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Lançado livro “Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose mansoni e Geo-helmintoses”

A publicação é dedicada às populações negligenciadas que, em pleno século XXI, ainda estão privadas de condições sociais e econômicas adequadas, incluindo o saneamento e o acesso a bens de saúde

04/04/2018

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Doença relacionada à pobreza e às más condições sanitárias, a esquistossomose vem contando, desde o início do século XX, com a contribuição decisiva de médicos e cientistas brasileiros para o seu conhecimento fisiopatológico, clínico, diagnóstico e epidemiológico, assim como na elaboração de estratégias de controle dessa enfermidade, endêmica em diferentes estados do Nordeste do País e em Minas Gerais.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo dados publicados em 2007, a doença estava presente em 54 países, sendo que o Brasil contabilizava 2,5 milhões de pessoas infectadas. Essas estimativas foram baseadas em inquéritos realizados com cobertura parcial e, por essa razão, apenas inquéritos de prevalência de âmbito nacional podem contribuir para um quadro mais preciso sobre a doença e sua disseminação em nosso território.

Com este objetivo, a publicação “Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose Mansoni e Geo-Helmintoses”, de autoria do pesquisador Naftale Katz, traz um estudo de corte transversal de base populacional, com vistas a caracterizar a prevalência de esquistossomose, tricuríase, ancilostomíase e ascaridíase entre alunos de 7 a 17 anos. Foram realizados mais de 190.000 exames parasitológico de fezes de escolares em 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Os resultados comprovaram a redução da prevalência da esquistossomose nas áreas endêmicas, confirmando a hipótese que relaciona o resultado ao grande número de casos tratados e de modo mais significativo, à melhoria observada nas últimas décadas do abastecimento de água e do esgotamento sanitário, nas áreas endêmicas do Nordeste do Brasil e do estado de Minas Gerais, e nas condições socioeconômicas da população.

Em suas conclusões o autor observa que essas melhorias, especialmente no que se refere ao esgotamento sanitário, vêm ocorrendo em um ritmo lento, o que reforça a preocupação com os efeitos de mudanças tanto nas políticas de saneamento, como nas políticas sociais voltadas à eliminação das condições de pobreza, todas com forte impacto nos índices de prevalência das doenças objeto do inquérito.

Saiba mais:

Foram examinados 197.564 escolares residentes em 521 municípios, ou seja, 96,1% do planejado, nas 27 Unidades de Federação e no Distrito Federal.

Os estados que apresentaram as maiores proporções de positivos, nos municípios com população até 500 mil habitantes, estavam localizados em Sergipe (10,67%), Pernambuco (3,77%), Alagoas (3,35%), Minas Gerais (5,81%) e Bahia (2,91%). Chama a atenção os municípios com mais de 500.000 habitantes localizados no Rio de Janeiro (2,80%) em Pernambuco (2,48%) e em Sergipe (2,28%). Com exceção do Espírito Santo (1,02%), nos outros estados a proporção de positivos foi menor que 0,5%.

No Brasil foram encontrados 194.900 escolares negativos e 2.664 eliminando ovos de S. mansoni. A proporção de positivos foi de 0,99% (IC95% – 0,20 a 1,78).

Em relação às geo-helmintoses, foram encontrados 5.192 escolares com ovos de ancilostomídeos nas fezes, dando uma proporção de positivos de 2,73% (IC95% – 1,98 a 3,49). As maiores taxas encontradas na região Norte foram no Pará (7,21%), Tocantins (6,06%) e Amazonas (3,14%). Nos outros estados desta região, as taxas fi caram em torno de 1%. Na região Nordeste, os estados com maior positividade foram o Maranhão (15,79%), Sergipe (6,62%), Paraíba (5,09%) e Bahia (4,23%). Nos outros estados desta região, a positividade fi cou abaixo de 2%. No resto do país, a proporção de positivos ficou abaixo de 1%, sendo que do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, esta proporção foi de 0,5%.

Comparando-se os dados deste inquérito com os dos dois realizados no Brasil, sendo o primeiro por Pellon & Teixeira (1949-53) e o segundo pelo Programa Especial de Controle da Esquistossomose (1975- 78), podemos ver que a queda da prevalência das parasitoses em questão é grande. De fato, considerando-se os dados encontrados nestes três inquéritos em 11 estados endêmicos para esquistossomose, a positividade caiu de 10,09% para 9,24% e atualmente está em 1,79%. Em relação as geo-helmintoses, a diminuição é ainda maior. No primeiro inquérito de Pellon & Teixeira, a proporção de positivos na região Norte, Nordeste e em Minas Gerais variou de 80% a 100%, estando este índice atualmente, muito abaixo do encontrado anteriormente. Apenas para exemplificar, no Maranhão, a proporção dos escolares positivos para geo-helmintos era de 99,4% e atualmente encontra-se em torno de 20%. Já em Minas Gerais, cuja taxa era de 89,4%, neste último inquérito foi de 1,4% para Ascaris, 0,9% para ancilostomídeos e, 0,6% para Trichuris.

Os resultados deste Inquérito, que retratam a situação atual da esquistossomose e das geo-helmintoses em nosso país, devem ser usados para o planejamento de políticas, visando a eliminação destas parasitoses como doenças de saúde pública, com o objetivo de alcançar o bem estar da população brasileira, através do término da iniquidade e do aumento da justiça social.

O livro pode ser acessado integralmente nos endereços eletrônicos abaixo:

http://www2.datasus.gov.br/datasus/index.php?area=0208

http://pide.cpqrr.fiocruz.br (publicação – item 17)