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Malária: Mesmo com benefício dos mosquiteiros, principal ferramenta para o controle é diagnóstico e tratamento precoce

Doutor José Bento destaca que pesquisas com mosquiteiros tratados com inseticidas de longa duração são feitas de forma isolada

09/11/2016
Dr.

A resistência aos inseticidas usados nos MILDs já foi detectada em países da África e Ásia, mas no Brasil pouco se conhece de resistência a vetores de malária

Estudos têm mostrado que mosquiteiros tratados com inseticidas de longa duração (MILDs) têm potencial para melhorar os esforços de controle da malária em áreas de alta resistência a inseticidas – inclusive um divulgado recentemente e conduzido pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Porém, boa parte desses trabalhos acaba sendo feito de forma isolada, segundo o doutor José Bento Lima, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz.

“Estes estudos acontecem de forma isolada, sendo que em alguns locais são escassos, como no Brasil. A resistência aos inseticidas usados nestes MILDs já foi detectada em países da África e Ásia, mas no Brasil pouco se conhece de resistência a vetores de malária”, explica o doutor Bento.

Por isso, ainda de acordo com ele, o Programa Nacional de Controle de Malária (PNCM) está empenhado em conhecer o status da resistência nas populações de vetores de malária no Brasil e já existem algumas iniciativas nesta direção.

Para o pesquisador brasileiro, a principal ferramenta para o controle da malária é o diagnóstico e tratamento precoce. “Porém, em muitas áreas da Amazônia brasileira isso não é uma tarefa fácil. Várias pessoas vivem em áreas remotas de difícil acesso, além das aldeias indígenas e os garimpos clandestinos onde fica difícil de ser montado um ponto para coleta diagnóstico e tratamento da doença”, acrescenta.

Mosquiteiros

Os MILDs são mosquiteiros impregnados com substâncias inseticidas entre os polímeros que formam suas fibras e que, além de evitar o contato do mosquito com o indivíduo, permitem que os vetores morram em algumas horas após entrar em contato com o mosquiteiro.

O número de pessoas mortas pela malária caiu quase pela metade entre 2001 e 2013, diminuindo 47% em todo o mundo e 58% na África, o que permitiu salvar o equivalente a 4,3 milhões de vidas. Esse declínio dos casos se explica pela adoção de medidas de prevenção mais bem aplicadas. Em 2013, cerca da metade da população em risco na África teve acesso a mosquiteiros impregnados com inseticidas, enquanto em 2004 somente 3% desta população tinha acesso a essa medida de prevenção.

“Embora estas medidas tenham avançado significativamente na última década, os benefícios ainda são frágeis e desigualmente distribuídos, mantendo os números de casos e mortes em níveis inaceitáveis principalmente em países da África”, esclarece o doutor Bento.

Ainda segundo o pesquisador, é preciso conhecer melhor as ferramentas disponíveis para o combate à malária. Ele exemplifica com a implantação dos mosquiteiros na Amazônia, de forma massiva, a partir de 2010. Esse processo, no entanto, ocorreu sem estudos prévios para avaliação da efetividade da estratégia, a aceitabilidade dos mosquiteiros pela população ou mesmo uma avaliação do impacto dos mosquiteiros distribuídos no controle de vetores nas localidades atendidas.