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Paleoparasitologia abre novos caminhos para estudo de doençasPaleoparasitology draws new paths towards disease studies 11/11/2013

Paleoparasitologia

Estudo de parasitos encontrados em material arqueológico ou paleontológico permite reconstituir etapas sobre a presença de infecções ocorridas no passado

 

“A paleoparasitologia permite recuperar dados de situações do passado possibilitando esclarecer muitas vividas no presente. Cada passo pode ser revisitado por meio de métodos e técnicas de estudos sobre doenças ocorridas há tempos, desde o testemunho a partir de crônicas, textos antigos, manifestações artísticas, até o encontro do próprio parasito ou de seu genoma”, atesta Dr. Adauto de Araujo, pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz/Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), no Rio de Janeiro, ao comentar matéria veiculada no Daily Herold revelando que cientistas estão realizando o rastreamento de doenças antigas.

Na avaliação do pesquisador, os estudos em paleoparasitologia, ou seja, o estudo de parasitos encontrados em material arqueológico ou paleontológico permite reconstituir etapas sobre a presença de infecções no passado. “Existe parasito, que atualmente infecta a espécie humana, herdado de ancestrais. Alguns acompanham os humanos desde o período pré-hominídeo, enquanto outros parasitos foram adquiridos do ambiente, à medida que os humanos passaram a conquistar novos territórios e a transformá-los de acordo com suas necessidades”, atenta Dr. Adauto.

O especialista observa que em um trabalho clássico de Barret et al. (Emerging and re-emerging infectious diseases: the third epidemiologic transition. Ann. Rev. Anthropol. 27, 247-271, 1998.) são identificados três momentos de mudanças no perfil epidemiológico: a transição do paleolítico para o neolítico, com o florescimento das doenças infecciosas; a seguir, a mudança para o aumento da mortalidade por doenças crônicas, com a industrialização; e, a partir daí, o ressurgimento de novas doenças infecciosas, a reemergência de outras, o surgimento de cepas de parasitos resistentes às drogas usadas em seu tratamento e a mudanças na ecologia de doenças.

Dr. Adauto acredita que compreender estes processos, seguindo os passos para entender como se comportavam as doenças infecciosas, são os principais objetivos dos estudos sobre doenças no passado. “Desta forma, é possível esclarecer mudanças ou permanências de comportamento que ajudam a explicar a evolução das doenças infecciosas”, enfatiza o pesquisador ao comentar que a paleoparasitologia interessa tanto às ciências da saúde como às ciências humanas – história, arqueologia, antropologia, entre outras.

Paleoparasitologia em prol da saúde
Dr. Adauto lembra que há algumas décadas a paleoparasitologia limitava-se à comprovação da presença de parasitos em material arqueológico ou paleontológico. Entretanto, com a introdução das técnicas de biologia molecular foi possível recuperar material genético do passado e comparar com exemplares atuais. “Recentemente foram publicados estudos sobre Toxoplasma gondii e Plasmodium falciparum em múmias egípcias, abrindo novos caminhos para estudos sobre as mudanças no comportamento de doenças”, antecipa ao realçar que o mesmo se fez com a doença de Chagas e a tuberculose, que talvez sejam tão antigas no continente americano como a presença humana.

Chagas ainda é problema em países tropicais
Há vários exemplos de doenças tropicais – mais prevalentes nos trópicos por serem neles que se concentram os países mais pobres e menos desenvolvidos – conforme comenta o pesquisador da Fiocruz. Ele assinala que, ao desenvolver ações e ao adotar medidas adequadas de controle das infecções, determinadas doenças tornaram-se menos importantes.

Segundo Dr. Adauto, doenças em que o controle baseia-se na imuno prevenção, constituem bons exemplos. “A doença de Chagas, cuja transmissão fazia-se principalmente pelo vetor Triatoma infestans, também é um bom exemplo”, cita ao assegurar que estas duas situações, se não foram totalmente erradicadas, estão muito bem controladas. Mas, por outro lado, o pesquisador observa que algumas doenças transmissíveis, como as leishmanioses, antes restritas a áreas rurais, tornaram-se problemas sérios nas cidades por conta de migrações humanas e mudanças ambientais e sociais.

Para o pesquisador, a própria doença de Chagas, já citada como sucesso na interrupção da transmissão pelo vetor domiciliado, passou a apresentar outra situação após estas mudanças. Ele explica que pacientes crônicos tornaram-se um grande problema, especialmente por não terem acesso aos grandes centros para tratamento de lesões cardíacas ou digestivas. “Outra situação ocorre com aqueles assintomáticos, mas infectados pelo Trypanosoma cruzi, que migram para outros países onde se tornam doadores de sangue e transmitem a infecção”, alerta.

O pesquisador recorda Aidan Cockburn, um dos fundadores da Paleopathology Association, ao relatar que as doenças infecciosas compõem-se de três variáveis: o hospedeiro, o patógeno e o ambiente. “É um fluxo constante, capaz de mudar a cada passo por qualquer variação em um de seus componentes. Novas doenças aparecem, as antigas se alteram e algumas desaparecem completamente”, segundo Cockburn.

Paleoparasitologia

The study of parasites found in archeological or paleontological material allows to rebuild steps of past infections

“Paleoparasitology allows researchers to recover data from past situations, allowing to enlighten many present situations. Each step can be revisited through study methods and techniques about diseases that happened long ago, through chronicles testimony, ancient literature, artistic manifestations to the finding of the parasite itself or its genome”, assures Dr. Adauto de Araujo, lead researcher from the Oswaldo Cruz Foundation / Sergio Arouca National Public Health School, in Rio de Janeiro, while commenting the article from Daily Herold revealing that scientists are tracking ancient diseases. 

In the researchers evaluation, the studies in paloparasitology, the study of parasites found in archeological or paleontological material allows to rebuild steps of the presence of past infections. “There are parasites, that are currenlty infecting human species, inherited from ancestors. Some have followed humans since the pre-hominid period, while other parasites were acquired from the environment, as humans conquered new territories and changed them according to their needs”, points Dr. Adauto.

The specialist observes that in a classic paper from Barret et al. (Emerging and re-emerging infectious diseases: the third epidemiological transition. Ann. Rev. Anthropol. 27, 247-271, 1998) three shifting moments of the epidemiological profile are identified: the transition from paleolithic to neolithic, with the flowering of infectious diseases; hereafter, the rise of chronic diseases mortality, with industrialization; and since then, the resurgence of new infectious diseases, the reemergence of others, the emergence of parasite strains resistant to drugs used in their treatment and changes in the diseases ecology.

Dr. Adauto believes comprehending these processes, following the steps to understand the behavior of infectious diseases, are the main goals for past diseases study. “This way, it is possible to enlighten changes or behavior continuities that help to explain the infectious diseases evolution”, emphasizes the researcher while commenting that paleoparasitology interests both health sciences and human sciences – history, archeology, anthropology, among others.

Peloparasitology for health
Dr. Adauto reminds that some decades ago, paleoparasitology was limited to proving the presence of parasites in archeological or paleontological materials. However, the introduction of molecular biology techniques allowed to recover genetic material from the past and compare to actual specimens. “Recently articles were published covering topics on Toxoplasma gondii e Plasmodium falciparum in egyptian mummies, clearing paths for the study on shifting diseases behavior”, anticipates while highlighting that the same was done to Chagas Disease and tuberculosis, which may present in the Americas aslong as human presence.

Chagas is still a problem in tropical countries

There are several examples of tropical diseases – more prevalent in the tropics, once they gather the poorest and least developed countries – as comments the Fiocruz researcher. He points that, when developing actions and applying adequate infections control, certain diseases become less important.

According to Dr. Adauto, diseases whose control is based on immuno prevention, are good examples. “Chagas disease, whose transmission was mainly done by the vector Triatoma infestans, is also a good example”, quotes while assuring that these two situations, if not already eradicated, are very well controlled. But, on the other hand, the researcher observes that some transmissible diseases, as the leishmaniasis, before contained to the rural areas, have became a serious health problem in the cities, due to human migrations, environmental and social changes.

For the researcher, Chagas disease itself, quoted as a success in interrupting vector transmission, presented a different situation after these changes. He explains that chronic patients became a big problem, especially because they dont have access to the best treatment facilities in cardio or digestive disorders. “Another situation happens with those assymptomatic, but infected by the Trypanosoma cruzi, that migrate to other countries and become blood donors and thus transmitting the infection”, alerts.

The researcher recalls Aida Cockburn, one of the founders of the Palopathology Association, while reporting that infectious diseases are based in three variables: the host, the pathogen and the environment. “It is a constant flow, capable of changing in every step by changes in any of its components. New diseases appear, the old diseases change and some disappear completely”, according to Cockburn.