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Fome nas cidades: que dia terá fim?Hunger in cities: when will it end?

13/02/2013

fome

Iniciativa da FAO busca erradicação da fome em nível mundial, baseada no exemplo desenvolvido para resolver a questão na América Latina e Caribe – com desenvolvimento de leis, políticas e programas de segurança alimentar e nutricional

Uma em cada oito pessoas no mundo está drasticamente desnutrida. Esta é a conclusão publicada, no segundo semestre de 2012, no relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), intitulado “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”. O número representa cerca de 870 milhões de pessoas, onde o quadro das crianças é alarmante com 2,5 milhões de mortes. A média de subnutridos representa 12,5% da população mundial. Mas os percentuais aumentam para 23,2% nos países em desenvolvimento e caem para 14,9% nas nações desenvolvidas.

De acordo com o documento, o número total de pessoas que passam fome caiu em 132 milhões comparando os períodos de 1990 a 1992 e 2010 a 2012. A publicação também aponta que os números de pessoas que passam fome ou sofrem de desnutrição no Brasil, em Angola (África) e em Moçambique (África), países de língua portuguesa, caíram no período de 1990 a 2012.

O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano, descreve como “inaceitável” o número de subnutridos no mundo, considerando os avanços tecnológicos conquistados pela humanidade. Graziano observa que mais de 100 milhões de crianças com menos de cinco anos estão abaixo do peso.

Para o economista e sociólogo, Marcelo Medeiros, que atualmente realiza estudos no campo da desigualdade social, existe fome, ou mais exatamente, desnutrição, em boa parte dos países do mundo. “A fome é mais comum entre as pessoas pobres, mas não é exclusiva de países pobres. Antes de ser um problema de desigualdade entre nações a fome é um problema de desigualdade entre classes”, atenta Medeiros ao concluir que os ricos de países pobres nunca passam fome.

Medeiros, que também é professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que a pobreza não é tudo. “Em certas partes do mundo há mais fome relacionada à guerra do que à pobreza”, revela. Para ele, o motivo é porque a fome ocorre por um problema na distribuição dos alimentos e não por um problema de falta de alimentos a serem distribuídos.

FAO planeja erradicar a fome
Pensando em uma solução para o problema, a FAO lançou uma iniciativa de erradicação da fome em nível mundial, baseada no exemplo desenvolvido para resolver a questão na América Latina e Caribe – que busca o desenvolvimento de leis, políticas e programas de segurança alimentar e nutricional.

A nutricionista e professora da UnB Regina Coeli acha importante a ação da FAO e atenta que pessoas mal nutridas são mais propensas a desenvolver doenças. Ela aponta que a carência alimentar, seja causada pela falta de acesso ao alimento ou por uma alimentação pobre em nutrientes, debilita o sistema imunológico da pessoa deixando seu organismo vulnerável a várias patologias viróticas, bacterianas, causadas por vermes ou protozoários.

“Além das doenças orgânicas, as implicações psicossociais são devastadoras”, avalia ao lembrar que a desnutrição ocorre devido à falta de nutrientes, proteínas e calorias. A nutricionista explica que a carência de vitamina D, causa raquitismo, assim como a ausência de ferro provoca anemia e ressalta que isso ocorre, em sua maioria, com pessoas que passam fome.

Fome crônica X fome aguda
A desnutrição, principalmente devido à falta de alimentos energéticos e proteínas, faz crescer a taxa de mortalidade, em parte, pela fome e, também, pela perda da capacidade de combater as infecções. Muitas pessoas em todo o mundo passam fome ou estão subnutridas, apresentando carências alimentares graves.

“Se a pessoa sente uma urgência, está com grande apetite ao se alimentar, dizemos que ela está com fome aguda. Já se habitualmente não tem acesso a alimentos e/ou a alimentação diária, não disponibiliza os nutrientes suficientes para a manutenção do seu corpo e desempenho de suas atividades cotidianas, ela está com fome crônica”, diferencia a nutricionista ao reconhecer que a fome aguda não mata ninguém.

Morte de crianças por desnutrição
A organização não governamental (ONG) Salvem as crianças divulgou, em fevereiro de 2012, relatório informando que a cada minuto cinco crianças morrem no mundo em decorrência de desnutrição crônica. O documento também adverte que cerca de 500 milhões de meninos e meninas correm risco de ter sequelas permanentes nos próximos 15 anos.

O documento aponta, ainda, que embora a fome tenha sido reduzida nas últimas duas décadas, pelo menos seis países continuam entre os mais afetados: Congo, Burundi, Comores, Suazilândia e Costa do Marfim, no continente africano, além da Coreia do Norte, que aparece em sexto lugar na lista dos piores dados referentes à fome no mundo desde 1990.

Individuo desnutrido
De acordo com a nutricionista, sofrem de desnutrição indivíduos cujos organismos manifestam sinais clínicos provenientes da inadequação quantitativa (energia) ou qualitativa (nutrientes) da dieta ou decorrentes de doenças que determinem o mau aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos. “Em gestantes, crianças e idosos os efeitos da desnutrição são mais danosos devido a estados fisiológicos especiais”, diz. Essa é a mesma condição das pessoas que são desnutridas por passarem fome.

“A desnutrição afeta o coração, o sistema imunológico, o trato gastro-intestinal, o sistema nervoso, comprometendo a produtividade, o aprendizado e o convívio social do ser humano”, enumera Regina Coeli ao salientar que algumas sequelas são irreversíveis. De acordo com ela, para ser considerada bem nutrida, uma pessoa deve ter os níveis sanguíneos normais de nutrientes e suas frações/metabólitos, micronutrientes, hormônios, além das aferições antropométricas e pressão arterial.

Alimento é vida
Segundo Regina Coeli, após quatro dias, um indivíduo de peso normal já começa a apresentar um quadro de debilitação orgânica. Ela ressalta que a reserva de gordura (energética) de cada um é importante para se determinar qual o limite, ou seja, quanto tempo o ser humano pode aguentar sem comer. A especialista observa que isso vai depender do estado nutricional de cada indivíduo.

“Inicialmente, a água será necessária para a sobrevivência, para quem estiver com uma reserva elevada ou adequada. Entretanto, uma pessoa magra com baixa reserva ficará sem energia para as suas funções celulares mais rápido, mesmo com água, chegando a óbito”, explica ao realçar que sem água, a resistência do organismo é bem menor e o estado de saúde torna-se bastante grave após 36 horas.

O fim da desnutrição no Brasil
Regina Coeli comenta que desde o governo Vargas, o poder público implementa programas de combate à fome. Contudo, a fome e a pobreza ainda existem. Porém, na avaliação da especialista, não é tão grave como antes e atinge uma parcela menor de pessoas. “A fome da população brasileira está relacionada à falta de recursos para comprar e/ou adquirir alimentos. Assim para reduzir a fome e a pobreza se faz necessário uma política de distribuição de renda e de reforma agrária”, conclui.

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The FAO initiative seeks to eradicate hunger worldwide, based on the example of Latin America and the Caribbean – with the development of laws, policies and programs for food and nutrition security

 

One in eight people worldwide is dramatically malnourished. This is the conclusion of the 2012 report of the United Nations Food and Agriculture Organization (FAO), entitled “State of Food Insecurity in the World”. It is the equivalent to 870 million people and the scenario is alarming with 2.5 million deaths of children. The undernourished represent 12.5% ??of the world population. The figure increases to 23.2% in developing countries and drops to 14.9% in developed nations.

According to the document, the total number of hungry people fell by 132 million from 1990-1992 to 2010-2012. The publication also points out that the number of people who are starving or suffering from malnutrition in Brazil, Angola (Africa) and Mozambique (Africa), Portuguese-speaking countries, fell during the same period.

The Brazilian director general of the FAO, José Graziano, describes as unacceptable the number of undernourished people in the world, considering the technological advances made by humanity. Graziano notes that more than 100 million children under five are underweight.

The economist and sociologist, Marcelo Medeiros, who researches social inequality, says hunger exists, or more exactly, malnutrition exists, in most countries of the world. “Hunger is more common among poor people, but is not exclusive to poor countries. More than being a problem of inequality between nations, hunger is a problem of inequality between classes”, Medeiros says, concluding that the rich in poor countries never go hungry.

Medeiros, who is also a professor at the University of Brasilia (UNB) and researcher at the Institute of Applied Economic Research (IPEA), says that poverty is not everything. “In certain parts of the world there is more war related hunger than poverty related hunger”, he says. He believes hunger occurs due to a problem in food distribution and not a problem of lack of food to be distributed.

FAO plans to eradicate hunger
Thinking about a solution to the problem, the FAO launched an initiative to eradicate hunger in the world, based on the example of Latin America and the Caribbean – which seeks the development of laws, policies and programs for food and nutrition security.

Regina Coeli, a nutritionist and professor at UNB, thinks that the FAO’s action is important and says that malnourished people are more likely to develop diseases. She points out that the lack of food, whether it is caused by lack of access to food or by food lacking in nutrients, weakens the persons immune system leaving the body vulnerable to many viral diseases and bacterial infections, caused by worms or protozoa.

“In addition to organic diseases, the psychosocial implications are devastating”, she says. Malnutrition occurs due to lack of nutrients, proteins and calories. The nutritionist explains that a lack of vitamin D causes rickets, and a lack of iron causes anemia, which mainly occur among hungry people.

Chronic hunger X acute hunger
Malnutrition, mainly due to lack of calorific food and proteins, increases the mortality rate, in part, due to hunger, and also due to the loss of the ability to fight infections. Many people around the world are starving or undernourished, and face severe food shortages.

“If the person feels an urgency, and has a great appetite to eat, we say that it is acute hunger. If they usually do not have access to food and/or daily alimentation, and lack nutrients to maintain their body and perform their daily activities, it is chronic hunger”, explains the nutritionist, who says that acute hunger does not kill anyone.

Death of children due to malnutrition
The non-governmental organization (NGO) Save the Children released, in February 2012, a report stating that every minute five children die worldwide as a result of chronic malnutrition. The document also warns that some 500 million boys and girls are at risk of permanent sequelae in the next 15 years.

The document also points out that, despite hunger reduction in the past two decades, at least six countries are still among the most affected: Congo, Burundi, Comoros, Swaziland and Ivory Coast, in Africa; and North Korea, in sixth place on the list of the worst affected countries by hunger in the world since 1990.

Malnourished individual
According to the nutritionist, individuals who manifest clinical signs of quantitative (energy) or qualitative (nutrients) inadequacy of the diet or that result from diseases that lead to poor biological utilization of food ingested, suffer from malnutrition. “In pregnant women, children and the elderly the effects of malnutrition are more harmful due to their special physiological status”, she says. This is the same condition of people who are undernourished due to hunger.

“Malnutrition affects the heart, the immune system, the gastrointestinal tract, the nervous system, affecting productivity, learning and social interaction with other human beings”, says Regina Coeli, who emphasizes that some consequences are irreversible. According to her, to be considered well nourished, a person must have normal blood levels of nutrients and their fractions/metabolites, micronutrients, hormones, in addition to anthropometric measurements and blood pressure.

Food is life
According to Regina Coeli, after four days, an individual of normal weight already starts to present a profile of organic debilitation. She points out that the fat reserve (energy) of each person is important to determine the limit, or rather, how long a human being can go without eating. The expert notes that this will depend on the nutritional status of each individual.

“Initially, water is necessary for survival, for someone with high or adequate reserves. However, a thin person with low reserves will run out of energy for their cellular functions faster, even with water, leading to death”, she explains. She stresses that without water, the bodys resistance is much lower and the health status becomes quite severe after 36 hours.

The end of malnutrition in Brazil
Regina Coeli comments that since the Vargas government, the government has implemented programs to combat hunger. However, hunger and poverty still exist. In the expert’s opinion, it is not as severe as before and affects a smaller portion of people. “The hunger of the Brazilian population is related to the lack of funds to buy and/or acquire food. So to reduce hunger and poverty there has to be a policy of income distribution and land reform”, she concludes.