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HIV continua a se reproduzir no organismo mesmo quando indetectável no sangue

Descoberta é fundamental para erradicar o vírus por completo

10/03/2015
Steven

Segundo o doutor Wolinsky, eliminar células infectadas em reservatórios que protegem os vírus de drogas antirretrovirais é a chave para chegar a uma cura funcional

Um paciente com HIV pode reduzir a carga viral para níveis indetectáveis a partir do uso contínuo de medicamentos potentes. Porém, quando o tratamento é interrompido, o vírus volta rapidamente a circular no sangue. Como isso é possível? A resposta para o mistério foi recentemente descoberta em um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Northweestern, nos Estados Unidos, e publicado no site da revista Nature.

De acordo com a pesquisa, o HIV persiste no organismo em um reservatório dentro do tecido linfóide. Esse tecido é encontrado no baço, amígdalas, apêndice e outros componentes do sistema linfático. E o vírus não fica dormente neste local: consegue se multiplicar, mover e até evoluir. Os autores do estudo acreditam que é por isso que a infecção viral é reativada quando a terapia é interrompida.

Para chegarem a esta hipótese, os cientistas examinaram sequências virais em amostras de células de linfonodos e sangue de três pacientes com HIV que já não possuíam carga viral detectável no sangue. “Descobrimos que esses reservatórios eram constantemente reabastecidos por vírus de baixa replicação no tecido linfóide infectado e, então, migrando desses santuários protegidos para o sangue”, explicou o doutor Steven Wolinsky, um dos autores do trabalho, à assessoria de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).

Até agora, a maioria dos cientistas acreditava que o reservatório só continha células infectadas em um estado de repouso por várias razões. Primeiramente, ninguém tinha visto o vírus com as novas mutações genéticas que inevitavelmente surgem quando o HIV completa ciclos de crescimento. Em segundo lugar, a maioria dos pacientes não desenvolve as mutações de resistência ao tratamento, ainda mais ocorrendo com a presença dos antirretrovirais no organismo.

Os resultados fornecem uma nova perspectiva sobre como o HIV persiste no organismo, apesar da terapia antirretroviral poderosa. O estudo também explica por que o desenvolvimento de resistência às drogas não é inevitável, uma vez que a multiplicação do vírus ocorre em um lugar onde as concentrações dos fármacos são muito baixas.

A descoberta é fundamental para eliminar por completo o HIV do organismo, pois ressalta a importância de se criar maneiras de distribuir as concentrações de medicamentos através de todo o tecido linfoide. “Eliminar células infectadas em reservatórios que protegem os vírus de drogas antirretrovirais é a chave para chegar a uma cura funcional”, afirma o doutor Wolinsky.