Notícias

Vacina contra o Zika vírus deve levar mais de quatro anos para chegar ao mercado

Cerca de 67 empresas estão empenhadas no tema, nenhuma vacina ou medicamente foi testada ainda em humanos

12/05/2016
Vacina

Recente estudo de pesquisadores brasileiros apontou que a cloroquina, presente em alguns medicamentos que combatem a malária, pode ser eficaz na blindagem do cérebro de fetos contra o Zika

Apesar da urgência de ações de combate ao Zika, uma vacina efetiva contra o vírus deve levar cerca de cinco anos para chegar ao mercado. A informação foi dada recentemente por um diretor do Ministério da Saúde e vai ao encontro do que acredita o infectologista Kleber Luz.

“Uma vacina para o Zika claramente não sairá nos próximos três ou quatro anos. É praticamente impossível que saia”, explica o doutor Kleber, que atua no Departamento de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Segundo ele, os resultados de pesquisas sobre o tema ainda não são “palpáveis” devido ao curto tempo que foi descoberto a circulação do vírus, tanto no Brasil quanto nas Américas. “O que se tem são apenas outras linhas de pesquisa no sentido da decodificação genética do vírus, do entendimento um pouco da estrutura viral. Porém, do ponto de vista de pesquisa prática ou aplicada, não tem ainda nada”, aponta o especialista.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente, 67 empresas e instituições estão empenhadas em produzir testes, vacinas, medicamentos e produtos para controlar o mosquito transmissor do Zika, o Aedes aegypti. Apesar dos estudos estarem em estágios diferentes de desenvolvimento, nenhuma vacina ou medicamento foi testada ainda em humanos.

Em audiência na Câmara dos Deputados no início deste mês, o diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reginaldo Prata, disse, que a expectativa é que o Brasil tenha uma vacina contra o zika daqui a cinco anos. Para isso, de acordo com ele, o Ministério tem apoiado o Instituto Butantan e o Biomanguinhos no desenvolvimento do medicamento.

A urgência dos estudos sobre o tema dá-se devido ao surto de Zika no Brasil, que tem sido fortemente relacionado a outro grave problema: transmissão da microcefalia, doença em que o bebê nasce com a cabeça e o cérebro menores que o normal, da mãe para o feto. Dados do final de abril do Ministério da Saúde mostram a notificação de 91.387 casos prováveis de infecção por Zika no País. A chegada do vírus ao Brasil elevou o número de nascimentos de crianças com microcefalia de 147, em 2014, para pelo menos 1.271 casos de outubro do ano passado a 30 de abril deste ano.

Devido à gravidade da transmissão materno-fetal, o doutor Kleber destaca que esta deve ser claramente a linha de pesquisa priorizada. “Sempre que se fala de dinheiro, o voltado à pesquisa é pouco. Mas o governo federal abriu editais aonde ele fez um fast track, ou seja, uma linha de financiamento mais rápida para os pesquisadores que desejam fazer investigação sobre o Zika”, explicou.

Antimalárico pode ser eficaz

Um recente estudo de pesquisadores brasileiros apontou que a substância cloroquina, presente em alguns medicamentos que combatem a malária, pode ser eficaz na blindagem do cérebro de fetos contra o Zika. Os resultados preliminares são bastante promissores: afirmam que a cloroquina protege neurosferas, estruturas celulares que reproduzem o cérebro em formação, em até 95%. O trabalho foi desenvolvido por cientistas do Instituto de Biologia de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa.

Apesar de promissora, no entanto, importante ter claro que ainda são necessárias algumas etapas para se saber o quão eficiente ela pode ser para evitar o desenvolvimento de microcefalia em mulheres infectadas e, se comprovado, qual a melhor estratégia.

Primeiro testes in vivo (humanos ou não), demonstrando redução/ou eliminação da carga viral no sangue e outros possíveis reservatórios. Em seguida, estudos clínicos randomizados (com possíveis adaptações de delineamento) para avaliar a eficácia em prevenir a microcefalia e em que magnitude isto é alcançado. E, depois, estudo da melhor estratégia para seu uso em áreas onde á transmissão ativa, especialmente considerando ala proporção de infecção assintomática.

**Esta reportagem reflete exclusivamente a opinião do entrevistado.**