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Malária: surto no Burundi atinge proporções epidêmicas

O Burundi atravessa uma das mais drásticas situações de saúde pública da sua história, o que levou à OMS a emitir alerta para o risco de propagação além das fronteiras

11/09/2019
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Quase metade da população total foi infectadas desde o início de 2019. Ao que tudo indica, o número desta epidemia deve superar a de 2017, durante a qual o país reportou mais de 6 milhões de casos e 2.752 mortes

Desde o final de 2018, o Burundi tem registrado um aumento progressivo no número de casos de malária nos 46 distritos do país. Em 2019, já foram notificados mais de 6 milhões de casos e o número de mortes se aproxima de 2.200. Para se ter ideia do tamanho da epidemia, na semana 30 (terminou em 28 de julho) foram reportados 171.150 novos casos e 56 mortes – em comparação com o mesmo período de 2018, isso representa um aumento de 220%. Na semana 32 (terminou em 11 de agosto) foram relatados 112 092 casos e 66 mortes. Os números mostram que houve um aumento de 129% no número de casos relatados na semana 32 de 2019 em comparação à semana 32 de 2018. Mais da metade dos novos casos foram relatados em Buhiga, Cibitoke, Kibuye, Gihofi, Gitega, Makamba, Kinyinya, Distritos sanitários de Giteranyi, Ngozi, Nyabikere e Cankuzo. A malária tem sido um flagelo no Burundi nos últimos anos. De acordo com a World Vision International, entre 2015 e 2017, mais de 19,7 milhões de casos foram registrados. Com uma população de 11,5 milhões, isso equivale a dizer que quase todos os burundianos foram acometidos pela doença duas vezes nesses dois anos.

Burundi é um dos países mais pobres da África e desde 2015 atravessa uma difícil crise socioeconômica. Além disso, em abril foi declarada uma epidemia de cólera. A população encontra grandes dificuldades devido à carência de bens e principalmente remédios e combustíveis. A epidemia de malária também ocorre em meio aos esforços da preparação de resposta às ameaças do atual surto de Ebola na vizinha República Democrática do Congo (RDC). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resposta à epidemia de malária no Burundi precisa ser reforçada com mais recursos técnicos, logísticos e financeiros de doadores e parceiros. Outro problema que organizações nacionais e internacionais temem é a possibilidade deste surto de grandes proporções atravessar as fronteiras para os vizinhos da Região dos Grandes Lagos, República Democrática do Congo, Ruanda ou a Tanzânia.

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A malária é endêmica na maior parte do país e a transmissão ocorre durante todo o ano com dois picos anuais normalmente observados de abril a maio e de novembro a dezembro. O Plasmodium falciparum é responsável por 81,6% das infecções, segundo a Pesquisa de Demografia e Saúde do Burundi (DHS) III de 2016-2017. De acordo com a OMS, a incidência de malária no Burundi excedeu significativamente os níveis esperados para esta época do ano, com um alto número de distritos em fases de epidemia. O baixo uso de medidas protetivas (cobertura de telas inseticidas de longa duração está abaixo de 50% após a última campanha de distribuição, em 2017); baixa imunização da população como consequência de alta mobilidade, especialmente para populações das montanhas, onde normalmente a malária tem uma transmissão baixa; mudanças climáticas e mudanças ecológicas e comportamentais dos vetores (aumento da densidade vetorial e hábitos alimentares – picando tanto dentro como fora de casa , bem como maior agressividade dos vetores) são citados como fatores responsáveis pela alta incidência de casos de malária.

Ações de Saúde Pública

A Força-Tarefa Nacional contra Malária, liderada pelo Ministério da Saúde do país, com apoio técnico da OMS e de outros parceiros, continua a se reunir semanalmente para avaliar a situação e adaptar estratégias para responder à epidemia e as ações incluem:

– Um plano de resposta nacional e atualizado está sendo avaliado por todas as partes interessadas;

– Investigações abrangentes sobre a epidemia e uma avaliação das atividades de controle (conduzidas pelo Ministério da Saúde com o apoio da OMS e parceiros);

– Distribuição de telas inseticidas de longa duração está em curso como parte da rotina de imunização e programas de cuidados pré-natais;

– A gestão de casos está sendo conduzida em todos os ambientes de cuidados à saúde, de forma gratuita, enquanto alguns distritos de saúde estão utilizando clínicas móveis para levar o acompanhamento dos casos para mais perto das comunidades. As clínicas móveis estão funcionando em 20 dos 46 distritos de saúde;

– Um levantamento entomológico pós-intervenção foi realizado nos distritos de saúde de Buye, Kiremba, Ashoho e Muyinga após a pulverização de inseticida residual. Os resultados estão sendo processados para serem comunicados às atividades de controle;

– Está em curso um levantamento da eficácia terapêutica de drogas antimaláricas (artesunato-amodiaquina) em áreas sentinela nos distritos de saúde Prefeitura Norte, em Bujumbura, Mutaho e Nyanza Lac;

– Campanhas de conscientização e promoção de ações preventivas estão em curso, veiculadas por rádio ou levadas por trabalhadores comunitários de saúde.

Ao que tudo indica, o número de casos notificados até o fim desta epidemia deve superar a de 2017, durante a qual o país reportou mais de 6 milhões de casos e 2.752 mortes.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**