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Brasil possui um dos melhores sistemas de vigilância do mundo, mas atualizações sempre são necessárias, destaca novo diretor do DEVIT

A vigilância das doenças transmissíveis precisa ser mais propositiva a fim de antecipar as grandes epidemias e propor estratégias de redução de danos

11/03/2019
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Pactuação federativa e trabalho com municípios e estados podem ajudar a entender o porquê da diminuição da cobertura vacinal

Membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) e ex-presidente da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose REDE-TB, Dr. Julio Croda foi recentemente nomeado Diretor do Departamento de Emergência das Doenças Transmissíveis (DEVIT), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 05 de fevereiro.

Durante a entrevista, o diretor lembrou que o Brasil conta com o maior sistema único de saúde gratuito do mundo e dentro da América Latina apresenta a maior capacidade técnica para o enfrentamento às doenças emergentes e reemergentes que vêm sendo frequentemente notificadas no Brasil. Dr. Julio Croda acredita que, assim como aconteceu com a epidemia do zika, o País pode gerar uma resposta adequada aos novos problemas de saúde púbica que venham a surgir. Para saber mais sobre as suas as expectativas e os desafios de gestão, confira a entrevista abaixo na íntegra:

SBMT: Quais as expectativas para a sua gestão?

Dr. Julio Croda: A expectativa é fazer uma gestão compartilhada com os municípios e estados no sentido de apoiar o fortalecimento das ações de vigilância no território, e ampliar ações conjuntas com a Atenção Básica de Saúde.

SBMT: O Brasil tem enfrentado grandes epidemias nos últimos anos e doenças já erradicadas voltam a ser motivo de preocupação entre autoridades sanitárias e profissionais de saúde.  Quais desafios podem ser elencados no que diz respeito à Vigilância Epidemiológica?

Dr. Julio Croda: O desafio é enorme. A vigilância das doenças transmissíveis tem que ter um papel mais propositivo no sentido de antecipar essas grandes epidemias e propor estratégias de redução de danos. Com a diminuição da cobertura vacinal em todo o País ao longo dos anos, doenças imunopreveníveis como sarampo e febre amarela retornam como importante problema de saúde pública no Brasil. É necessário nesse momento uma nova pactuação federativa e trabalhar com municípios e estados para que inicialmente possamos compreender melhor o porquê da diminuição da cobertura vacinal e, dessa forma, propor estratégias efetivas no sentido de aumentar a vacinação de toda a população.

SBMT: Por que é tão difícil tratar da prevenção de doenças?

Dr. Julio Croda: As mudanças culturais ao longo do tempo da nossa sociedade geram novos desafios e dessa forma novas abordagens devem ser propostas para o enfrentamento. O conhecimento, as atitudes e práticas dos nossos profissionais de saúde devem tentar compreender essa nova era no sentido de propor inovações que possam fazer o enfrentamento desse novo cenário.

SBMT: Com a queda nas taxas de vacinação, o Brasil tem visto crescer o risco de ressurgimento de doenças transmissíveis até então consideradas eliminadas. Podemos dizer que o País vive um cenário complexo em termos epidemiológicos e com forte risco de retrocesso também em relação a outras doenças caso descuide de políticas de controle? O que fazer para evitar que isso ocorra?

Dr. Julio Croda: Com certeza. Precisamos rediscutir as estratégias adotadas, propor novos modelos de acesso e repactuar com municípios e estados o aumento da cobertura vacinal.

SBMT: O Brasil está preparado para lidar com surtos de epidemias e com o surgimento de novas doenças, como por exemplo, Vírus Oropouche, febre de Vale do Rift, Febre do Chikungunya, entre outras? Como evitar e minimizar o avanço progressivo das doenças?

Dr. Julio Croda: O Brasil conta com o maior sistema único de saúde gratuito do mundo, o SUS, e, dentro da América Latina, apresenta a maior capacidade técnica para esse enfrentamento. Dessa forma, assim como aconteceu com a epidemia do zika, acredito que o País poderá gerar uma resposta adequada aos novos problemas de saúde púbica que venham a surgir.

SBMT: As doenças emergentes e reemergentes vêm sendo frequentemente notificadas no Brasil e em diferentes países, causando grandes perdas econômicas e constituindo fator de grande relevância para as ações de vigilância epidemiológica. Em sua opinião, o enfrentamento destas doenças requer mais investimento em vigilância epidemiológica, especialmente no que diz respeito à sua capacidade de detecção precoce?  Se sim, o senhor entende que os profissionais de saúde estão capacitados para identificar casos suspeitos e auxiliar no processo de investigação e desencadeamento das medidas de controle? O que pode ser feito?

Dr. Julio Croda: Sim. Já monitoramos os grandes eventos de saúde pública, entretanto com o certo delay em relação a ocorrência de todos os agravos. É necessário modernizar nossos sistemas para que possamos monitorar os agravos em tempo real e, dessa forma, gerar uma resposta apropriada. É importante salientar que o País possui um dos melhores sistemas de vigilância do mundo, mas atualizações sempre são necessárias.

SBMT: Como a SBMT pode ajudar nos desafios das doenças transmissíveis? O senhor vê a possibilidade de aumento na parceria? Como estimular o surgimento de novas lideranças?

Dr. Julio Croda: A relação do Departamento de Emergência das Doenças Transmissíveis (DEVIT), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, com a SBMT é antiga e existe uma grande cooperação técnica no que diz respeito às recomendações nos nossos manuais, financiamento de projetos de pesquisa e eventos. Além disso, pretendemos trabalhar junto com as mídias da SBMT no sentido de estimular pautas relacionadas aos grandes problemas de saúde pública e o combate às “fakenews”.

SBMT: Falta de investimento em pesquisa é uma realidade do País. Como e de que forma a sua diretoria pode ou pretende trabalhar/atuar para mudar esse cenário?

Dr. Julio Croda: Apesar do DEVIT ser um departamento com atividade fim à vigilância, pretendemos trabalhar junto ao Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT), para definir uma agenda de pesquisa e propor novos financiamentos de pesquisa que realmente tenha impacto para o nosso sistema de saúde e sejam inovadores não só para o Brasil quanto para o mundo.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**