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Mudanças climáticas podem aumentar a população de Aedes aegypti nos países tropicais

Pesquisador alerta que aumento da temperatura reduz o período necessário para o patógeno se desenvolver no vetor

10/03/2016
Mate?ria

Previsão deve ser levada a sério pelas autoridades de saúde pública, principalmente as dos países em desenvolvimento ou emergentes localizados nas regiões tropicais e subtropicais

O conhecido inimigo número da saúde pública brasileira, o Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como a dengue e o zika, pode ganhar um importante aliado nos próximos anos: a mudança no clima, especialmente se as previsões de aumento da temperatura se confirmarem. O alerta é dado pelo parasitologista Filipe Dantas Torres, doutor em Saúde Pública e pesquisador do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco (Fiocruz-PE).

“É difícil de prever onde e quando essas mudanças climáticas serão sentidas. De modo geral, a maioria dos países onde o A. aegypti encontra-se presente poderão testemunhar um aumento da população desse vetor nos próximos anos, caso as mudanças climáticas continuem na mesma tendência e se medidas de controle e prevenção apropriadas não forem adotadas”, afirma o pesquisador.

Um dos principais riscos é que o aumento da temperatura, segundo o doutor Filipe, reduz o período necessário para um patógeno se desenvolver no seu vetor – como é o caso do vírus da dengue no A. aegypti. Ou seja, reduz o período necessário para que ocorra a transmissão. “Isso pode causar um aumento não apenas de certas arboviroses em humanos, mas também de outras doenças em animais, como a dirofilariose canina causada pelo verme do coração Dirofilaria immitis”, explica.

O doutor Filipe ressalta que essa é uma previsão real e que deve ser levada a sério pelas autoridades de saúde pública, principalmente as dos países em desenvolvimento ou emergentes localizados nas regiões tropicais e subtropicais.

“O controle de vetores como o A. aegypti deve ser considerado como uma prioridade permanente em áreas onde ele ocorre ou onde ele poderia vir a ser introduzido. O caso (relativamente recente) da reintrodução do Aedes albopictus na Itália é um claro exemplo de que, mesmo em áreas onde esses vetores não estão presentes, o risco de introdução e estabelecimento em novas áreas é iminente”, destaca.

O pesquisador lembra ainda outras dificuldades enfrentadas nos países pobres. Entre elas, a falta de recursos humanos e infraestrutura na saúde pública, o que agrava a situação, sobretudo, “em períodos de crise econômica e política”. Outro problema é a mudança nos hábitos da população, como evitar o acúmulo de água parada – um problema difícil de ser contornado especialmente no Nordeste, onde há regiões com longos períodos de seca.

“O controle efetivo dessas doenças não depende apenas do poder público, depende de cada um de nós. É preciso nos responsabilizarmos pelos nossos atos e cultivar o pensamento coletivo. Nessa guerra contra o Aedes aegypti, por exemplo, temos que nos unir em prol do coletivo. Como se costuma dizer, unidos venceremos. Sozinhos, estaremos fadados ao fracasso”, ressalta o doutor Filipe.

Clima também pode afetar países desenvolvidos

Não apenas os países tropicais devem estar em alerta: os chamados ‘países de primeiro mundo’ também podem ser seriamente afetados, especialmente pelas doenças transmitidas pelos carrapatos. Em artigo sobre o tema, o doutor Filipe ressalta que há um risco iminente da disseminação desses artrópodes até em regiões onde estavam ausentes, como em alguns países da Europa setentrional e centro-oriental.

De um modo geral, segundo o pesquisador, o aquecimento global pode levar ao aparecimento de carrapatos em áreas onde hoje as baixas temperaturas médias anuais e os invernos rigorosos são fatores limitantes para a sobrevivência desses parasitos.

O aumento da distribuição geográfica e da densidade populacional de carrapatos, associado a outros fatores, poderá levar a um aumento da incidência de doenças como encefalite transmitida por carrapatos, Lyme e riquetsioses, como a febre maculosa do mediterrâneo. Casos dessas doenças podem vir a surgir em áreas até então consideradas como “livres” e, em algumas áreas onde essas doenças estão presentes, mas como baixa incidência, pode-se esperar um aumento no número de casos registrados.

O carrapato vermelho do cão Rhipicephalus sanguineus é uma espécie que se ‘beneficiará’ das mudanças climáticas. Ele está presente em todos os continentes, mas prefere regiões de clima tropical e subtropical. Estudos sugerem que um aumento da temperatura média anual de 2-3 graus Celsius poderá levar a uma expansão da distribuição geográfica desse carrapato. “Estudos têm correlacionado o aumento das temperaturas durante o verão com o aumento de casos de parasitismo humano pelo Rhipicephalus sanguineus, bem como de casos de doenças como febre maculosa do mediterrâneo na França”, aponta o parasitologista.