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Atenção Primária tem papel importante na prevenção de doenças tropicais Atenção Primária tem papel importante na prevenção

09/04/2012

materia-sbmt-foto

Acidentes de trânsito, envolvendo veículos de diferentes naturezas, em especial motos, suicídios e homicídios passam a figurar como condições relevantes para abordagem na saúde

Diferentes concepções de saúde e doença vêm sendo expressas, com maior ou menor dominância ou senso comum, ao longo da história da humanidade. Tais concepções emergem no campo da saúde pública principalmente a partir de grandes paradigmas sociais, clínicos e epidemiológicos. Esse contexto também se reverbera claramente nas denominadas doenças tropicais.

No Brasil, o intenso processo de urbanização e industrialização que emergiu no século XX e intensificou-se sobremaneira na atualidade, é seguido por uma onda sustentada de crescimento econômico acelerado, em todas as regiões do país. “Isso nos traz à reflexão de que a Medicina Tropical não deve ser limitada a processos que se expressam em populações mais pobres e rurais: a vulnerabilidade e a exclusão transcendem esses clássicos determinantes sociais. Obviamente não se restringe aos processos infecciosos e parasitários, apesar de sua grande importância em saúde pública no país”, constata Dr. Alberto Novaes Ramos Jr, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Doenças endêmicas tradicionais persistem em nosso meio, como por exemplo, leishmanioses, doença de Chagas, malária, esquistossomoses, hanseníase, tuberculose e leptospirose. Outras mais recentemente emergiram e encontraram condições para amplificarem e se sustentarem, como dengue, hantaviroses, infecção por HIV, HTLV e pelos vírus das hepatites. O fato é que se morre menos por doenças infecciosas e parasitárias e, por outro lado, amplia-se a expectativa de vida, trazendo uma carga maior de condições crônico-degenerativas, em sintonia com os modos de produção e de consumo das sociedades; alimentação hipercalórica e simplificada nutricionalmente, consumo de álcool e drogas, estresse, migração, saúde de viajantes, dentre outros. Dr. Alberto cita um exemplo clássico. “O aumento de doenças associadas à exposição exacerbada à radiação ultravioleta (UV), que compõe a luz solar que atinge a superfície da Terra”. Ele lembra que além de efeitos imediatos dessa exposição, como queimaduras solares, fotoalergias e bronzeamento, geram reações tardias e cumulativas durante toda a vida, levando não apenas ao envelhecimento cutâneo, mas também a alterações celulares que predispõem ao surgimento do câncer de pele. “Certamente, trata-se de evento que deve ser também considerado como doença tropical”, confirma o especialista.

Por outro lado, dentro da (des)organização social dos territórios urbanos, causas externas de morbimortalidade vêm assumindo papel central. “Acidentes de trânsito, envolvendo veículos de diferentes naturezas, em especial motos, suicídios e homicídios passam a figurar como condições relevantes para abordagem no sistema de saúde. Enfim, condições de saúde mescladas, de diferentes naturezas, dentro do mundo tropical brasileiro, gravitando entre a tradição da Medicina Tropical e os ‘novos’ desafios que se anunciam desde a segunda metade do século XX”, explica Dr. Alberto. Assim, amplia-se claramente o foco de atuação da Medicina Tropical, bem como a responsabilidade para integração de sua atuação no Sistema Único de Saúde (SUS).

Hoje, a municipalização é um fato político e as ações de controle das diferentes doenças tropicais nos municípios devem estar integradas no escopo do conceito de vigilância em saúde, demarcado pela análise permanente da situação de saúde da população brasileira. “As ações de vigilância incluem necessariamente promoção da saúde, vigilância, proteção, prevenção e controle das doenças e agravos à saúde”, enumera o especialista do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Ele ressalta que a vigilância em saúde, incluindo as doenças tropicais, tem como referencial maior a integralidade do cuidado, e para tanto, deve estar necessariamente inserida na construção das redes de atenção à saúde.

“A articulação entre atenção primária à saúde e vigilância em saúde é condição obrigatória para a integralidade da atenção e para o alcance de resultados esperados”, afirma. Daí a importância de os profissionais que atuam no enfrentamento das doenças tropicais reconhecerem as legitimidades dessas práticas. “Como perspectivas em comum entre atenção primária e vigilância, incluindo os aspectos inerentes às doenças tropicais, tem-se o foco nas pessoas e no território vivo. De forma específica, as ações de promoção da saúde encontram na atenção primária à saúde o espaço propício para o seu desenvolvimento e estão voltadas para a redução da vulnerabilidade e das desigualdades existentes, buscando intervir sobre os determinantes e condicionantes da saúde”, constata o especialista.

Dr. Alberto explica que para o profissional médico, essa reconstrução do modelo de atenção e vigilância implica necessariamente em reformulação da formação, tanto na graduação quanto na pós-graduação. “Em 1996, com a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, iniciou-se a construção das Diretrizes Curriculares Nacionais com base na definição de competências necessárias para que também os médicos atuassem efetivamente não apenas frente às novas tecnologias em saúde, mas também com capacidade para enfrentarem os desafios do desenvolvimento do SUS”, revela.

Nesse sentido, ficou evidente a necessidade de profissionais com uma formação que compreenda a integralidade dos cuidados que são demandados pela população e que inclua novas tecnologias. O perfil profissional passa necessariamente por boa formação geral, humanista, crítica e reflexiva, com capacitação para atuar com base em perspectiva diferenciada da assistência.

De forma mais específica, conforme explicitado nas Diretrizes Nacionais dos Cursos de Medicina no Brasil, “os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Medicina devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em medicina”, comenta.

“A percepção geral, atual, é da necessidade de conhecer a inserção das doenças tropicais em seu conceito mais amplo nos currículos dos cursos de graduação em saúde, em dissonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais e com a Política Nacional de Saúde”, diz o médico. Este cenário, portanto, necessita de urgente contextualização e diagnóstico com a participação efetiva de escolas formadoras, gestores e profissionais de saúde, objetivando buscar caminhos para aprimorar o ensino nessa área. “O foco é contribuir para respostas efetivas e contextualizadas ao fortalecimento do SUS”, conclui.

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Acidentes de trânsito, envolvendo veículos de diferentes naturezas, em especial motos, suicídios e homicídios passam a figurar como condições relevantes para abordagem na saúde

Diferentes concepções de saúde e doença vêm sendo expressas, com maior ou menor dominância ou senso comum, ao longo da história da humanidade. Tais concepções emergem no campo da saúde pública principalmente a partir de grandes paradigmas sociais, clínicos e epidemiológicos. Esse contexto também se reverbera claramente nas denominadas doenças tropicais.

No Brasil, o intenso processo de urbanização e industrialização que emergiu no século XX e intensificou-se sobremaneira na atualidade, é seguido por uma onda sustentada de crescimento econômico acelerado, em todas as regiões do país. “Isso nos traz à reflexão de que a Medicina Tropical não deve ser limitada a processos que se expressam em populações mais pobres e rurais: a vulnerabilidade e a exclusão transcendem esses clássicos determinantes sociais. Obviamente não se restringe aos processos infecciosos e parasitários, apesar de sua grande importância em saúde pública no país”, constata Dr. Alberto Novaes Ramos Jr, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Doenças endêmicas tradicionais persistem em nosso meio, como por exemplo, leishmanioses, doença de Chagas, malária, esquistossomoses, hanseníase, tuberculose e leptospirose. Outras mais recentemente emergiram e encontraram condições para amplificarem e se sustentarem, como dengue, hantaviroses, infecção por HIV, HTLV e pelos vírus das hepatites. O fato é que se morre menos por doenças infecciosas e parasitárias e, por outro lado, amplia-se a expectativa de vida, trazendo uma carga maior de condições crônico-degenerativas, em sintonia com os modos de produção e de consumo das sociedades; alimentação hipercalórica e simplificada nutricionalmente, consumo de álcool e drogas, estresse, migração, saúde de viajantes, dentre outros. Dr. Alberto cita um exemplo clássico. “O aumento de doenças associadas à exposição exacerbada à radiação ultravioleta (UV), que compõe a luz solar que atinge a superfície da Terra”. Ele lembra que além de efeitos imediatos dessa exposição, como queimaduras solares, fotoalergias e bronzeamento, geram reações tardias e cumulativas durante toda a vida, levando não apenas ao envelhecimento cutâneo, mas também a alterações celulares que predispõem ao surgimento do câncer de pele. “Certamente, trata-se de evento que deve ser também considerado como doença tropical”, confirma o especialista.

Por outro lado, dentro da (des)organização social dos territórios urbanos, causas externas de morbimortalidade vêm assumindo papel central. “Acidentes de trânsito, envolvendo veículos de diferentes naturezas, em especial motos, suicídios e homicídios passam a figurar como condições relevantes para abordagem no sistema de saúde. Enfim, condições de saúde mescladas, de diferentes naturezas, dentro do mundo tropical brasileiro, gravitando entre a tradição da Medicina Tropical e os ‘novos’ desafios que se anunciam desde a segunda metade do século XX”, explica Dr. Alberto. Assim, amplia-se claramente o foco de atuação da Medicina Tropical, bem como a responsabilidade para integração de sua atuação no Sistema Único de Saúde (SUS).

Hoje, a municipalização é um fato político e as ações de controle das diferentes doenças tropicais nos municípios devem estar integradas no escopo do conceito de vigilância em saúde, demarcado pela análise permanente da situação de saúde da população brasileira. “As ações de vigilância incluem necessariamente promoção da saúde, vigilância, proteção, prevenção e controle das doenças e agravos à saúde”, enumera o especialista do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Ele ressalta que a vigilância em saúde, incluindo as doenças tropicais, tem como referencial maior a integralidade do cuidado, e para tanto, deve estar necessariamente inserida na construção das redes de atenção à saúde.

“A articulação entre atenção primária à saúde e vigilância em saúde é condição obrigatória para a integralidade da atenção e para o alcance de resultados esperados”, afirma. Daí a importância de os profissionais que atuam no enfrentamento das doenças tropicais reconhecerem as legitimidades dessas práticas. “Como perspectivas em comum entre atenção primária e vigilância, incluindo os aspectos inerentes às doenças tropicais, tem-se o foco nas pessoas e no território vivo. De forma específica, as ações de promoção da saúde encontram na atenção primária à saúde o espaço propício para o seu desenvolvimento e estão voltadas para a redução da vulnerabilidade e das desigualdades existentes, buscando intervir sobre os determinantes e condicionantes da saúde”, constata o especialista.

Dr. Alberto explica que para o profissional médico, essa reconstrução do modelo de atenção e vigilância implica necessariamente em reformulação da formação, tanto na graduação quanto na pós-graduação. “Em 1996, com a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, iniciou-se a construção das Diretrizes Curriculares Nacionais com base na definição de competências necessárias para que também os médicos atuassem efetivamente não apenas frente às novas tecnologias em saúde, mas também com capacidade para enfrentarem os desafios do desenvolvimento do SUS”, revela.

Nesse sentido, ficou evidente a necessidade de profissionais com uma formação que compreenda a integralidade dos cuidados que são demandados pela população e que inclua novas tecnologias. O perfil profissional passa necessariamente por boa formação geral, humanista, crítica e reflexiva, com capacitação para atuar com base em perspectiva diferenciada da assistência.

De forma mais específica, conforme explicitado nas Diretrizes Nacionais dos Cursos de Medicina no Brasil, “os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Medicina devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional, proporcionando a integralidade das ações do cuidar em medicina”, comenta.

“A percepção geral, atual, é da necessidade de conhecer a inserção das doenças tropicais em seu conceito mais amplo nos currículos dos cursos de graduação em saúde, em dissonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais e com a Política Nacional de Saúde”, diz o médico. Este cenário, portanto, necessita de urgente contextualização e diagnóstico com a participação efetiva de escolas formadoras, gestores e profissionais de saúde, objetivando buscar caminhos para aprimorar o ensino nessa área. “O foco é contribuir para respostas efetivas e contextualizadas ao fortalecimento do SUS”, conclui.