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Nova vacina contra dengue apresenta bom desempenho em grandes ensaios

Fabricado pela farmacêutica Takeda, o medicamento apresentou 80,2% de eficácia em geral

09/12/2019
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A vacina experimental foi testada em 20 mil crianças na Ásia e na América Latina. Os próximos passos da farmacêutica são tentar aprovação regulatória em países afetados, entre eles o Brasil

Uma vacina experimental contra a dengue, batizada de TAK-003, mostrou resultados iniciais promissores em um grande estudo realizado em vários países. Fabricado pela farmacêutica Takeda, o medicamento apresentou eficácia de 80,2% na prevenção da doença, de acordo com um novo estudo publicado pelo periódico The New England Journal of Medicine intitulado “Efficacy of a Tetravalent Dengue Vaccine in Healthy Children and Adolescents. Entretanto, questões sobre sua eficácia e segurança continuam sendo a principal preocupação. Ainda não está claro, por exemplo, se a vacina pode aumentar a gravidade da doença em alguns receptores, como aconteceu com a Dengvaxia, da Sanofi, administrada em 1 milhão de crianças nas Filipinas.

Mas ao que tudo indica a nova vacina da Takeda parece funcionar em quem nunca foi exposto aos vírus da dengue. Baseado em uma cepa enfraquecida do vírus da dengue, até agora, os testes foram realizados em 20 mil crianças e adolescentes, de 4 a 16 anos, em oito países da Ásia e América Latina, onde a doença é endêmica. Doze meses após os participantes receberem sua segunda e última dose, os pesquisadores compararam quantas pessoas nos grupos placebo e vacina desenvolveram casos confirmados de infecção com qualquer uma das quatro cepas diferentes, ou sorotipos do vírus da dengue. A vacina teve 97,7% de eficácia contra o sorotipo dengue 2. Já para o sorotipo 1, diminuiu o número de infecções em 73,7%. Enquanto para o sorotipo 3, em 62,3%. Já entre os participantes que adoeceram, reduziu o risco de hospitalização em 95,4%.

De acordo com o Dr. Shibadas Biswal, diretor médico da Takeda, a análise dos dados no final da primeira parte do estudo demonstra que a vacina em geral foi bem tolerada e que nenhum risco importante de segurança foi observado até o momento. “Continuaremos a avaliar a segurança e a eficácia por um período de quatro anos e meio. Além disso, estamos motivados ao ver taxas semelhantes de eficácia nos participantes – de 80,2% nos 12 meses após a segunda dose –, independentemente da exposição prévia à dengue”, acrescentou.

Em relação ao risco de a vacina potencializar casos de recorrência, o Dr. Biswal explica que com base na análise no final do primeiro teste Tetravalent Immunization Against Dengue Efficacy Study (TIDES), não há evidências de melhora da doença na população soronegativa inicial que recebeu a vacina. Ainda segundo o médico, essa população continuará a monitorada cuidadosamente à medida que novos dados se tornarem disponíveis a partir das outras duas partes do teste.

A vacina proposta pela Takeda foi projetada para proteger contra todos os quatro sorotipos da dengue e ativar vários ramos do sistema imunológico, incluindo anticorpos e células imunológicas. “O TAK-003 baseia-se no vírus do sorotipo 2 da dengue atenuado vivo (DENV-2), que fornece o esqueleto genético para todos os quatro sorotipos da vacina. “Como nossa vacina candidata é baseada em uma forma atenuada do próprio vírus da dengue, ele expõe o indivíduo a vários componentes do vírus que podem ser importantes na proteção contra futuras infecções pelo vírus”, ressaltou.

Diferentemente dos testes de eficácia da Dengvaxia, a Takeda avaliou a pré-vacinação e se os participantes do estudo tinham anticorpos de uma infecção prévia por dengue. Cerca de um em cada quatro participantes era soronegativo e, ainda que nenhum sinal óbvio de dano induzido pela vacina tenha ocorrido, o artigo demonstra que a eficácia geral da vacina nesse grupo caiu para 74,9%. Além disso, a vacina não ofereceu proteção contra a dengue contra o sorotipo 3 a essas pessoas – os resultados foram inconclusivos.

Embora não possamos fazer comparações entre a nossa vacina proposta e outras, estamos felizes em compartilhar informações específicas sobre o TAK-003. Nosso estudo de fase 3 TIDES foi concebido de maneira diferente de outros estudos. Nós o projetamos para avaliar a segurança e a eficácia contra todos os quatro sorotipos e independentemente da exposição prévia à dengue. Amostras de sangue de linha de base foram coletadas de todos os indivíduos participantes do estudo para permitir a avaliação de segurança e eficácia com base no status sorológico”, destacou o Dr. Biswal.

O estudo TIDES é um estudo de Fase 3, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, desenvolvido para avaliar a eficácia, segurança e imunogenicidade de duas doses da vacina tetravalente candidata contra a dengue em indivíduos expostos à doença e indivíduos não-cientes. Este é o maior ensaio clínico intervencionista da Takeda até o momento, com mais de 20 mil crianças e adolescentes saudáveis com idades entre quatro e 16 anos vivendo em áreas endêmicas.

Os próximos passos são tentar aprovação regulatória em países afetados, entre eles o Brasil. O primeiro pedido deve ser feito no segundo semestre de 2020. Atualmente a dengue é uma das principais doenças reemergentes e se tornou um problema global fazendo com que nenhum país tropical ou subtropical tenha êxito em seu controle. Em 2019, ela foi considerada uma das 10 principais ameaças à saúde global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 400 milhões de pessoas são infectadas e cerca de 25 mil mortes são registradas anualmente.

Questionado sobre a perspectiva de comercialização da vacina, o Dr. Biswal é categórico ao afirmar que é muito cedo para comentar detalhes específicos sobre o acesso, mas que estarão concentrados em fornecê-la em países endêmicos e onde houver maior necessidade, paralelamente ao suprimento em países não endêmicos. “Queremos levar a vacina às pessoas que precisam dela o mais rápido possível. O dossiê planejado incluirá dados de segurança e eficácia do principal estudo TIDES e dados de apoio de outros estudos de Fase 3 realizados pela farmacêutica japonesa. Além da eficácia geral da vacina de 80,2% observada na análise de endpoint primário, o médico diz ainda que estão encorajados pela redução de 95,4% nas hospitalizações estudadas e associadas à dengue.