Notícias

53º MEDTROP vai trazer conteúdo de interesse social

Essa abordagem amplia o olhar à doença e ao doente, incluindo diferentes áreas de interesse

13/08/2017
width=283

O olhar para as necessidades de uma sociedade é determinante na solução de seus problemas

O 53º MEDTROP, apesar de ser e estar completamente focado nos objetivos acadêmicos-científicos, vai trazer conteúdos de forte interesse social. O evento vai contar com a participação do Fórum dos Movimentos Sociais de pacientes com doenças negligenciadas apresentando mesas redondas com perspectivas em saúde global com abordagem de saúde frente aos movimentos migratórios mundiais e de refugiados, e enfoque em resposta às emergências como epidemias e tragédias. Além da ampliação das discussões para acesso às informações em saúde pelos meios de comunicação e as dificuldades de inserção na agenda midiática.

Neste momento tão crítico que o País vivencia, o reconhecimento feito pela mídia dos problemas que afetam a saúde tanto qualifica o debate como aumenta a pressão para que o Brasil retome a liderança na construção de respostas efetivas às epidemias, como ocorreu em 2016 quando fomos modelo para o mundo na resposta à epidemia do HIV e da AIDS. Outro exemplo foi a grande emergência da doença pelo Zika-vírus; as respostas que dependiam da investigação que levaria ao conhecimento técnico-científico necessário ao enfrentamento vieram de pronto e com uma eficiência espetacular; já no que depende da abordagem dirigida aos atingidos pela epidemia, as ações são incompletas e dependentes de cenários deficientes desde sempre e que diante de tragédias como essas ficam mais evidentes.

Para saber mais sobre o assunto, a assessoria de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) conversou com a presidente do 53º MEDTROP, Dra. Marcia Hueb. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

SBMT: A inserção dessas novas perspectivas fogem da abordagem tradicionais dos Congressos anteriores da SBMT. Como e porque surgiu essa ideia?

Dra. Marcia Hueb: Na verdade, essa abordagem foi iniciada no MEDTROP 2016, já com a presença do Fórum dos Movimentos Sociais de Pacientes com Doenças Negligenciadas. Estamos consolidando o Fórum, mas também trazendo novas discussões que abordam saúde global frente aos movimentos migratórios mundiais e a problemática dos refugiados, por exemplo.

SBMT: Outras comunidades, além da científica, podem ter seu interesse despertado ao ver novas temáticas inseridas no MEDTROP 2017?

Dra. Marcia Hueb: Certamente. Essa abordagem amplia o olhar à doença e ao doente, incluindo diferentes áreas de interesse. É a doença que vem dentro de um ciclo de transmissão e que depende de uma abordagem multifatorial; é a doença negligenciada na pesquisa e na atenção que não tem soluções se não envolvidas diferentes áreas do conhecimento. Enfim, são frentes abertas à participação.

SBMT: Quando se fala na ampliação das discussões para acesso às informações em saúde pelos meios de comunicação e as dificuldades de inserção na agenda midiática, como o tema será abordado?

Dra. Marcia Hueb: Teremos, por exemplo, uma mesa redonda composta de agentes da mídia, como jornalistas e comunicadores, que trarão uma discussão sobre a relação dos meios de comunicação com determinantes sociais da saúde. E há, inclusive, uma premiação específica de jornalista tropical.

Os profissionais dos meios de comunicação e assessores de imprensa interessados terão acesso livre a esta atividade, sem necessidade de inscrição, apenas se identificando na secretaria executiva. Entendo que pode haver interesse daqueles que trabalham o tema da saúde nos meios de comunicação. Hoje há muitos profissionais que assessoram as comissões com poder de decisão nas políticas públicas em saúde e há aqueles que produzem matérias nos diferentes meios de comunicação. Ou seja, acredito que a experiência ali trazida por outros pode orientar diversos profissionais.

SBMT: Quando se fala em respostas às emergências como epidemias e tragédias, mergulhado na pior crise político-econômica experimentada no País, em sua opinião, o Brasil caminha em retrocesso nessas respostas?

Dra. Marcia Hueb: Difícil saber. As necessidades existem com ou sem crise, são demandas que brotam por múltiplas causas. O olhar para as necessidades de uma sociedade é determinante na solução de seus problemas. Esse olhar precisa de muitas facetas, englobando o conhecimento, a necessidade, as condições daquela população sobreviver ao que se apresenta e as nossas condições de resposta, nem sempre suficientes. Um exemplo foi a grande emergência da doença pelo Zika-vírus; as respostas que dependiam da investigação que levaria ao conhecimento técnico-científico necessário ao enfrentamento vieram de pronto e com uma eficiência espetacular; já no que depende da abordagem dirigida aos atingidos pela epidemia, as ações são incompletas e dependentes de cenários deficientes desde sempre e que diante de tragédias como essas ficam mais evidentes.

SBMT: Em seu ponto de vista, o Brasil deixou de lado a expertise para o amplo diálogo intersetorial, a articulação da saúde com os direitos humanos e a capacidade de atenção aos princípios da universalidade, da justiça e da participação social?

Dra. Marcia Hueb: Acredito que o aprendido não se perde. Caminhamos nessa direção, há uma consciência coletiva sobre a impossibilidade de se permanecer isolado na busca de soluções que são de interesse comum, mas os passos são lentos. Ainda estamos em sua maioria, em compartimentos separados da sociedade. Iniciativas como as que trazemos para o MEDTROP ajudam na discussão coletiva e incentivam outros a fazerem o mesmo. É o que esperamos.

SBMT: O que acontece no cenário brasileiro fortalece o argumento de que as respostas biomédicas não substituem as respostas sociais?

Dra. Marcia Hueb: São respostas complementares. As pesquisas e os pesquisadores buscam sempre o bem maior que é o bem comum. O desafio é fazer com que seus resultados cheguem aos gestores em saúde, e mais ainda, que influenciem as decisões dos gestores. Essas decisões são parte do cotidiano da gestão em saúde, muito já se fez e sempre há muito a fazer.