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Registrado primeiro óbito por leishmaniose visceral humana em Porto Alegre

Os dados e o óbito servem de alerta para programas epidemiológicos de saúde pública

09/01/2017
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O Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Estado recebeu a notificação do primeiro caso autóctone de LVH em 27 de setembro

O óbito de uma menina de 1 ano e 7 meses por leishmaniose visceral humana (LVH) foi registrado em Porto Alegre no dia 28 de setembro de 2016. De acordo com o Informativo de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul/outubro de 2016, os sintomas iniciaram em 29 de maio com febre alta persistente e no dia 23 de setembro apresentou agravamento do quadro com plaquetopenia. Durante a internação na UTI do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) foi realizada biopsia de medula óssea e sorologia, ambos com resultado positivo para LVH. De acordo com o professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mário Steindel, como pode ser observado pela própria história do caso, há necessidade de alertar os profissionais de saúde para o problema e para a dinâmica da doença. “Esta é uma situação totalmente nova e por isso, provavelmente a demora no diagnóstico”, reforça.

A ausência de um planejamento urbano e fatores como, baixa condição socioeconômica, desmatamento e precariedade de saneamento básico, configuram áreas de maior vulnerabilidade social e ambiental contribuindo para a instalação da doença. A criação de aglomerados populacionais sem a mínima infra-estrutura sanitária e a destruição dos ecótopos naturais do vetor faz com que as pessoas fiquem expostas aos fatores de risco responsáveis pela disseminação da leishmaniose visceral (LV). “É provável que a criança tenha adquirido a infecção no Morro Santana onde residia com a família em área de invasão em condições sanitárias precárias, e onde também há registros de vários casos de leishmaniose visceral Canina (LVC) desde 2014”, explica o professor.

Até o ano de 2007, o Rio Grande do Sul não era considerado área de transmissão de LV. Em 2008, houve os primeiros casos autóctones da doença em cães e o primeiro registro do vetor. Em janeiro de 2009, foi registrado o primeiro caso autóctone confirmado de LVH no município de São Borja com início dos sintomas em 2008. No estado, no período de 2008 a 2015, foram confirmados quinze casos de LVH. Outros dois importados foram registrados no município de Esteio em 2008 e em Nova Petrópolis em 2010. “Os registros oficiais mostram casos humanos autóctones de LV no estado do Rio Grande do Sul e no Paraná. Além disso, a LVC autóctone está presente nos três estados da região Sul e mostra um claro aumento na sua distribuição geográfica. Neste sentido, o diagnóstico de LV deve ser incluído no diagnóstico diferencial de febre persistente associada à hepatoesplenomegalia”, ressalta o especialista.

Um estudo desenvolvido pela Msc. Catieli Gobetti Lindholz e pela prof. Dra. Alessandra L. Morassutti do Laboratório de Parasitologia Biomédica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em conjunto com o Dr. Edmilson dos Santos, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, e o Dr. Getúlio Dornelles Souza, do Laboratório Central (LACEN), do Rio Grande do Sul, investigou a ocorrência e a prevalência de flebotomíneos naturalmente infectados com Leishmania spp, em um local rural na área metropolitana da capital Rio-grandense. Segundo a Lindholz, um total de 516 flebotomíneos foi capturado no intradomicilio, peridomicilio e em áreas de floresta, e as espécies obtidas foram: Lutzomyia neivai, L. fischeri, L. migonei e L. lanei. “Todas apresentaram indivíduos positivos para Leishmania por PCR, exceto L. lanei”, aponta ao ressaltar que as sequências de DNA de Leishmania foram sequenciadas e identificadas como pertencentes ao complexo de Leishmania infantum, agente causador da leishmaniose visceral nas Américas. Ainda de acordo ela, esses dados sugerem fortemente que a circulação dos protozoários de Leishmania na área analisada pode ser frequente e deve servir como um grande alerta para programas epidemiológicos de saúde pública.

O doutor Steindel concorda e adverte que é muito provável que novos casos venham a ocorrer, uma vez que embora não haja relato do vetor clássico Lutzomyia longipalpis na região onde ocorreu o caso, a infecção por Leishmania infantum tem sido recentemente comprovada em outras espécies de flebotomíneos por pesquisadores da PUCRS. “Considerando que a LVC está em franca expansão na região Sul, no Paraná, principalmente no município de Foz do Iguaçu, no Rio Grande do Sul, em vários municípios, e em Santa Catarina, no município de Florianópolis, é recomendável que os três estados realizem projetos conjuntos para estudar as características epidemiológicas da LV para o efetivo controle da parasitose”, adianta o especialista.