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Professor emérito da UnB, Pedro Tauil defende a redução da pobreza para combater doenças tropicais

Pesquisador defende ainda ações mais aprimoradas dos serviços públicos de saúde para população mais carente do País

10/03/2016
Dr.

Para Dr. Pedro Tauil é preciso ampliar a atenção básica e estabelecer um sistema de referência e contra referência eficaz, bem como cuidados básicos e especializados

Recentemente homenageado com o título de Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB), o doutor Pedro Tauil tem preocupações que vão muito além do campo científico, abrangendo especialmente os aspectos sociais de problemas comuns dos brasileiros. É o caso do seu pensamento sobre o que é preciso fazer para combater as doenças tropicais no País. A resposta não é ligada a ações e medidas de controle necessárias. Não em primeiro lugar.

Para o médico epidemiologista, professor e membro do Conselho Superior da Fiocruz, o principal obstáculo a ser superado no combate às enfermidades tropicais é a redução da pobreza. Ele defende que é preciso proporcionar vida digna de trabalho, habitação, saneamento básico e oportunidade de educação para toda a população brasileira.

O doutor Pedro Tauil fala sobre este e outros assuntos relacionados aos seus mais de 30 anos dedicados à pesquisa e à educação em uma entrevista exclusiva à Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. (SBMT)

Veja, abaixo, a íntegra da entrevista:

SBMT: Qual a sua opinião sobre o combate às doenças tropicais no Brasil e no mundo? Ainda há muitos obstáculos a serem vencidos?

Dr. Pedro Tauil: Sim, há vários obstáculos, mas o principal é a redução da pobreza, proporcionando vida digna de trabalho, habitação, saneamento básico e oportunidade de educação para toda a população brasileira. Além disso, aprimorar a organização dos serviços públicos de saúde para oferecer medidas preventivas e curativas de boa qualidade a toda população mais carente do País, ampliando a atenção básica e estabelecendo um sistema de referência e contra referência eficaz, entre cuidados básicos e especializados.

SBMT: Uma das suas especialidades é o controle da dengue. Na sua avaliação, as ações atuais são suficientes no combate ao Aedes aegypti?

Dr. Pedro Tauil: Não. Há necessidade de inovações: vacinas e tratamento etiológico eficazes e seguros, aprimoramento do controle vetorial, como mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia, em desenvolvimento, e educação e comunicação social mais efetivos.

SBMT: O senhor destaca algum projeto em andamento que pode melhorar o controle de doenças tropicais no Brasil? Qual?

Dr. Pedro Tauil: O projeto de origem australiana para controle de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, em desenvolvimento em vários países e no Brasil pela Fiocruz, de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia, que faz com que mosquitos infectados com vírus não se tornem infectantes. Outro destaque é a fase clínica III da vacina contra dengue em desenvolvimento pelo Instituto Butantã e o NIH dos EEUU. Além desses, também há os testes sorológicos para diagnóstico de zikavirose, por vários grupos no Brasil e no mundo, entre eles o Instituto Evandro Chagas de Belém do Pará.

SBMT: Nesses 30 anos de carreira na UnB, quais os principais projetos de pesquisa que o senhor participou que gostaria de destacar?

Dr. Pedro Tauil: São na área de epidemiologia e controle de doenças endêmicas. Entre eles estão:

– Alguns aspectos da epidemiologia da malária em Porto Nacional, Goiás

– Avaliação do Plano de Intensificação do Controle da Malária na Amazônia

– Eliminação da transmissão da malária em Santa Catarina

– Controle do surto de dengue em Boa Vista, RR, em 1982

– Evolução da idade média dos óbitos por esquistossomose mansônica no Brasil

– Vacinação contra febre amarela e doenças autoimunes

– Algoritmo para monitoramento da incidência da malária na Amazônia Brasileira

– Epidemias de malária na Amazônia

– Controle de doenças transmitidas por vetores no Brasil

– Aspectos críticos do controle da febre amarela no Brasil

– Desafios para o controle do dengue e de outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

SBMT: Quem são as principais pessoas que ajudaram a torná-lo em um dos professores mais respeitados do País?

Dr. Pedro Tauil: Foram muitos. Entre eles os professores: Leônidas de Mello Deane, Maurício Gomes Pereira, Aluísio Prata, Joffre Marcondes de Rezende, Luiz Rassi, Vanize Macedo e Luiz Rey. Meus colegas de trabalho em Porto Nacional, ex-GO: Antônio Carlos Azevedo e Eduardo Manzano. Meus superiores no Ministério da Saúde: ministros Paulo de Almeida Machado e Waldir Arcoverde e o Dr. José Taquarussu Fiusa Lima. Meus colegas de trabalho na SUCAM: Antônio Carlos Silveira, Carlos Catão Loyola, Tadayassu Sakamoto, Dilermando Fazito e Ronaldo Amaral. Meus colegas na UnB: professores Elisabeth Carmen Duarte, David Duarte Lima e Maria Regina Fernandes. Meus alunos na UnB, de graduação e da pós-graduação, grandes estimuladores.