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Pesquisa mostra como o Zika vírus pode afetar o crescimento cerebral

Experimentos feitos em minicerébros mostraram que o crescimento dos órgãos foi 40% menor se comparado aos não infectados

12/05/2016
Zika

Zika induz a morte celular de células tronco humanas puripotentes induzidas cultivadas como células tronco neurais, perturba a formação de neuroesferas e reduz o crescimento de organóides cerebrais

Com o avanço das pesquisas em relação ao vírus Zika, cada vez mais se comprova a relação do agente com a microcefalia. Um estudo, publicado na revista Sciense, concluiu que as células do cérebro são alvo do vírus, comprometendo o crescimento e viabilidade do órgão.

O trabalho teve como base dois modelos de estudo: os minicérebros (ou organóides cerebrais, que são estruturas de neurônios que simulam o que ocorre no cérebro no primeiro trimestre da gestação) e as neuroesferas (agrupamento de células tronco neurais).

Nos experimentos com minicérebros, ao serem infectadas pelo Zika, o crescimento dos órgãos foi de 40% se comparado aos organóides cerebrais sob condições de controle, ou seja, não expostos ao vírus. Já a mesma infecção nas neurosferas mostrou que boa parte delas morreu em poucos dias, enquanto muitas que resistiram sofreram anomalias e desprendimento de células.

“Descobrimos que o vírus infecta e mata as células tronco neurais, o que é a raiz da microcefalia. Estas células dão origem aos neurônios e, por isso, os bebês nascem com o córtex cerebral diminuto”, explica a doutora Patrícia Garcez, uma das autoras do estudo.

De acordo com o doutor em Doenças Tropicais André Siqueira, este estudo é pioneiro e definitivo em demonstrar que o vírus Zika causa alterações em células progenitoras do sistema nervoso. “É um trabalho de grande qualidade, feito por brasileiros, e por isso publicado em uma das revistas mais renomadas no mundo”, ressalta ao acrescentar que estes resultados vêm reforçar a associação entre o Zika e microcefalia.

“O seguimento deste estudo certamente nos dará ainda mais esclarecimentos sobre como o Zika interfere com o crescimento dos neurônios e, consequentemente, poderá levantar formas de intervirmos neste processo no futuro”, aponta o Dr. André.

Apesar dos resultados, os pesquisadores apontam que são necessários outros estudos para caracterizar melhor a infecção por Zika durante as diferentes fases do desenvolvimento fetal. O trabalho, no entanto, reforça ainda mais a necessidade de atuação mais efetiva no controle do mosquito transmissor do vírus, o Aedes aegypti, e nas demais ações preventivas.