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Percevejos: globalização do artrópode alerta para um problema emergente, atenta Dr. Brisola

A maioria dos estudiosos liga o alastramento do artrópode ao aumento no número de viagens. Além disso, o inseto adquiriu resistência aos inseticidas tradicionais

08/01/2019
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Controle dos percevejos é muito difícil, pois eles têm um ciclo mais curto e maior facilidade para desenvolver resistência a inseticidas que os barbeiros

Os percevejos de cama têm acompanhado e incomodado a humanidade há milhares de anos, provavelmente desde os tempos em que nossos antepassados se abrigavam em cavernas, compartilhadas com morcegos e aves. É difícil encontrar números exatos sobre a epidemia, mas a questão é séria e atinge o mundo inteiro. E, ao contrário do que muita gente pensa, estes artrópodes não são presença exclusiva em presídios, cortiços e favelas. Como em geral são muito versáteis, também ocorrem infestações em hotéis de luxo, teatros, cinemas, transportes coletivos, como ônibus, trens, metrôs, além de cruzeiros marítimos e aviões.

O professor do Departamento de Microbiologia. Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Dr. Carlos Brisola Marcondes, explica que os percevejos (Cimex lectularius e C. hemipterus) são pouco conhecidos no Brasil e outros países da América Latina. Ele é enfático ao dizer que estes artrópodes devem receber mais atenção em nosso país. “Quando se nota que a maioria dos relatos no Brasil se concentra no Rio de Janeiro e em São Paulo e que na Austrália, onde o grande pesquisador Dr. S. Doggert e seus colegas se dedicam ao assunto, há muitos relatos, fica evidente a falta de dedicação às pesquisas. Os registros de um dado parasito, vetor ou moléstia nem sempre expressam a sua real distribuição geográfica ou prevalência, mas sim o número de especialistas que trabalham na região”, destaca.

Sua presença e incômodo em países frios e mais desenvolvidos levaram a estudos e a esforços, em geral, pouco produtivos para o seu controle. Embora os hábitos de higiene tenham evoluído com o tempo, a urbanização, que cresce em ritmo elevadíssimo, com grande aglomeração de pessoas nas cidades, onde há muitas casas, criam as condições para que eles se sintam protegidos por temperaturas amenas, o que facilita a reprodução. Aliado a esses fatores, não há preocupação com as condições para evitar os percevejos. Para o Dr. Brisola, o problema é que só quando as epidemias surgem é que as pessoas se preocupam, falhando na prevenção.

O professor acha provável que o percevejo de cama seja um problema no Brasil. Entretanto, como eles não estão envolvidos na transmissão de patógenos importantes, causando apenas incômodo e lesões cutâneas, que levam a insônia e muita irritação, não atraem a atenção da população, pesquisadores e autoridades. “Os percevejos devem receber atenção para que sejam evitados problemas maiores. Também se faz necessário promover o incentivo à pesquisa científica”, sustenta. O Dr. Brisola lembra uma citação do professor Pedro Marcos Linardi, “um bicho é sem importância num mês e se torna importante no seguinte”.

O percevejo é encontrado principalmente em hotéis nos Estados Unidos, Austrália e em países da Europa. No Brasil, o aumento do número de viagens dos brasileiros a esses destinos é um dos principais fatores para o seu aparecimento, já que muitos turistas trazem, sem perceber, o percevejo ou o ovo dentro da mala.

Com o ressurgimento global do artrópode, o artigo científico intitulado Bed bug aggregation on dirty laundry: a mechanism for passive dispersal do ecologista Willian Hentley, demonstrou que roupa suja tem duas vezes mais chances de atrair os percevejos que roupa limpa. Esse foi o primeiro teste prático sobre os métodos de disseminação.

Dentre as pouco mais de cem espécies, duas de Cimex estão comumente associadas aos humanos, uma mais adaptada a climas temperados e outra a climas quentes. Várias outras atacam aves e morcegos, eventualmente causando prejuízo e já tendo sido encontradas com arbovírus.

O Instituto Biológico mantém, desde 2012, uma página com informações e um questionário para ser preenchido voluntariamente sobre casos da praga no Brasil.