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Covid-19: OMS atualiza recomendações para dose de reforço

Além de ser segura, as vacinas bivalentes têm se mostrado efetivas para prevenção de doença grave, hospitalização e morte

10/05/2023

As vacinas bivalentes protegem contra o vírus original, variante Ômicron e suas subvariantes

No dia 28 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu nota com atualizações nas recomendações para as doses de reforço da vacina contra a Covid-19. As novas orientações são fruto de reunião realizada pelo Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da OMS (Sage, em inglês), em que divide a população em três níveis de prioridade de acordo com o risco de saúde: alto risco; médio risco e baixo risco.

A Dra. Marta Heloísa Lopes, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em primeiro lugar esclarece um entendimento equivocado sobre as novas recomendações e atenta que ao dizer que elas foram mudadas, pode dar a entender que a OMS está recomendando diretrizes conflitantes com as anteriormente divulgadas. “Não é isso. No curso de uma pandemia a dinâmica se altera, e novas medidas devem ser adotadas para o melhor enfrentamento”, justifica. Em relação às novas recomendações, a Dra. Lopes, que também é responsável pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais do Hospital das Clínicas da FMUSP, detalha que basicamente a OMS norteia as recomendações de vacinação Covid-19 priorizando a imunização das pessoas mais vulneráveis, isto é, com maior risco de terem doença grave e morrerem.

De acordo com a atualização recente, no grupo de alto risco estão adultos idosos; adultos mais jovens com comorbidades significativas, por exemplo, diabetes e doenças cardíacas; pessoas imunocomprometidas, como pessoas vivendo com HIV e receptores de transplantes, incluindo crianças com idade igual ou superior a 6 meses; gestantes e profissionais de saúde da linha de frente. A imunização deve acontecer entre 6 a 12 meses após a última vacina.

Já o grupo de médio risco inclui adultos saudáveis, geralmente com menos de 50-60 anos, sem comorbidades e crianças e adolescentes com comorbidades. “Recomenda a série primária e as primeiras doses de reforço para o grupo de média prioridade. Embora outros reforços sejam seguros para este grupo, não os recomenda rotineiramente, dados os retornos de saúde pública comparativamente baixos”, ressalta a Dra. Lopes.

Fazem parte do grupo de baixo risco, crianças e adolescentes saudáveis de 6 meses a 17 anos. Ao ponderar a baixa carga da doença, o Sage indica que os países que consideram a vacinação dessa faixa etária devem basear suas decisões em fatores como carga da doença, custo-efetividade e outras prioridades programáticas de saúde. A Dra. Lopes frisa que doses primárias e de reforço são seguras e eficazes para este público.

Ainda segundo a professora, a OMS enfatiza que estas recomendações são para um planejamento de curto a médio prazo. “Como já assinalei, no curso de uma pandemia a dinâmica muda, e novas medidas podem vir a ser necessárias”, completa. A OMS recomenda que os países devem tomar decisões, em relação às doses de reforço das vacinas Covid-19, baseados na carga da doença, custo-efetividade da intervenção e outras prioridades programáticas de saúde. O objetivo é concentrar esforços na vacinação daqueles que enfrentam maior ameaça de doença grave e morte, considerando o alto nível de imunidade da população em todo o mundo devido à infecção e à vacinação generalizadas. O Sage também pediu esforços urgentes para avançar nas vacinações de rotina atrasadas durante a pandemia e alertou para o aumento de doenças evitáveis, como sarampo.

As recomendações ocorrem no momento em que os países adotam abordagens diferentes. Alguns de alta renda, como Reino Unido e Canadá, já estão oferecendo reforços contra Covid-19 às pessoas de alto risco nesta primavera, seis meses após a última dose. No Brasil, grande parte da população já teve acesso à terceira dose, incluindo os grupos de baixo risco. A dose de reforço é segura para todas as idades.

Recomendações atualizadas sobre vacinas bivalentes

Além das diretrizes de esquema vacinal, o Sage também atualizou suas recomendações sobre vacinas bivalentes para que os países possam considerar o uso do imunizante de mRNA da Pfizer (BA.5) para a série primária. A Dra. Lopes garante que elas são tão seguras quanto as monovalentes e que o seu uso não foi acompanhado de maior ocorrência de eventos adversos, em relação àqueles observados com as vacinas monovalentes de mesma plataforma. “Além de ser segura, as vacinas bivalentes, já com material das novas variantes têm se mostrado efetivas para prevenção de doença grave, hospitalização e morte”, reitera.

Sobre a efetividade da vacina bivalente, há estudos robustos. Um deles contou com a participação de mais de 250 mil pessoas com Covid-19 nos Estados Unidos, e os pesquisadores constataram eficácia de 28% (entre vacinados há dois ou três meses) a 56% (entre vacinados há mais de oito meses) contra hospitalização pela doença. Em outro estudo, realizado com idosos vacinados há dois meses, a eficácia ficou em 73%. De acordo com a professora, os muitos trabalhos publicados na literatura e a observação do que ocorre na prática têm atestado que as vacinas Covid-19 são efetivas em atenuar a gravidade da doença. “A proteção contra nova infecção conferida por estas vacinas, entretanto, vai caindo com o passar do tempo, é de relativa curta duração. Soma-se a isso o surgimento de novas variantes do SARS COV-2, daí a necessidade das doses de reforço”, elucida.

Motivos para receber a vacina bivalente

Ao longo da história, no que se refere à saúde, a humanidade viveu momentos difíceis causados por epidemias e pandemias. Foi o caso, por exemplo, da varíola, que matou milhares de pessoas. Essa doença foi erradicada depois da imunização em larga escala. Com a Covid-19, a mais recente emergência global em saúde pública, não é diferente. A vacina é a melhor ferramenta para conter o avanço do vírus. Recentemente o Ministério da Saúde iniciou o “Movimento Nacional pela Vacinação”, com o objetivo de aumentar a taxa de cobertura vacinal de todos os imunizantes oferecidos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), incluindo a vacina contra a Covid-19, e para isso lançou campanha com o imunizante bivalente da Pfizer.

Por que devo me vacinar?

  • – Acabar com a pandemia: o vírus pode não desaparecer, então o grande desafio é controlar sua disseminação. Se cada vez mais pessoas se protegerem por meio da vacinação, ele perde a capacidade de infectar tantas pessoas ao mesmo tempo, o que torna a doença cada vez menos frequente;
  • Proteção coletiva: a vacina protege a saúde de quem se imunizou e também das pessoas à sua volta, especialmente as mais vulneráveis ou que possuam alguma comorbidade, como diabetes e hipertensão. Vacinação é uma estratégia coletiva;
  • Vacina é segura: todos os imunizantes disponibilizados à população são testados e aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Depois de realizados todos os testes, a farmacêutica precisa apresentar documentação referente aos resultados das pesquisas para que os técnicos da Anvisa possam verificar os dados de segurança, eficácia e qualidade do imunizante, e só então liberar a comercialização;
  • Reforço protege ainda mais: mesmo com as duas doses do esquema primário, a dose de reforço se faz necessária, conforme recomendação da faixa etária. Com o tempo, o organismo perde a memória imunológica contra o vírus. Estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com mais de 1,5 mil pessoas revelou que seis meses depois da segunda dose, os anticorpos haviam caído entre os pesquisados. Com o reforço, eles voltaram a subir consideravelmente;
  • Proteção contra variantes: as vacinas bivalentes protegem contra o vírus original, a variante Ômicron e suas subvariantes.

A Dra. Lopes lembra que os grupos para os quais a vacina bivalente está recomendada, no Brasil, são quase todos os grupos definidos como de alta prioridade pela OMS. Ou seja, os grupos mais vulneráveis. São pessoas que por conta da idade (idosos), ou de condições que comprometem a imunidade respondem menos às vacinas, além de, perderem a proteção mais rapidamente. “Reforços para essas pessoas são extremamente importantes. Diminuindo a carga de doença nessas populações mais pacientes, com outras patologias, vão poder ser atendidos nos serviços de saúde. Vacinando os profissionais de saúde, menos profissionais vão adoecer e menor será o absenteísmo, que tanto compromete a qualidade do atendimento”, argumenta.

Quem não completou o esquema vacinal primário com duas doses das vacinas chamadas monovalente, feitas com a cepa original do vírus, deve fazê-lo antes de tomar a vacina bivalente. As vacinas anteriores, embora protejam menos contra a Ômicron, ainda assim ajudam a reduzir o risco de morte e de desenvolver doença grave, por isso, inclusive, continuam sendo indicadas para o esquema vacinal primário de duas doses. Elas continuam à disposição nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

A Dra. Lopes destaca aspectos que a OMS salienta. Entre eles, ela cita que o impacto na saúde pública da vacinação de crianças e adolescentes saudáveis é comparativamente muito menor do que os benefícios estabelecidos pelas vacinas essenciais tradicionais para crianças – por exemplo rotavírus, sarampo, pneumocócicas conjugadas – e das vacinas Covid-19 para grupos de alta e média prioridade. Crianças imunocomprometidas e com comorbidades, que têm risco maior de Covid-19 grave, estão incluídas nos grupos de alta e média prioridade, portanto há recomendação de vacinação.

Outro aspecto mencionado é que os países devem avaliar seu contexto específico ao decidir se devem continuar vacinando grupos de baixo risco, como crianças e adolescentes saudáveis, sem comprometer as vacinas de rotina que são tão importantes para a saúde e o bem-estar dessa faixa etária.

Além disso, a carga de Covid-19 grave em bebês com menos de 6 meses ainda é maior do que em crianças de 6 meses a 5 anos. A vacinação de gestantes – inclusive com uma dose adicional se tiverem passado mais de 6 meses desde a última dose – protege tanto a elas quanto ao feto, ao mesmo tempo em que ajuda a reduzir a probabilidade de hospitalização de bebês por Covid-19.

“Estes são aspectos importantes que devem ser discutidos, apontando quais as medidas mais eficazes em termos de saúde pública. A divulgação dessas estratégias de vacinação deve contemplar explicações que justificam as medidas adotadas”, encerra a professora.

Em setembro de 2022, a OMS declarou que o fim da pandemia estava à vista. Entretanto, ela ainda é considerada uma realidade. A Organização só deve mudar o status da doença quando a maioria dos países avançarem na vacinação, incluindo as doses de reforço, quando melhorar a notificação de dados, e quando aumentar o uso e a disponibilidade a longo prazo dos imunizantes. Para que a pandemia realmente fique para trás precisamos aprender a conviver com o vírus e, para isso, todos devem tomar as doses recomendadas assim que elas se tornem disponíveis.