Notícias

Vacina contra dengue deve estar disponível no Brasil até 2016 Dengue vaccine should be available in Brazil until 2016

Pesquisa apontou redução de 88,5% de casos graves em países asiáticos e eficácia global alinhada à meta de redução da mortalidade por dengue pela OMSResearch showed a reduction of 88.5% of the severe cases in Asian countries and global efficiency aligned to the goal of dengue mortality established by the WHO

11/09/2014

dengue

Com os dados em mãos, a colocação no mercado das doses contra a doença dependerá apenas do governo federal

Os estudos de eficácia de uma vacina contra a dengue testada na América Latina devem ser divulgados em setembro. O anúncio foi feito pelo diretor geral da Sanofi Pasteur Brasil, Hubert Guarino, durante o 50º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP), que ocorreu entre os dias 26 e 29 de agosto, em Rio Branco (AC). De acordo com o diretor, com os dados em mãos, a colocação no mercado das doses contra a doença dependerá apenas do governo federal e pode ocorrer já em 2016.

“Projetando um cenário positivo dos resultados e também do processo acelerado de revisão do dossiê, podemos imaginar que a população brasileira possa se beneficiar de uma proteção para a sazonalidade de dengue no fim de 2016, já que terá recebido duas doses da vacina até o final daquele ano”, informou Guarino. Após a conclusão dos estudos clínicos, será definido o público alvo e a idade recomendada para a utilização do produto.

A empresa garante ter capacidade inicial para produzir 100 milhões de doses anuais e enviá-las a partir do segundo semestre de 2015 aos países que já tiverem regularizado a comercialização e o uso do produto. No Brasil, a análise será feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já uma possível aquisição de vacinas por parte Ministério da Saúde (MS) dependerá da estratégia do governo brasileiro – em 2014, devem ser investidos R$ 1,2 bilhão no combate à doença.

Trata-se de uma vacina viva quimérica, em que são expressas as proteínas pré-membrana e do envelope dos quatro sorotipos de vírus da dengue através da substituição dos genes do vírus atenuado da vacina da febre amarela. Informações mais detalhadas podem ser obtidas clicando aqui , em inglês, ou em  em português. De acordo com o doutor em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa, Guilherme Ribeiro , o produto ainda precisa de melhorias, mas já é um grande avanço. “Eles (da empresa Sanofi) demonstraram que o produto tem uma eficácia de cerca de 60%. Não é perfeita, mas traz um benefício potencial como medida complementar às ações que o governo desenvolve de controle e prevenção. É um acréscimo de impacto para reduzir a incidência da doença. Acho que ainda há espaço para otimização e desenvolvimento da vacina, mas ela é sem dúvida segura”, explicou o integrante da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 100 milhões de pessoas por ano são atingidas por dengue. No ano passado, o Brasil registrou quase 1,5 milhão de casos, dos quais 6,5 mil apresentaram a forma mais grave da doença e 573 mortes. Uma vacina contra a dengue representaria importante avanço para o controle da doença, podendo ser uma ferramenta importante para atingir a meta da OMS de reduzir a mortalidade por dengue em, pelo menos, 50% e morbidade em, pelo menos, 25% até 2020.

Análises na Ásia e América Latina

Na América Latina, o estudo deve ser divulgado ainda em setembro. Ao todo, foram mais de 20 mil voluntários da Colômbia, México, Porto Rico, Honduras e Brasil. Por aqui, os estudos ocorreram nas cidades de Campo Grande (MS), Goiânia (GO), Fortaleza (CE), Natal (RN) e Vitória (ES). Segundo o gerente Médico de dengue da Sanofi Pasteur, Rodrigo Sini, as vacinas foram testadas em mais de 3,5 mil crianças saudáveis de 9 a 16 anos de idade entre 2011 e 2013. “A ideia foi avaliar a eficácia da vacina nessa população de susceptíveis à doença. O estudo se fez em uma proporção de 2 para 1, ou seja, a cada duas crianças imunizadas, uma recebia placebo para fazer a análise comparativa”, explicou.

Em setembro, a Sanofi Pasteur anunciou que os resultados globais da vacina contra a dengue conseguiu reduzir em 60,8% o total de casos da doença. Observações adicionais também mostraram uma redução de 80,3% no risco de hospitalização devido à dengue durante o estudo. Os dados detalhados da pesquisa serão publicados em uma revista científica e devem ser anunciados em novembro, durante a reunião anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene (ASTMH, em inglês), nos Estados Unidos.

A pesquisa para a produção desse produto começou há 20 anos e teve os resultados obtidos em cinco países asiáticos publicados pela revista The Lancet de julho. A fase III do estudo clínico, a última etapa para testar a eficácia do medicamento, apontou uma redução de 56,5% dos casos de dengue sintomática e de 88,5% da forma hemorrágica e mais grave da doença. Mais de 10 mil crianças entre 2 e 14 anos que vivem em áreas endêmicas da enfermidade participaram das análises entre 2011 e 2013, recebendo três doses da vacina no período.

Outro estudo sobre a doença avança

Uma pesquisa  conduzida por cientistas nos Estados Unidos e em Cingapura revelou um novo caminho percorrido pelo vírus da dengue para suprimir o sistema imunológico humano. De acordo com o estudo, quando o vírus entra no corpo e infecta as células, induz a produção e liberação de interferons – proteínas que aumentam os mecanismos de defesa antivirais dos órgãos. A neutralização desta via de defesa pode ser mais um passo rumo a novas soluções contra a enfermidade. Em rápida entrevista à Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), o diretor do Centro de Medicina da Universidade de Duke (EUA), doutor Mariano Garcia-Blanco , explica o que espera nas ações contra a doença, como a previsão de lançamento de uma vacina – o diálogo abaixo ocorreu antes do anúncio do produto da empresa Sanofi Pasteur – e sobre os estudos conduzidos por sua equipe.

SBMT: Há previsão de quando uma vacina contra a dengue esteja disponível no mercado?

M. G-B: Eu não confio em nenhuma das previsões, mas arriscaria dizer que pode levar 10 anos antes de chegar ao mercado – espero estar errado.

SBMT: Tal vacina será acessível aos países mais pobres ou devem ser inicialmente caras?

M. G-B: Eu acredito que sim, caso países como o Brasil e Cingapura, que possuem recursos formarem alianças com países pobres em desenvolvimento, bem como com os EUA e a União Europeia, para garantir que a vacina será distribuída. Um exemplo de se ter uma ótima vacina e não distribuí-la bem é a da febre amarela – uma vacina fantástica disponível desde os anos 30, e muitas pessoas ainda morrem no mundo inteiro por conta da doença.

SBMT: Qual o objetivo da pesquisa e quais os resultados alcançados?

M. G-B: O objetivo da minha pesquisa é compreender como o flavivírus se replica (mecanicamente) e utilizar esse conhecimento para tentar desenvolver compostos antivirais que possam servir para tratar doenças causadas por eles. Especificamente, nós estamos interessados no papel dos fatores hospedeiros (muito especificamente daqueles cujas proteínas reagem com RNAs virais) que ajudam ou impedem a replicação viral.

SBMT: Quais os países onde estão sendo realizados testes de vacinas e quais os resultados atuais?

M. G-B: Meus estudos (que não são clínicos) são realizados nos EUA e em Cingapura.

dengue

With the data, the doses entry in the market relies only on the federal government

The efficiency studies of a vaccine against dengue fever tested in Latin American are to be released in September. The announcement was made by the CEO of Sanofi Pasteur Brasil, Hubert Guarino during the 50th Congress of the Brazilian Society of Tropical Medicine (MEDTROP), that took place from August 26 to 29 in Rio Branco, Acre. According to him, with the data in hands, the vaccines commercialization relies only on the federal government and could happen already in 2016.

“Projecting a positive scenario for the results as well as the accelerated process of the do dossier, we can imagine the Brazilian population being benefitted by a protection to dengues seasonality by the end of 2016, once until the end of that year, people will have received two doses of the vaccine”, informed Guarino. The target audience and recommended ages for the product will be defined after the conclusion of the clinical studies.

The company assures to be able to produce 100 million annual doses and ship them from 2015s second semester to the countries that already authorized the use and commercialization of the product. In Brazil, the analysis will be conducted by the National Sanitary Surveillance Agency (ANVISA). A possible purchase of the vaccines by the Health Ministry will depend on the Brazilian governments strategy – in 2014, R$ 1.2 billion (over USD 500 million) should be invested in the diseases combat.

This is a chimerical live vaccine, in which the proteins from the pre-membrane and the envelope of four serotypes of the virus are expressed through the replacement of the attenuated yellow fever virus’ genes. More information can be accessed in  in English or in in Portuguese. According to the PhD in Health and Investigative Medicine Biotechnology, Guilherme Ribeiro, the product still needs enhancements, but is already a great accomplishment. “They (Sanofi) demonstrated the product has an efficiency over 60%. It is not perfect, but carries a potential benefit as complementary measure to the control and prevention actions from the federal government. It is an impact addition to reduce the diseases incidence. I think there is space for enhancements and vaccine development, but without a doubt it is safe”, explained the BSTMs member.

Data from the World Health Organization (WHO) suggest that every year 100 million people are struck by dengue fever. Last year, Brazil registered nearly 1.5 million cases, from which 6.5 thousand were the diseases severe form and 573 deaths. A vaccine against this disease would represent an important advance in controlling the disease, and could be an important tool to meet the WHOs objectives to reduce dengue mortality at least in 50% and morbidity in at least 25% until 2020.

Analysis in Asia and Latin America

In Latin America the study should be released still in September. At all, 20 thousand volunteers from Colombia, Mexico, Puerto Rico, Honduras and Brazil participated. Here, the studies took place in Campo Grande (MS), Goiania (GO), Fortaleza (CE), Natal (RN) and Vitoria (ES). According to Sanofi Pasteurs Medical Manager the vaccines were tested in over 3.5 thousand healthy children from 9 to 16 years of age between 2011 and 2013. “The idea was to evaluate the vaccines efficiency in this dengue susceptible population. The study was made in a proportion of 2 to 1, this is, for every two immunized children, one child received the placebo dose to compose the comparative analysis”, he explained.

In September, Sanofi Pasteur announced the vaccines global results were able to reduce in 60.8% the total of disease cases. Additional observations also showed a decrease of 80.3% of the hospitalization risk due to dengue in the period. The researchs detailed data will be made available in a scientific journal and should be announced in November, during the annual meeting of the American Society of Tropical Medicine and Hygiene (ASTMH), in the USA.

The research to produce this vaccine started 20 years ago and had the results from five asian countries published in Julys Lancet. The phase 3 of the clinical study, the last  step to test the drugs efficiency showed a decrease of 56.5% of the symptomatic dengue cases and 88.5% of the haemorrhagic and severest form of the disease. Over 10 thousand children from 2 to 14 years old who live in endemic areas for dengue joined the analysis between 2011 and 2013, receiving three vaccine doses during the period.

Advances of another study on the disease

A research  by scientist in the USA and in Singapore revealed a new pathway the dengue fever virus runs to suppress the human immune system. According to the study, when a virus enters the body and infects cells, it induces the production and release of interferons (IFNs), which are proteins that raise the bodies anti-viral defense mechanisms. The neutralization of this defense mechanism can be another step closer to new solutions against the disease. In a short interview to the Brazilian Society of Tropical Medicine (BSTM), the chair of the Medicine Center from Duke University (USA), Dr. Mariano Garcia-Blanco  explains what he expects from the actions against the disease, as the announcement of the release of a vaccine – the dialog below took place during the announcement of the Sanofi Pasteur’s product – and about his team’s studies.

BSTM: Is there a forecast of when a vaccine against dengue fever will be available in the market?

M. G-B: I don’t trust any of the forecasts, but I would risk saying it could be 10 years before it comes to the market shelves – I hope I am wrong.

BSTM: Will such vaccine be accessible to the poorest countries or should it be expensive at first?

M. G-B: I belive yes, in case countries with more resources as Brazil or Singapore form alliances with poor developing countries, as well as the USA and the European Union, to assure the vaccine will be distributed. An example of having a great vaccine and not distributing it well is the yellow fever vaccine – a fantastic vaccine available since the 30s, and many people worldwide still die from the disease.

BSTM: What is the goal of the research and which are the expected results?

M.G-B: My research is trying to understand how the flavivirus replicates (mechanically) and use this knowledge to develop antiviral compounds that may serve to treat diseases caused by them. Specifically, we are interested in the role of host factors (very specifically from those, which’s proteins react with viral RNAs that help or prevent viral replication.

BSTM: In which countries are these vaccine tests being conducted and which are the current results?

M.G-B: My studies (which are not clinical) are conducted in the USA and in Singapore.