Vacina contra FA é arma fundamental para nos proteger desta doença mortal
Entre dezembro de 2016 e junho de 2017 houve 777 casos e 261 óbitos por febre amarela; e de julho de 2017 a janeiro de 2108, 130 casos e 53 óbitos, todos evitáveis se houvesse imunização
03/06/2019Por Dr. Jaime Benchimol
Muita gente tem medo de tomar a vacina contra a febre amarela ou fica com preguiça e deixa para depois. A doença é uma inimiga antiga da saúde dos brasileiros que deve ser temida, porque mata grande proporção de suas vítimas. Ao pensarmos nela, é inevitável nos lembramos de Oswaldo Cruz. Quando ele assumiu a direção da Saúde Pública, no começo do século XX, o Brasil era um país que tinha péssima fama no mundo em virtude da quantidade de imigrantes que sucumbiam à febre amarela em nossos portos marítimos. Oswaldo Cruz tornou-se um herói da ciência brasileira em larga medida devido às campanhas bem-sucedidas que comandou contra a doença no Rio de Janeiro, então a capital do Brasil, e em Belém do Pará. Em sua época, imaginava-se que só dava em cidades populosas do litoral e que só fosse transmitida por um mosquito, o Aedes aegypti. Nos anos 1930 e 1940, uma grande campanha estava em curso no Brasil para derrotar este transmissor, o que se conseguiu nos anos 1950, mas apenas momentaneamente, porque em 1967 o Aedes aegypti começou a reconquistar o território que havia perdido. Hoje ele reina soberano em nossas cidades como transmissor da dengue, da chikungunya e de outras viroses. Não transmite ainda a febre amarela nas cidades, mas isso pode acontecer. E porque? Porque nos anos 1930 descobriu-se que ela era uma virose que grassava sobretudo nas matas e florestas, fazia adoecer várias espécies de primatas e nesses ambientes muitos outros mosquitos eram capazes de transmiti-la. Com ferramentas desenvolvidas então, conseguiu-se ver que a chamada febre amarela silvestre varre de tempos em tempos o país, prostra ou mata milhares de macacos e centenas de humanos, até chegar à periferia das cidades populosas ameaçando levar o Brasil de volta às condições dramáticas de saúde que tinha no século XIX. Quando foi descoberta a febre amarela silvestre, tornou-se crucial ter uma vacina para imunizar as pessoas que entravam em contato com ela. Especialistas norte-americanos e brasileiros trabalharam duro para modificar o seu vírus de maneira a se conseguir uma ‘cepa’ que não causasse danos ao organismo de humanos e macacos. Chegaram assim ao chamado vírus ‘camarada’, e em 1937 foi inaugurado um laboratório no campus do Instituto Oswaldo Cruz para fabricar a vacina contra a febre amarela. Diversos problemas foram superados nos anos seguintes, quando ela foi levada a campo, através de pesquisas clínicas e laboratoriais extremamente sofisticadas. E nos anos 1950, o Instituto Oswaldo Cruz já supria as necessidades da América do Sul e, em parte, as da África, Europa e Ásia.
A vacina contra a febre amarela tem assim uma longa, nobre e sólida tradição. Buscam-se hoje novas técnicas para fabricá-la e também para combater o Aedes aegypti, que se tornou resistente a inseticidas. Em tempos como os que vivemos em que é péssimo o saneamento básico, é cada vez mais frágil o Sistema Único de Saúde, em que chega a seu ponto mais baixo a capacidade de todas as instâncias de governo de enfrentar a dengue, chikungunya e outras epidemias, a vacina contra a febre amarela é quase a única arma que nos resta para nos proteger desta doença mortal. Há riscos? Sim há, mas infinitesimais em comparação ao perigo real de se contrair a febre amarela onde ela é endêmica e onde pode vir a se tornar de novo endêmica. Você tem dúvida? Pois saiba que de dezembro de 2016 e junho de 2017 houve 777 casos e 261 óbitos por febre amarela; e de julho de 2017 a janeiro de 2108, 130 casos e 53 óbitos, todos evitáveis se houvesse imunização.
Aviões caem, mas você não deixa de viajar neles, certo? Por acaso deixa de andar de carro ou de atravessar a rua por causa dos acidentes de trânsito? Então vacine-se, leitor amigo, como já fizeram milhões de brasileiros no passado e no presente. Não permita que o nosso país continue a andar para trás no tocante ao controle da febre amarela e de outras doenças facilmente preveníveis.
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**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**