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Alto índice de acidentes envolvendo motos na região Nordeste está relacionado com aumento da frota, diz Gabriela Granja Porto

O aumento vertiginoso se deve ao fato da motocicleta ser útil como meio de trabalho, por ser ágil, econômica e de custo reduzido

06/06/2018
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Vítimas de fraturas faciais podem apresentar fraturas únicas ou múltiplas e quanto maior a quantidade dessas fraturas maior e mais complexidade é o tratamento

O Brasil está entre os países com maior número de acidentes envolvendo motocicletas, especialmente nas regiões mais pobres – Norte e Nordeste. De acordo com a professora da Universidade de Pernambuco (UPE) Gabriela Granja Porto, que coordenou recente pesquisa sobre o tema, o aumento do número de acidentes na região Nordeste pode ter vários fatores, mas um deles é o aumento vertiginoso da frota deste tipo de veículo. Para ela, esse fato se deve a motocicleta ser útil como meio de trabalho, por ser ágil, econômica e de custo reduzido.

Os dados da pesquisa, realizada dentro das três principais emergências de trauma de Pernambuco, mostraram que de cada 10 motociclistas vítimas de acidentes, quatro não estavam usando o capacete na hora da queda. “Em relação à grande quantidade que não usava o equipamento, há um consenso de que a população deve ser abordada em dois pilares: a educação e a punição. A autoridade de trânsito reconhece que precisa investir ainda mais no quesito punição para que o próprio condutor sinta o peso da infração”, diz.

O estudo também revelou que cerca de 40% dos entrevistados ingeriu bebida alcoólica, o que pode ter levado o condutor a adotar medidas perigosas na pilotagem da moto, nesse caso, a não utilização do capacete. A professora, que também é membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Buco Maxilo Facial, explica que todo capacete dentro da validade protege o crânio, no entanto, nem todo protege a face. “O capacete fechado é o mais indicado por apresentar a queixeira, que protege a face como um todo. Já os capacetes abertos deixam a face totalmente exposta no momento em que o indivíduo atinge o solo”, ressalta.

As vítimas de fraturas faciais causadas por acidentes com motocicletas podem apresentar fraturas únicas ou múltiplas na face e quanto maior a quantidade dessas fraturas, maior é a complexidade de tratá-las. Segundo a especialista, ainda existe o agravante de que muitas das vítimas não podem ser submetidas ao tratamento adequado por estarem na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), caso apresentem outros traumatismos mais graves. “Essas pessoas podem ter comprometidas a mastigação e a respiração, podem ficar com sequelas estéticas importantes, além do risco de ficar com os olhos em desnível, tudo a depender da complexidade das fraturas e do tempo decorrido até o tratamento adequado”, alerta ao acrescentar que cirurgiões buco maxilo faciais lotados nos grandes hospitais de emergência fazem esses atendimentos, que ocorrem com alta frequência e as fraturas que o paciente é acometido são gravíssimas.

Sobre o perfil das vítimas de traumatismo facial atendidos em emergências após acidentes de motocicletas, a Dra. Gabriela detalha que cerca de 90% eram homens e 56% estavam entre 20 e 29 anos. Para ela, esses dados se justificam pelo fato de justamente serem os homens jovens que mais utilizam esse meio de transporte para se locomover e trabalhar (cerca de 67% afirmou usar este veiculo para trabalhar). “A pesquisa mostrou dados surpreendentes ao apontar que 49% dos entrevistados não possuíam habilitação para dirigir, 37% afirmou ter ingerido bebida alcoólica e 59% disse estar sem o capacete na hora do acidente. Os três achados são proibidos por lei, por este motivo nos impressiona e nos leva a pensar que a fiscalização precisa ser mais efetiva e abranger o estado como um todo”, admite.

A professora concorda que os dados da pesquisa revelam que a fiscalização precisa ser mais abrangente. “É sabido que em muitos países que endureceram a fiscalização e a punição houve diminuição nos acidentes de trânsito de uma maneira geral. A punição mais dura faz o condutor pensar duas vezes antes de realizar uma infração. A legislação é rígida quando proíbe a ingestão do álcool, mas a fiscalização ainda não está abrangente o suficiente. Há discussões nos órgãos de trânsito para a municipalização do trânsito. Acredito que a descentralização ajude na fiscalização mais eficaz”, argumenta. Para ajudar na redução dos acidentes de motocicletas, a especialista entende que a primeira conduta é a utilização dos equipamentos de proteção individual, principalmente o capacete, além de não conduzir sob o efeito de álcool ou drogas, que alteram a percepção do condutor levando a cometer infrações.

Ações – Em 2013, o Colégio Brasileiro de Cirurgia Buco Maxilo Facial convocou todos os estados a entrarem em contato com as autoridades de trânsito locais para que campanhas de prevenção pudessem ser iniciadas na tentativa de diminuir a frequência e a gravidade dos acidentes envolvendo motocicletas. Desde então, a equipe da Dra. Gabriela participa de campanhas de prevenção junto aos motociclistas que trafegam nas ruas do Recife e os que se acidentam e estão internados. Acredita-se que ações concentradas em nível de prevenção primária podem cortar a cadeia em seu momento inicial, gerando mudanças no comportamento e no conhecimento da sociedade sobre tal tema.