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Erradicar transmissão vertical de HIV no Brasil ainda representa um grande desafio, diz pesquisadora

Apesar dos bons índices, País não tem dispositivos para identificar falhas na adesão ao acompanhamento pré-natal ou no abandono do tratamento antirretroviral

14/10/2015
Estima-se

Estima-se que aproximadamente 240 mil mulheres em idade reprodutiva no Brasil tenham o vírus da Aids e que a maior parte delas não saiba do seu estado de infecção

Cuba foi o primeiro país do mundo a erradicar a transmissão do vírus HIV de mãe para filho, segundo reconhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, os números mostram avanços que caminham neste sentido, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

No País, entre os anos de 2005 e 2013, houve redução de 50% da taxa de detecção de Aids em crianças com menos de cinco anos de idade. A introdução da triagem sorológica para o HIV durante o acompanhamento pré-natal resultou em considerável redução das taxas de transmissão materno-fetal, que hoje está em torno de 8%. Além disso, a rede pública brasileira dispõe de recursos para o diagnóstico e o tratamento.

Apesar dos bons índices, erradicar a transmissão vertical do HIV no País ainda representa um grande desafio, de acordo com a doutora em Infectologia e Medicina Tropical pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dorcas Lamounier Costa. “Estima-se que aproximadamente 240 mil mulheres em idade reprodutiva no Brasil tenham o vírus da Aids e que a maior parte delas não saiba do seu estado de infecção”, disse a pesquisadora.

“A maior parte dos municípios brasileiros não tem dispositivos para identificar falhas na adesão ao acompanhamento pré-natal ou no abandono do tratamento antirretroviral, a testagem anti-HIV nas salas de parto nem sempre é realizada e a qualidade dos serviços de saúde precisa melhorar de forma radical nas regiões mais pobres, que é exatamente para onde a epidemia de Aids avança”, alerta.

A transmissão do HIV pelo leite materno é um problema de difícil intervenção, especialmente quando as mães apresentam resultados não reagentes da sorologia anti-HIV durante a gestação e se infectaram no período pós-parto.

Apesar dos casos de transmissão vertical ainda ocorrerem, a ciência até pouco tempo atrás não sabia explicar como era possível mães infectadas pelo HIV não transmitirem o vírus para seus filhos, em boa parte dos casos. O esclarecimento veio recentemente por meio de um estudo publicado na revista Science Translational Medicine, liderado pelo doutor Joseph McCune, da Universidade da Califórnia, com macacos rhesus.

Ao colocar filhotes ainda no útero de mães em contato com o SIV, micro-organismo parecido com o HIV e que afeta primatas não humanos, os cientistas identificaram marcadores imunológicos que protegeram as pequenas cobaias do patógeno. A pesquisa indicou que os animais expostos ao SIV no útero melhoraram as respostas imunes, de acordo com informações do jornal Correio Braziliense.

A doutora Dorcas, porém, alerta que estudos como o do doutor McCune são incipientes e não trarão soluções em curto prazo para esse tipo de transmissão. “Não acredito que possamos sonhar com a interrupção da transmissão vertical em um período curto, apesar do grande progresso neste sentido nos últimos anos”, ressalta ao lembrar que o conhecimento em si não será suficiente para impedir que mais crianças sejam infectadas pelo HIV a partir de suas mães. Será necessário um grande passo para trazer este conhecimento para todos os que dele possam se beneficiar.