no lado de fora das clínicas”, relata.

Perry acredita que o pouco interesse econômico na região despertou uma resposta lenta da comunidade internacional. Segundo ele, os países ricos estão focados “em assuntos militares e de auxílio no Oriente Médio, Ucrânia etc”. O baixo empenho também tem sido observado na cobertura da grande imprensa. “A mídia perde o interesse com muita rapidez, e agora é a mesma história de pessoas morrendo sendo repetida infinitamente”, aponta.

Ao que tudo indica, a mobilização tardia das nações ricas nada mais é do que o medo iminente da epidemia aparecer à porta desses países. Nos Estados Unidos, o primeiro caso já foi diagnosticado, de um homem que contraiu o vírus na Libéria e viajou para o Texas, onde foi internado com sintomas da doença – o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país confirmou o caso. Se as ações tivessem ocorrido logo no início do surto, não apenas os mais abastados poderiam dormir em paz. Milhares de vidas de crianças, jovens e mulheres no continente africano teriam sido preservadas.

A

A journalist from the Daily Mirror believes the low financial interest in the region releases a slow response by the international community

The example of neglect with the tropical diseases has its greatest figure in the current Ebola outbreak in Africa, especially in Liberia and Sierra Leone. The help delay from the rich nations to the affected countries has contributed to the constant victims and infected people increase. The Doctors Without Borders (Médecins Sans Frontieres – MSF) – the first international group to warn about the crisis in the African continent – is among who most requires support. The entity’s president, Dr. Joanne Liu, was emphatic in her speech at the United Nations (UN), where she claimed to not understand how the MSF could still be the largest supplier of isolation units and beds until now.

The crisis has affected the World Health Organization (WHO), who has had billionaire budget cuts since 2008 due to the smaller funding from the member States, according to an article in the New York Times . With the difficulties, the entity was hoping the nations could respond to the public health threats on their own. In vain. In Africa, at least a third of the countries have programs to detect and contain infectious diseases on their borders. With a weak surveillance, it is not surprising that the outbreak was not identified until this March. This was when the MSF disclosed the dreadful situation was about to emerge. Hospitals did not have basic infection control materials, as running water and protection gloves, infecting doctors and nurses who were working to control the disease.

According to the WHO, the Ebola has killed over 3 thousand people among the 6 thousand infected until the end of September. At all, the MSF affirms 3.058 professionals are acting in Sierra Leone, Liberia, Nigeria and Senegal. According to the director of the Brazilian Medical Unit of the MSF, Dr. Maria Rado, all hemorrhagic fever specialists of the entity and other professionals have been mobilized. However, the organization is not capable of responding to the increasing number of new cases in so many different places. “The WHO has declared the disease to be an international public health emergency, showing how severe is this outbreak, but declarations do not save lives. We need this declaration to translate into immediate field action”, said the infectologist.

The intense appeals, however, only recently they begun to be attended. Countries as the USA, UK, France, China and Cuba committed to send personnel and equipment to the affected region – in September, USA president Barack Obama said 3 thousand soldiers would be sent to Africa, also announcing the construction of 17 treatment centers However, everything must be radically enhanced in the affected region. According to Dr. Rado, even with the international assistance, it will take months until there is an effective control of the disease.

Even the burial of the corpses should be conducted in a safer way in the region.  Journalist from the Daily Mirror, Tom Perry is specialized in humanitarian causes, and has closely seen the drama lived by thousands of Africans. According to him, the most striking moment was to see a funeral squad remove 8 corpses from a clinic to be driven away on the back of a truck and incinerated. “It was clinical, without emotion, and a graphic illustration of how devastating the disease is.”, remembers Perry.

The journalist, who has covered themes as the exiled children in the Syrian conflict , spent a week in Liberia. He said to have seen the outbreak’s impact in slums and even in the local Health Ministry. “There were many obvious signs of changes in peoples lives: streets were quieter than normal, there is no physical contact, high levels of suspicion and anger in slums, many people grieving outside clinics”, reports.

Perry believes the poor economic interest of the region was the reason for the slow response of the international community. According to him, the rich countries are focused in “military and aid in the Middle East, Ukraine, etc”. The low efforts have also been noticed in the great media coverage. “The media loses interest very quickly, and now it is the same story of people dying horribly being endlessly repeated”, points.

It seems the late mobilization form the rich nations is nothing but the imminent fear of the outbreak knocking on their doors. In the USA, the first case has already been diagnosed, on a man who contracted the virus in Liberia and travelled to Texas, where he was hospitalized with the disease’s symptoms – the country’s Disease Control and Prevention Center has confirmed the case. I the actions had been carried since the outbreak’s beginning, not only the richest could sleep peacefully. Thousands of children, youngster and women’s lives could have been spared.