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Febre do Nilo no Piauí: 285 casos investigados desde 2013

O estado implantou um sistema de vigilância sentinela de encefalites e outras síndromes neurológicas pioneiro no País, motivo pelo qual detecta os casos

06/08/2017
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Os dez casos suspeitos apresentaram resultados sorológicos positivos para VNO, mas com cruzamento para outros flavivírus, o que não permite considerá-los como confirmados antes dos resultados dos exames PRNT

A Secretaria de Estado do Piauí notificou dez casos suspeitos de Doença Neuroinvasiva Grave pelo vírus da Febre do Nilo Ocidental. Os casos referem-se a resultados de exames laboratoriais realizados em 2017, no Instituto Evandro Chagas (IEC), laboratório referência do Ministério da Saúde. Em todos os exames, verificou-se reação cruzada (positividade simultânea) com pelo menos outro flavivírus, dentre eles: zika, dengue e vírus da encefalite de Saint Louis (VESL). Dessas notificações, houve um óbito dentre os casos prováveis, um paciente residente em Teresina/PI.

De acordo com o neurologista do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella e membro da Gerência de Epidemiologia da Fundação Municipal de Saúde de Teresina (FMS/PI), doutor Marcelo Adriano Vieira, a princípio, seria muito precoce estabelecer qualquer conclusão sobre os casos, uma vez que ainda se aguarda os exames do laboratório de referência e investigações de campo realizadas pela equipe de epidemiologia.

Provavelmente, casos humanos já ocorreram e ocorrem em outros estados, mas sem investigação diagnóstica. Evidências sorológicas de atividade do vírus já foram encontradas em animais de outros estados brasileiros. Entretanto, o Piauí implantou um sistema de vigilância sentinela de encefalites e outras síndromes neurológicas pioneiro no País, motivo pelo qual o estado detecta os casos.

O doutor Vieira destaca que desde 2013 há um ritmo regular e estável, ou melhor, cíclico, de notificações no Piauí, pois a vigilância se dá de forma sentinela. “Todos os casos de encefalite e de algumas outras síndromes neurológicas no estado são investigadas, portanto, assumem status de caso ‘suspeito’ para Febre do Nilo Ocidental, além de outros arbovírus, como etiologia. A ocorrência anual destes casos se mantém estável, com tendência a pico no período chuvoso” explica o médico. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí, no total já são 285 casos investigados, desde então.

Em nota, a Secretaria de Estado do Piauí informou que todos os casos têm sido acompanhados e que já adotou as providências pertinentes à Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde deste agravo, entre elas: em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Teresina, realiza a investigação em campo, que envolve identificação e estudo de vetores; elaboração de um plano de ação para enfrentamento à doença; e implantação do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella como unidade de referência estadual para diagnóstico e tratamento da Febre do Nilo Ocidental. Além disso, a Secretaria já notificou o Ministério da Saúde destes resultados que, para confirmação, necessitam ser referendados por exames mais complexos e demorados.

Febre do Nilo Ocidental ou do Oeste do Nilo causa problemas neurológicos e pode ser mortal

O infectologista especialista em Medicina Tropical doutor Dalcy Albuquerque Filho explica que o vírus do Nilo Ocidental foi isolado pela primeira vez em Uganda, em 1937. Nas Américas, surgiu em 1999 nos EUA, de onde o vírus se dispersou para o restante da América do Norte, Central e Sul. No Brasil, já foi identificada circulação em aves e equídeos, na região do Pantanal, porém, apenas um caso humano foi confirmado até hoje. A transmissão é pela picada de mosquitos infectados, possivelmente, em aves portadoras do vírus. O principal gênero envolvido na transmissão é o Culex. Os Culex quiquefasciatus e Aedes albopictus, ambos com registros de isolamento do vírus, são mosquitos abundantes no Brasil, constituindo-se como potenciais vetores.

Em geral, a infecção produz manifestações clínicas inaparentes. Estima-se que, apenas, 20% dos indivíduos infectados desenvolvam sintomas leves, com febre aguda de início abrupto, mal-estar, anorexia, náusea/vômito, dor nos olhos, dor de cabeça, mialgia (dores pelo corpo), exantema máculo-papular (“vermelhão no corpo”) e linfoadenopatia (gânglios palpáveis), que muito se assemelham a outras arboviroses, como dengue ou chikungunya.

A doença neurológica severa (meningite, encefalite ou poliomielite), tem como maior fator de risco a idade avançada (> 50 anos). A encefalite é a mais frequente manifestação neurológica. Além dos sinais/sintomas já citados, apresenta alteração no “padrão mental”, fraqueza muscular severa, paralisia flácida, ataxia e sinais extrapiramidais (tremores), anormalidades dos nervos cranianos, mielite, neurite ótica, polirradiculite e convulsão.

O diagnóstico é por sorologia, para detecção de anticorpos IgM (ELISA) contra o vírus do Nilo Ocidental, coletado entre o 8º e o 14º dia, após o início dos sintomas ou líquido cefalorraquidiano (LCR) coletado até o 8º dia a partir do início dos sintomas. Também por reação em cadeia da polimerase (PCR), Isolamento Viral e exame histopatológico de imuno-histoquímica (necropsia).

Não existe tratamento específico. Para os casos moderados/leves é sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que deve permanecer em observação. Nas formas graves é de suporte, hospitalizado, com reposição de fluidos, assistência respiratória e prevenção de infecções secundárias. Pode precisar de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

“É uma doença de notificação compulsória e imediata. Qualquer caso suspeito deve ser comunicado, imediatamente, às autoridades sanitárias (SMS ou SES), pois, se trata de doença com risco de dispersão pelo território nacional”, ressalta o Dr. Albuquerque.