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Modelo matemático promete contribuir para combate à leishmaniose

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13/06/2013

Modelo

Combinar a matemática, a análise de padrões de dados, com o trabalho de laboratório para entender melhor a ecologia, epidemiologia e evolução da leishmaniose visceral. Essa é a proposta do Dr. Huppert Amit, Ph.D.em Biologia Matemáticapela Universidade de Tel Aviv e especialista em pesquisa interdisciplinar, abrangendo epidemiologia, ecologia, clima, estatística e matemática.

Em entrevista à SBMT, o especialista conta que o projeto visa aplicar modelos matemáticos para facilitar a formulação de hipóteses, para orientar estratégias de coleta de dados racionais e determinar o tamanho da amostra necessária para discriminar entre as hipóteses concorrentes. A iniciativa busca contribuir para a elaboração de estratégias de controle mais eficientes, formulando critérios mensuráveis, a fim de se atingir o monitoramento ideal.

SBMT: Dr. Huppert o que o senhor descobriu com seu estudo?
HA: As doenças são transmitidas por vetores entre diferentes espécies de hospedeiros. Nesse estudo, descobrimos um mecanismo intuitivo curioso que, diferentemente de teorias anteriores, sugere que o risco de contágio das doenças de múltiplos hospedeiros transmitidas por vetores é aumentado quando se amplia ou diminui o número de hospedeiros de diferentes espécies que participam da transmissão.
A afirmação desse mecanismo implica em um duelo entre as premissas atuais, acerca da interação entre biodiversidade, mudanças climáticas e risco de contágio. Isso também indica que as políticas de saúde pública, de intervenções focadas em proteger o hospedeiro, pode aumentar o risco de contágio ao invés de diminuí-lo.

SBMT: O estudo desenvolvido tem tido boa aceitação?
HA: O estudo foi realizado por mim e por meus estudantes. Ele ainda não foi publicado, mas a comunidade científica está relutante em aceitá-lo, pois é um tanto provocativo.

SBMT: Como o senhor e seus alunos chegaram a essa conclusão?
HA: Nós lemos vários trabalhos mostrando que se eliminarmos mais hospedeiros, o risco cai em uns e aumentaem outros. Quando olhamos para todos os modelos, percebemos que todos caiam, então ficamos intrigados se poderíamos com um truque matemático descobrir um modelo que o faria aumentar – o que foi até fácil de fazer.

SBMT: Então o risco estaria crescendo em alguma proporção? Podemos entender que as ações para o controle da leishmaniose podem estar erradas?
HA: Existem proporções que aumentam o risco de transmissão. Mas para avaliar qual é essa proporção depende de fatores. Queremos mostrar que se fizermos tratamentos parciais pode-se aumentar o risco de contágio, o que demanda cuidados. O ponto principal apresentado é que, diferentemente do procedimento padrão, devemos ter cuidado, já que se pode aumentar o risco de contágio.

SBMT: Resumidamente, em que consiste esse seu modelo?
HA: No Brasil, temos, no caso da leishmaniose, como hospedeiros o cão e o homem. Com base nisso montamos um gráfico. Em nosso modelo há dois parâmetros, sendo que um é a preferência do vetor e o outro é o quão eficiente é a transmissão do hospedeiro. Digamos que existem dois hospedeiros, qual o vetor prefere? Esse é um dos questionamentos.

SBMT: O estudo focou somente no cão e no homem, ou já levaram em consideração morcegos, gatos, etc?
HA: Podemos complicar muito mais ampliando os parâmetros. Entretanto, o modelo já é considerado bem complexo para pessoas da área da saúde que não gostam de matemática. Contudo, para nós é interessante levando em conta essa nova matemática – mas para os práticos, o modelo simples é melhor, pois demonstra a ideia. Na minha avaliação, quando isso ocorre, o modelo não corresponde com a realidade, pois ela é muito mais complicada que nosso modelo.