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Acidentes de trânsito: Mais de 1,35 milhão de pessoas perdem a vida, aponta OMS

De acordo com relatório da OMS, as lesões causadas pelo trânsito são a principal causa de morte de crianças e jovens entre os 5 e 29 anos

11/03/2019
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Relatório da Situação Global da OMS sobre segurança no trânsito de 2018 destaca progresso insuficiente para combater a falta de segurança nas estradas do mundo

Desde 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o número crescente de mortes no trânsito no mundo, especialmente nos países mais pobres e em desenvolvimento das Américas, da África e da Ásia. Nesses continentes, a violência no trânsito assumiu características de uma epidemia e se tornou um dos principiais problemas de saúde pública. Países de baixa e média renda, que detêm apenas 54% dos veículos do mundo, concentram quase que 90% das mortes por lesões. A situação é tão desafiadora que OMS, Organização das Nações Unidas (ONU) e Cruz Vermelha incluíram o trânsito no pacote das crises humanitárias globais, ao lado do surto do vírus Ebola e do drama dos refugiados.

De acordo com o “Global status report on road safety 2018”, lançado em dezembro de 2018, as mortes nas estradas continuam aumentando em todo o mundo e mais de 1,35 milhão de pessoas perdem a vida todos os anos em decorrência de acidentes de trânsito, o que significa que, em média, morre uma pessoa a cada 24 segundos. O documento revela ainda que as lesões causadas pelo trânsito são hoje a principal causa de morte de crianças e jovens entre 5 e 29 anos.

O risco de morte no trânsito continua sendo três vezes maior nos países de baixa renda e as taxas mais elevadas encontram-se na África, 26,6 pessoas por cada 100 mil. O Relatório da Situação Global da OMS destaca ainda que pedestres e ciclistas são responsáveis por 26% de todas as mortes no trânsito. Esse número chega a 44% na África e 36% no Mediterrâneo Oriental. Já os motociclistas e os passageiros, são responsáveis por 28% de todas as mortes. A proporção é maior em algumas regiões, por exemplo, no Sudeste Asiático (43%) e no Pacífico Ocidental (36%).

Em comparação ao “Global status report on road safety 2015”, mais 22 países melhoraram suas leis, cobrindo mais 1 bilhão de pessoas. Neste momento, 46 países, representando 3 bilhões de pessoas, possuem leis que estabelecem limites de velocidade alinhados com as melhores práticas. O mesmo se passa com outras 45 nações, com 2,3 bilhões de pessoas, e leis sobre consumo de álcool.

Para o fundador e diretor da Bloomberg Philanthropies e Embaixador Global da OMS para Doenças Não Transmissíveis e Lesões, Michael R Bloomberg, é preciso investir mais na educação do trânsito, na prevenção e atenção à segurança nas estradas e pistas. Para ele, se faz necessário adotar políticas fortes e fiscalização, repensar as estradas para que se tornem inteligentes e adotar campanhas de conscientização. A segurança no trânsito é uma questão que não recebe nem perto da atenção que merece e é realmente uma das nossas grandes oportunidades para salvar vidas em todo o mundo, disse.

O relatório, divulgado a cada dois ou três anos, é a principal ferramenta para medir os progressos na Década de Ação para a Segurança nas Estradas 2011-2020.

Mais de três crianças por dia perderam a vida no Brasil

A cada quatro minutos uma criança perdeu a vida no trânsito no mundo. O dado foi divulgado pela OMS no documento, publicado em 2015, “Dez estratégicas para a segurança de crianças no trânsito”. De acordo com a publicação, o problema é mais grave nos países de baixa renda, nos quais as taxas de mortalidade para crianças são em média três vezes maiores que em locais de alta renda.

No Brasil, no ano de 2016, os dados também são lamentáveis: 3,5 crianças morreram por dia, ou seja, são 105 vidas perdidas em um mês. Conforme números compilados pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), juntamente com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), com informações do Sistema Datasus, foram registradas 1.292 mortes de crianças entre zero e 14 anos naquele ano. Esta faixa etária representa 23% da população brasileira.

Brasil precisa reduzir mortes pela metade até 2020

De acordo com o recente Relatório da Situação Global da OMS, o Brasil registrou quase 39 mil mortes no trânsito, sendo que o maior número atingiu condutores de motos e veículos motorizados de três rodas, e 31% das mortes no trânsito no País atingem estes mesmos condutores. Dados do Ministério da Saúde apontam dados parecidos (37 mil). Até 2020, o Brasil precisa cumprir acordo firmado com a ONU de reduzir as mortes no trânsito para cerca de 21 mil ao ano.

Atualmente o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países com maiores índices de morte no trânsito, de acordo com a OMS, atrás apenas da Índia, China, EUA e Rússia. Além desses, Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito estão entre os países de trânsito mais violento. Juntas, essas dez nações são responsáveis por 62% das 1,2 milhão de mortes por acidente no trânsito que ocorrem no mundo todos os anos.

Segundo o ONSV, os acidentes de trânsito no Brasil são responsáveis por deixar 400 mil pessoas com algum tipo de seqüela. Além disso, cerca de 60% dos leitos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) são preenchidos por acidentados. Ainda de acordo com o Observatório, os acidentes no trânsito resultam em custos anuais de R$ 52 bilhões.

Medidas para reduzir índices de mortes no trânsito

O Relatório da Situação Global da OMS trouxe importantes atribuições ao Brasil, como a redução de mortes no trânsito após a instauração de leis mais rígidas (Lei Seca) e o início da obrigatoriedade de freios ABS em todas as motos a partir deste ano. Por outro lado, colocou o País na pior classificação referente ao limite de velocidade em áreas urbanas. A OMS sugere que todas as cidades do mundo adotem velocidades máximas de 50 km/h nas áreas urbanas e 30 km/h em áreas residenciais e/ou com grande circulação de pessoas.

Em dezembro de 2018, audiência na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados destacou que a maioria dos acidentes de trânsito ocorre nos municípios, onde há excesso de motocicletas, pouca sinalização e, muitas vezes, falta um gestor específico de trânsito. A gestão do trânsito nos municípios foi apontada como o principal desafio para reduzir pela metade as mortes por acidentes no Brasil, por grupo de 100 mil habitantes, até 2028. A meta está prevista no Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, que virou lei (Lei 13.614/18) em janeiro de 2018. Entretanto, para o observador do ONSV Jorge Tiago Bastos, os municípios não têm capacidade de incorporar as metas. Ele sugere que os estados identifiquem aqueles que querem mudar. Já a consultora da área de trânsito do Ministério da Saúde, Cheila Lima, defendeu um banco nacional de informações de acidentes de trânsito e ainda a padronização de boletins de ocorrência nos estados.

A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) também tem alertado para o tema. Desde 2012, o ex-presidente Dr. Carlos Henrique Nery Costa chama atenção para essa epidemia. “Os acidentes de trânsito são um problema tropical na medida em que os indicadores são piores nos Trópicos. Então, a SBMT vê a violência urbana como um todo, não apenas os acidentes de trânsito, como um problema tropical e deve liderar a advocacia para proteger as pessoas das suas consequências”, destaca. Ele acrescenta que o papel da SBMT é o de agregar conhecimento no tema. “Precisamos saber mais sobre a epidemiologia dos acidentes de trânsito para estabelecermos políticas públicas eficazes”, explica.

Ainda de acordo com o professor, se faz necessário entender os principais tipos de lesões para oferecermos os melhores tratamentos e equiparmos as unidades de urgência, além de levar mensagens que sejam de fato incorporadas por aqueles que dirigem. Para tal, a SBMT tem o dever de participar do esforço coletivo de reunir novos profissionais e pesquisadores, como traumatologistas, ortopedistas, fisioterapeutas, neurologistas e neurocirurgiões, cirurgiões plásticos, educadores, legisladores, profissionais do trânsito e muitos outros em torno do problema da violência no trânsito nos Trópicos”, explica. Por fim, o doutor Carlos Henrique reforça que a Medicina Tropical, particularmente a Medicina Tropical urbana, não é propriedade exclusiva dos que lidam com doenças infecciosas, mas, por ser essencialmente multidisciplinar, envolve a todos aqueles que estão preocupados com os problemas de saúde dos Trópicos.

Saiba mais:

– Em tentativa para aumentar a conscientização sobre a crise de segurança no trânsito, Jean Todt, presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e representante especial do secretário-geral para a Segurança na Estrada (ONU), procurou o renomado cineasta Luc Besson para apresentar um audiovisual que destacasse os perigos que as crianças enfrentam em todo o mundo. Clique aqui e assista Save Kids Lives”.

– ONU lança fundo para segurança nas estradas; confira alguns dados sobre as mortes no trânsito. Clique aqui e assista ao vídeo Acidentes nas estradas causam perdas de US$ 1,3 trilhão por ano”.

– Morte nas estradas. Clique aqui e tenha acesso ao Death on the roads”.

– A cada ano, em todo o Brasil, o trânsito mata cerca de 40 mil pessoas. Estima-se que, para cada morte relacionada ao tráfego, sete vítimas permanecem em UTI. “O custo é imenso tanto pelas vidas perdidas quanto pelo impacto no sistema de saúde”, disse Ednilsa Ramos, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), à matéria de capa da revista Radis de fevereiro. Clique aqui e leia a matéria “Radis debate trânsito como questão de saúde pública”.