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Fim da emergência mundial do Zika divide opiniões

Pelas informações epidemiológicas atuais há potencial para difusão da infecção pelo vírus Zika, entretanto as medidas de controle estão melhor estruturadas e há um reforço de pesquisas colaborativas

26/01/2017
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De doença negligenciada à emergência global, Zika é redefinida como doença grave

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou no dia 18 de novembro que a epidemia de Zika – surto afetou mais de 75 países no período de um ano – deixou de constituir uma emergência sanitária de alcance internacional. Entretanto, a entidade foi duramente criticada por pesquisadores internacionais pela resolução. Segundo eles, a medida pode frear os recursos destinados às pesquisas sobre o vírus e a microcefalia. Para Lawrence Gostin, professor de saúde mundial na Georgetown University, a resolução foi um erro. “A resposta internacional para o Zika foi letárgica e o fato de a OMS ter dito emergência mundial, conseguiu mobilizar governos e doadores”, disse.

A declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional para a epidemia de microcefalia foi determinada por um comitê de especialistas considerando a magnitude e transcendência do problema e o potencial de expansão dessa epidemia. “Na Quinta Reunião desse comitê, avaliou-se que a mobilização realizada no período para o conhecimento e o enfrentamento da epidemia foi oportuna e as condições atuais já não se enquadram como situação emergencial”, explica a doutora Celina Martelli, professora visitante do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães – Fiocruz Recife. A epidemiologista lembra que a OMS continuará o monitoramento da situação mundial da microcefalia, outros distúrbios neurológicos e vírus Zika, fornecendo os apoios que se fizerem necessários.

Sobre a declaração da OMS de que o Zika está em movimento e veio para ficar, a médica epidemiologista da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, doutora Carmen Dhalia, admite que pelas informações epidemiológicas atuais há sim um potencial para difusão da infecção pelo vírus Zika, para populações ainda não infectadas (susceptíveis) vivendo em condições ambientais favoráveis à proliferação do vetor. De acordo com a especialista, ainda há que considerar o potencial de transmissão por sangue e secreções infectadas. Portanto a interrupção da cadeia de transmissão do vírus Zika dependerá da quantidade da população susceptível, dos avanços na prevenção (desenvolvimento de vacina e disponibilização etc) e do controle do vetor.

Quanto à evolução da circulação do vírus Zika e o potencial de causar novas epidemias, a doutora Celina avalia que a existência de populações infectadas previamente (imunes), que os avanços no desenvolvimento de tratamentos antivirais,vacinas e/ou no controle vetorial condicionarão a persistência da circulação viral ou o desaparecimento da infecção/doença em populações humanas. Pouco antes do anúncio da OMS, o Ministério da Saúde já havia decidido manter a emergência nacional em saúde pública devido ao vírus. A OMS avaliou a decisão brasileira como apropriada.